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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Susana Fonseca

Foto Gonçalo Villaverde

É natural que uma miúda que cresceu no Seixal, num quarto com vista para as chaminés da Siderurgia e do Barreiro, se torne numa militante ambientalista. Susana, 35 anos, leva o assunto muito a sério. Não depila as axilas nem se adorna com brincos ou anéis, dispensa maquilhagem e não usa secador de cabelo. Anda quase sempre de transportes públicos ou à boleia. Fecha a torneira enquanto se ensaboa ou escova os dentes, e guarda num balde a água que sai do duche antes de ficar morna; “Sempre é uma descarga a menos que faço no autoclismo”, explica.

“Compro o mínimo de roupa possível, prolongo ao máximo a vida de todos objectos, como o esfregão da louça, não deixo nada em stand by, só uso lâmpadas energeticamente eficientes e mesmo assim a minha pegada ecológica é excessiva. Se toda a gente tivesse o mesmo padrão de consumo, os recursos do planeta não chegavam”, afirma a frugal Susana, que apenas é desregrada no consumo de fruta – é capaz de comer, de uma vez só, um kg de cerejas ou meia melancia.

Almoçamos numa esplanada, no Seixal, junto à marginal do Tejo onde ela corre três vezes por semana com o marido, um engenheiro que trabalha na área informática. A banda sonora da refeição foi 100% portuguesa, mas variada - desde Paulo de Carvalho até ao inesquecível “Não venhas tarde”, de Carlos Ramos, passando pela “Balada da Rita”, de Sérgio Godinho (“aviso-te, a vida é dura, põe-te em guarda”).

Susana serviu-se só uma vez, apenas deixou ficar no prato dois pequenos pedaços de camarão (não gosta de marisco) que enriqueciam a feijoada (que partilhamos) e ficou contrariada por a água (natural) vir numa garrafa de plástico. “Em vez de embalagens reutilizáveis, aposta-se reciclagem, que desculpabiliza as pessoas, mas consome mais recursos”, comenta.

“Consumimos muito, não temos coragem de usar transportes públicos e comemos proteínas a mais. Devíamos comer menos e de melhor”, afirma a presidente da Quercus, que não bebe café e prefere sempre os produtos nacionais, por razões ecológicas.

Licenciada em Sociologia, calcula ter pronta em Maio a tese de doutoramento, sobre eficiência energética, baseada no trabalho das Eco-Brigadas da Quercus que vão gratuitamente às casas das pessoas e, após uma auditoria, aconselham medidas concretas para reduzir a conta da energia. “Temos dificuldade em encontrar pessoas que queiram poupar”, ironiza, com alguma amargura, a propósito do serviço não ser muito solicitado.

Na última Primavera, a vida dela levou uma volta. Foi mãe pela primeira vez , uma semana depois de ser eleita presidente da Quercus, que tem 18 núcleos regionais, 20 profissionais e 14 mil sócios, dos quais apenas uma minoria (quatro mil) paga a quota de 20 euros/ano e contribuiu assim para o orçamento anual da associação ambientalista, que ronda o milhão de euros.

Susana é uma mãe muito económica, logo a começar pelo curto nome que deu à filha (Ana) e a acabar no facto da bebé usar roupas, cadeira, alcofa e carrinho emprestados, passando pelo uso de fraldas de pano e do aproveitamento para descargas da água de lavar os biberões, que são (obviamente) de vidro. Provavelmente, Ana vai ser filha única. “Promover a natalidade é olharmos para o umbigo. Já há gente a mais no planeta”, avisa a mãe dela.

Susana não acredita que a crise tenha o efeito regenerador de corrigir os excessos: “A crise é muito suave para mudar os hábitos das pessoas. São precisas mudanças radicais. Não deixa de ser irónico que numa sociedade onde se consome desvairadamente, a boa notícia que anuncia o fim da crise seja a subida do indicador do consumo das famílias”.

Filha de um trabalhador da construção civil e de uma doméstica que andou nas limpezas, cedo começou a poupar, não só por necessidade, mas também por militância. Quando puseram um caixote, junto à sala dos professores, para recolher papel para reciclar, ela até as embalagens do açúcar e farinha levava de casa, apesar de ter apenas 15 anos e demorar 20 minutos a pé a chegar à escola do Fogueteiro.

Susana não mudou. À despedida, junto ao cais do Seixal, reparei que tinha trazido a garrafa de plástico da água – para a reutilizar.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

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O Bispo

Praça da República 2, Seixal

2 águas 0,5 l … 2,00 euros

1 feijoada de chocos… 6,00

1 café .. 0,65

Total … 8,65 euros

3 comentários

  • Sem imagem de perfil

    ZéPité "NNB" 13.09.2009

    Oh Fabinho Garila.

    Só Podias ser Paneleiro e Gaysola.

    Tens razão! Somos mesmo Racistas com os Paneleiros que aqui aterram da Capital com Mais Corruptos por metro quadrado do Mundo.
  • Sem imagem de perfil

    Anónimo 14.09.2009



    Moço, tu sofres de psicastenia em último grau.
    Sei que não tem cura, mas sempre evita que te drogues com a água da sanita.
    Trata-te!
    Faz-te internar, antes que fechem o Júlio de Matos ou o Magalhães Lemos.
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