Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Este país está cheio de ladrões de tempo

Em toda a minha vida, o único bem palpável que roubei foram livros. Parei com essa actividade ilícita algures em 1973, depois de ter sido apanhado a sair de uma livraria com um livro sobre os Fedayin entalado no sovaco e dissimilado (pelo visto mal) no interior de um casaco aos quadrados igual ao usado pelos pescadores, que estava muito em voga à época.

No essencial, roubava livros com a louvável intenção de sustentar o programa básico de formação política dos colegas de liceu que tencionava recrutar para os Círculos Vermelhos (estruturas estudantis semi-legais dirigidas pela trotskista LCI), que contemplava a Introdução à Teoria Económica Marxista, de Ernest Mandel,  Estado (um ensaio do Lenine e outro do Trotsky), e Combate Sexual da Juventude, de Wilhelm Reich – a  leitura era aconselhada por esta ordem, que podia ser invertida se a potencial recruta fosse uma tipa gira.

A recordação de um pecadilho antigo vem a propósito da afirmação, produzida por Ferraz da Costa, de que em Portugal “se rouba muito” e “o país não tem dimensão para se roubar tanto”.

O presidente do Fórum da Competitividade emergiu da semi-clandestinidade em que mergulhou quando abandonou a CIP, em 2001, para denunciar a excessiva dimensão da roubalheira, aproveitando a oportunidade (uma entrevista ao Expresso) para fazer um diagnóstico severo do estado de saúde mental de Manuel Pinho (“toda a gente sabe que ele é maluco”).

Ferraz da Costa é muito capaz de ter razão quando aponta o roubo como uma das causas da nossa aflitiva perda de competitividade. Entre 2005 e 2009, caímos oito posições, de 9º para 17º lugar, na UE 27, no ranking da Competitividade Global do Fórum Económico Mundial.

Questionado sobre quem rouba, Ferraz deu uma resposta inteligente: “Todos os que podem”. Se a apropriação indevida de dinheiros e bens está limitada a quem tem poder para o fazer (e a sua punição depende de uma Justiça gravemente doente), já o roubo de tempo está ao alcance de toda  gente e temos de o combater, pois, como nos avisa sabiamente Jim Rohn, um especialista em motivação, “o tempo é mais valioso do que o dinheiro, porque podemos ganhar mais dinheiro, mas não podemos ganhar mais tempo”.

Para sermos mais competitivos, temos de aprender a gerir o tempo, saber privilegiar o prioritário ao urgente, reeducar os ladrões de tempo que não sabem trabalhar, promover a pontualidade, castigar os atrasados que nos fazem perder tempo, e expurgar as empresas dos abusadores de tempo que as infestam.

Chegado ao fim, espero que consideram bem empregue o tempo investido na leitura desta crónica. A última coisa que eu queria era roubar-vos tempo.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

1 comentário

Comentar:

Mais

Comentar via SAPO Blogs

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2012
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2011
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2010
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2009
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2008
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2007
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub