Um clube quase perfeito
O Benfica é um clube quase perfeito. Tudo corre às mil maravilhas até que, após o arrepiante voo da águia Vitória ao som do hino de Luís Piçarra, o árbitro apita para iniciar o jogo. Se não fossem esses malditos 90 minutos, o Benfica seria um clube perfeito.
Nunca me há-de deixar de surpreender a imensa generosidade dos adeptos que, entusiasmados, lotaram a Luz na última jornada da Liga 2007-08, agarrando-se ao pretexto da despedida de Rui Costa para fazerem uma grande festa – apesar de terem ficado em 4º lugar a 20 pontos do FC Porto.
Não posso deixar de admirar a fé e o espírito “para o ano é que vai ser” com que metade dos meus compatriotas vibra com a precoce pré-época 2009/10, iniciada em Abril nas capas da Bola e do Record, onde desfilam nomes e fotos de eventuais reforços – apesar do Porto ir conquistar o quarto título consecutivo e o Benfica ir voltar a ficar de fora da Champions.
O Benfica ganha poucos títulos no relvado mas é o campeão nacional das receitas neste negócio do futebol onde a emoção goleia sempre a razão.
A TMN fez um acordo com Porto (Plano Dragão) e Benfica (Benfica Telecom) oferecendo condições vantajosas aos sócios destes dois clubes.
A Benfica Telecom vende dez vezes mais minutos que o Plano Dragão, apesar de a desproporção entre os adeptos dos dois clubes estar muito longe de ser de um para dez.
A Repsol fez um acordo simétrico com Porto e Benfica, oferecendo um desconto aos sócios dos dois clubes. Em 2008, vendeu 18 milhões de litros a benfiquistas e quatro milhões de litros a portistas.
Desde que os italianos da Parmalat se deram mal a Norte por patrocinarem as camisolas do Benfica, todas as marcas que se associaram ostensivamente ao futebol (BES e PT) optaram, prudentemente, por investir nos três grandes.
O abandono do BES, fez com que o campo de batalha entre as cervejeiras se estendesse das Queimas das Fitas, restaurantes e prateleiras de supermercados até às camisolas de Porto, Benfica e Sporting.
A Central de Cervejas arriscou associar a Sagres ao Benfica, convencida que obterá um efeito idêntico à Siemens Mobile, que desde que está nas camisolas do Real Madrid quadruplicou as vendas em Castela, sem sofrer estragos de maior na Catalunha. A Unicer contra-atacou ficando com Porto e Sporting.
Esta movimentação faz com que o principal motivo de suspense para a próxima época seja o de apurar se os benfiquistas vão deixar de beber Super Bock, já que tudo indica que os dragões façam o seu segundo penta – e que o grande momento de emoção nos jogos na Luz continue a ser quando o Mantorras se levanta do banco, despe o fato de treino e começa a aquecer.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias