Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Marta Crawford

A professora, de 48 anos e educação religiosa, nunca tinha tido um orgasmo. A sua experiência sexual pouco satisfatória resumia-se ao ano em que esteve casada. Após dez anos de abstinência, ouviu Marta preconizar o recurso à masturbação. Seguiu o conselho e desfrutou o seu primeiro e maravilhoso orgasmo.

A sexóloga chorou quando ouviu a descrição minuciosa do enorme prazer sentido pela professora, que marcou uma consulta só lhe agradecer.

Licenciada em Psicologia, onde era conhecida pelo apelido Valente, a primeira grande paixão de Marta foi o teatro (onde usava o apelido Tereno) e conheceu o marido Filipe, que lhe deu o apelido Crawford e dois filhos, a Bárbara, 17 anos, e o João, 13, uma família acrescentada há três anos com o Jack, um grande cão cinzento de raça Weimaraner, que ela reconhece ser ainda virgem e não levar uma vida sexual muito saudável.

Iniciou-se nos palcos na Barraca, com uma adaptação do Baile, de Ettore Scola, encenada por Helder Costa. O mais provável é que hoje fosse conhecida da telenovela das nove, e não dos programas sobre sexo apresentados em horário, se não tivesse sido vitima de uma daquelas partidas de mau gosto que a vida às vezes nos prega.  Deixou de ser actriz porque uma pessoa a quem era muito chegada morreu na véspera de ela estrear uma comédia para crianças.

Garante que a saída do anonimato, induzida pelos programas que fez na televisão, não lhe mudou muito a vida. “Não se metem muito comigo. Nunca tive uma experiência desagradável”, diz, apesar de reconhecer, que de vez em quando, a abordam na rua com perguntas, como aquele senhor na casa das 70 anos, que devia ser um pouco surdo pois falava aos berros, e a interpelou quando ela andava às compras na Massimo Dutti do Vasco da Gama, para saber se ela estava de acordo com o tratamento que o médico lhe prescrevera para o seu problema de disfunção eréctil.

Ser míope ajuda-a a preservar a privacidade. “Se não me maquilhar e estiver de óculos ninguém me conhece”, diz. Na verdade, não a reconhecemos à primeira quando ela chegou à porta do Aya com os seus óculos de massa Ralph Lauren, que funcionam como máscara.

Escolheu um combinado de sushi e sashimi, acompanhado de saké frio (espalhou logo o sal fino pelas bordas da caixa), e sepultado por um gelado de chá. Marta nunca foi ao Japão, mas a filha Bárbara viveu lá um ano, a norte de Tóquio, no âmbito de um programa de intercâmbio de jovens ASF. Uma experiência dura, que a mãe resumiu e funcionou como desbloqueador de conversa, no início do almoço, aqui e ali agitado pela comemoração ruidosa de um aniversário por um grupo de amigos de outra Bárbara (a Guimarães) no compartimento ao lado.

Marta começou a dar consultas de sexologia a transexuais, no Júlio de Matos, ainda durante o estágio do ISPA,  pelo que está numa belíssima posição para avaliar a evolução recente do estado sexual da Nação.

Ao longo dos últimos 15 anos, uma das coisas que mudou foi a atitude masculina em face da falta de desejo. “Há muito mais homens a pedirem ajuda. Dantes escondia-se o problema. Os homens achavam que era uma vergonha não estarem sempre prontos a ter uma erecção. A disfunção eréctil deixou de ser uma vergonha e passou a ser encarada como uma doença”.

Outro dos problemas cada vez mais frequentes na sua consulta é o vaginismo, doença em que, por mais excitada que a mulher esteja, a vagina fecha-se de tal modo que é impossível penetrá-la. Na origem desta fobia está um medo, qualquer-     de engravidar, de apanhar uma doença, de sentir dor – que a ela tem de identificar para poder tratar. Marta não se cansa de dizer que é um mito achar que o sexo passa pelo penetração, mas quando o casal procura engravidar o vaginismo é um sério problema.

As novas formas de infidelidade, como uma relação virtual privilegiada entre duas pessoas, que se masturbam enquanto se excitam à distância, foi outras das grandes alterações, bem como o crescimento do fenómeno de homens viciados na prostituição de luxo. “É muito aliciante para homens sem problemas de dinheiro recorrerem a raparigas lindíssimos, com corpos de modelo, poderem variar e sentirem-se à vontade para verbalizar os seus fetiches”, refere.

A sua maior preocupação é a falta de informação. Por incrível que pareça ainda há mulheres que lhe  perguntam se correm o risco de engravidar por se terem sentado num assento que estava quente  e tinha sido usado por um homem.

As mulheres que se divorciam na casa dos 40 anos, que sempre tiveram uma relação de confiança com um só parceiro, são o grupo com maior progressão da Sida, porque não estão habituadas a usar preservativo e começam a fazer sexo sem estarem protegidas.

“Os miúdos deviam brincar com preservativos desde a 4º classe. Para se habituarem a usá-los e encará-los como uma segunda pele”, preconiza Marta, que defende a distribuição aos pré-adolescentes de preservativos de dimensão adequado ao tamanho do seu pénis.

O normal também mudou  Quando ela começou a dar consultas, o sado-masoquismo estava indexado na lista de comportamentos desviantes. “Hoje normal é tudo o que os parceiros envolvidos permitam”, remata Marta, que aguentou com boa cara estar quase três horas a satisfazer-nos a curiosidade durante um almoço XL que custou praticamente o mesmo que ela leva por uma consulta de uma hora (95 euros).

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

Menu

Aya

R. Campolide 351, Twin Towers, Lisboa

Ponte sushi sashimi …60,00 euros

Sake especial (masusake) …. 19,50

Maccha ice … 4,50

Cream anmitsu … 6,00

3 cafés … 3,60

Total … 93,60

47 comentários

Comentar post

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2012
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2011
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2010
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2009
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2008
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2007
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub