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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

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A despedida de casado do Manuel Serrão

Em 1989, quando o meu amigo Manuel Serrão celebrou o funeral do seu primeiro e breve casamento com uma festa de despedida de casado, estava longe de imaginar que era precursor de uma tendência que desponta com pujança nos mercados emissores da moda em termos de comportamento social.

Como os gay estão longe de compensar a brutal queda nos matrimónios hetero, as lojas que vivem das listas de casamento entraram em alerta vermelho e fazem tudo para apoiar a institucionalização das festas de despedida de casados. A ideia têm lógica. Quando nos divorciamos, ficamos reduzidos a metade dos nossos bens - pelo menos, porque, em boa parte dos casos, a portagem é bem mais alta e evadimo-nos apenas com a roupa que temos no corpo, ficando por isso carentes de pratos, copos, garfos, toalhas, cadeiras e chaleiras.

Não vivemos num tempo em que seja possível continuar a prosperar repetindo as receitas que deram resultado no passado. É preciso inovar, não ter medo de arriscar, pois é entre disparates equívocos ou reflexões erradas que sorrateiramente surgem as grandes ideias e projectos.

Olho para o Orçamento e vejo boa política (a capacidade do primeiro ministro em ganhar a “abstenção construtiva” de Portas e dar “boas indicações” a Manuela) mas fraco arrojo. Ficamos com a incómoda sensação de dejà vu. É mais do mesmo.

Taxar em 35% os pornográficos bónus dos banqueiros é uma cópia tímida de uma invenção de Gordon Brown, que fixou a fasquia em 50% e foi imitado por Sarkozy. No país em que, segundo o Banco Mundial, os prémios mais pesam na factura salarial das empresas (32,2% contra 11,3% da média dos 12 países estudados) Sócrates não devia ter-se quedado pela banca no agravamento da carga fiscal sobre remunerações extraordinárias que escapam à base tributável da Segurança Social.

Congelar os salários dos funcionários públicos, que o ano passado tiveram um ganho real do poder de compra próximo dos 4%, é uma medida envergonhada. Bravo foi o primeiro ministro irlandês ao reduzir o seu salário em 20% antes de cortar em 10% os vencimentos dos servidores do Estado.

Os que têm emprego devem sacrificar-se para amaciar a vida dos desempregados. E os que ganham mais têm a obrigação de ser solidários com os mais pobres e os pensionistas. Não vejo razão para não se ter ousado criar um novo escalão de IRS para rendimentos superiores a 100 mil euros.

Olho para o Orçamento, vejo que as confrangedoras faltas de ambição e imaginação se reflectem na redução microscópica do défice, e vêm-me à cabeça uma frase do velho Keynes: “A dificuldade reside não nas ideias novas mas em escapar das velhas”.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

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