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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Cuidar dos mortos, enterrar os vivos

Gosto muito dos filmes em que entra o John Cusack. O primeiro que vi foi Grosse Point Blank, uma espectacular comédia de corrosivo humor negro, em que ele faz de Martin Blank, um assassino profissional a precisar de Prozac, que, a pretexto de um reunião do curso, regressa a Grosse Point, pequena cidade do Michigan. 

Nesta fita é tudo bom, desde o trocadilho do título (point blank quer dizer à queima roupa) até à Minnie Driver (no papel de ex-namorada e DJ da rádio local), passando pela banda sonora, que abre com o arrasador “I can see clearly now”, de Johnny Cash, inclui Brahms, Bowie e The Cure, e está recheada de canções escritas por Joe Strummer, dos Clash.

Como sou tão fanático pelos livros do Nick Hornby como ele é pelo Arsenal, não perdi a adaptação ao cinema de Alta Fidelidade, feita por Stephen Frears, com o Cusack na pele de Rib Gordon, dono de uma loja de música que só vende discos de vinil e está à beira da falência, um azarado aos amores viciado em fazer listas de cinco mais qualquer coisa.

Eu também tenho a mania das listas e não tenho dúvida nenhuma de que Being John Malkovich, de Spike Jonze, faz parte do meu top ten de filmes favoritos. No delirante argumento de Charlie Kaufman, Craig Schwartz (Cusack), um desempregado que vai trabalhar como arquivista no sétimo andar e meio de um prédio (onde todos têm de andar curvados) e descobre uma porta de acesso a uma estadia de 15 minutos dentro da cabeça de John Malkovich. Um filme que nem sequer precisava da Catherine Keener para ser uma verdadeira moca!

Apesar de gostar muito do John Cusack, ainda não decidi se vou ou não ver o 2012, em que ele faz de escritor divorciado mal sucedido (ganha a vida como motorista de limusine) que se vê na contingência de ter evitar o fim do mundo.

Quem ouve Medina Carreira ou lê João César das Neves não precisa de ir ver o filme de James Cameron para se sentir a bordo do Titanic quando faltavam 20 minutos para a meia noite de 14 de Abril de 1912 e o paquete chocou com um iceberg a 640 km da Terra Nova.

Quem lê nos jornais que o desemprego ultrapassou a barreira dos 10% (e vai continuar a subir) e os défices estão descontrolados não precisa de ir ao cinema para ver um filme catástrofe, porque já está a viver um.

Quando em 1775, Lisboa foi destruída pelo terramoto, o Marquês do Pombal aproveitou a catástrofe para lançar as bases de uma cidade moderna e próspera. É desta visão estratégica que precisamos. E, para começar, temos de deixar de cuidar dos mortos e enterrar os vivos. Porque parar de escavar é a regra número um para quem está metido num buraco e quer sair dele.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

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