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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Afonso Camões

Desde miúdo, entre a infância e a adolescência atravessadas em Castelo Branco, que se revelou jeitoso de pés e mãos. A habilidade com os pés mostrou-a envergando a camisola preta do Desportivo e a vermelha do Benfica local. A queda para a escrita foi precocemente detectada nos escritos publicados na Reconquista e no Jornal do Fundão, quando ainda era menor de idade, se bem que já maior de juízo.

Podia ter feito carreira na bola. Mede 1m82 e já era espigado quando debutou nos juvenis, o que o qualificava para defesa central. Demorou-se apenas uma época no Desportivo, de onde se transferiu para o Benfica de Castelo Branco, onde foi sempre capitão de equipa e campeão distrital, disputando por isso participando por com U. Tomar, Académica e U. Leiria o apuramento da Zona Centro para a fase final dos nacionais.

O ponto mas alto das quatro épocas, em que jogou futebol, foi ter jogado, ainda com idade júnior, pelas primeiras do Benfica de Castelo Branco contra o Académico de Viseu, em que era jogador-treinador Cavém, velha glória do Benfica bicampeão europeu, um cromo que ele tinha virado vezes sem conta quando era puto, no recreio do liceu.

Um dirigente do Desportivo, olheiro por conta dos grandes do futebol, acenou-lhe com uns treinos na Luz e Alvalade, a ver se ficava, mas o pai não esteve pelos ajustes, cortando assim cerce as asas à carreira de futebolista de Afonso Barata Camões, a que o 25 de Abril pôs ponto final, quando outros valores mais altos se levantaram.

Era moço quando ganhou os primeiros dinheiros em biscates arranjados pelo pai, João Barata Camões, que tinhas umas hortas e teve a carpintaria como ofício principal até que o Correio Mor o nomeou, em 1963, carteiro provincial de 3ª classe. Nas férias grandes, Afonso carregava aparas para lenha na Serração Anjo da Guarda e ajudava o pai no giro rural, alugando por dois tostões o serviço de leitura de aerogramas e por cinco tostões o de escrever as cartas de resposta.

Repetiu, em Castelo Branco, o percurso escolar percorrido, em gerações anteriores por Ramalho Eanes e Marçal Brilo (Primário nº 7 e Liceu Nun’Álvares), repartindo o tempo pelos estudos, futebol, música e militância católica, sendo que a estas duas actividades ex-curriculares não foi estranha a influência de um professor progressista de Religião e Moral, que era amigo de Fanhais e nas aulas falava dos problemas da juventude, da sexualidade e das guerras em África e no Vietname. Tocou bandola na Orquestra Típica Albicastrense. Mais tarde aprendeu por ele viola – e actualmente anda com um curso de concertina na mala do seu Mercedes.

Aos 16 anos, em 1972, já a alfabetizar adultos e membro da Equipa Nacional da JEC (Juventude Estudantil Católica), ao lado de Jorge Wemans, Manuel Pinto e Joaquim Azevedo. Foi esta a sua porta entrada para a política activa. Em 1973 colou cartazes e fez a campanha eleitoral pela CDE em Castelo Branco, e no ano seguinte, é um dos militantes da primeira hora do MES (Movimento de Esquerda Socialista).

Dirigente nacional do estudantes do MES, foi destacado para o Porto, onde se inscreveu em Economia, onde a falta de bases a Matemática o impossibilitou de brilhar tão alto nos estudos como no movimento estudantil. A lista para direcção de Estudantes da FEP por ele liderada derrotou sempre a da direita, onde sobressaia Rui Rio, que só logrou ser eleito quando Afonso trocou a faculdade pelo jornalismo.

Uma entrevista chegou para Freitas Cruz o admitir na Redacção de O Primeiro de Janeiro, em Janeiro de 1979, onde se destacou logo no ano seguinte, ao ganhar o prémio internacional de jornalismo atribuído pela Associação de Imprensa Mexicana com uma revisitação à nossa história trágico-marítima – uma reportagem sobre uma série de naufrágios ocorridos num curto espaço de tempo na costa do Porto.

Em 1982, tornou-se um dos heróis da luta pela elevação ao concelho de Vizela, quando a RTP filmou a GNR a rasgar-lhe o casaco e espancá-lo quando ele estava a cobrir o boicote dos vizelenses às eleições. O povo de Vizela deu-lhe um casaco novo e baptizou rua da Liberdade de Imprensa  a artéria em que foi sovado.

No ano seguinte, acompanhou Marcelo Rebelo de Sousa e Victor Cunha Rego na fundação do Semanário, onde trabalhou um ano no Porto, antes de se transferir para Lisboa, onde se distinguiu na secção Política pela sua perspicácia, demonstrada quando, em 1985, publicou pela primeira vez nos jornais as caras de Sócrates e Vara, que ilustravam um artigo intitulado “Duas jovens promessas do novo PS” .

Regressou a Castelo Branco, em 1988, onde esteve durante 126 semanas, fundando um jornal regional, a Gazeta do Interior, acto primeiro do sonho de criar uma rede nacional de jornais locais, que foi interrompido pelo convite de Rocha Vieira para ser director de Comunicação do Governo de Macau, cargo que ocupou de 1991 até que a 19 de Dezembro de 1999 o general dobrou a bandeira nacional e entregou o território aos chineses. Dos oito anos no Oriente trouxe, entre outras coisas, conhecimentos, a Medalha de Mérito Profissional de Macau, um curso de Gestão de Crises feito em Singapura, e uma poupança que lhe permitiu adquirir prédio rústicos e urbanos em Castelo Branco.

De volta à Europa, esteve três anos, por conta do grupo Lena, a construir a rede de jornais regionais da Sojormedia, enquanto fazia uma pós graduação em Jornalismo na Moderna. Convidado por Balsemão, lançou a Rede Expresso de jornais regionais, até que, em 2005, Joaquim Oliveira o contratou para administrador do seu grupo de media, que acabara de engordar com a compra da Lusomundo (JN, DN, TSF).

“Este é o segundo pin de ouro da Controlinveste. O primeiro sou eu que o tenho. Para conseguirem receber um vocês vão ter de fazer para o merecer, como o Afonso”, disse Joaquim Oliveira, no jantar, com todos os directores de primeira linha do grupo, que ofereceu a Camões para assinalar a sua partida para a presidência da Lusa, cargo que ocupa há exactamente um ano.

 

Afonso tem uma casa em Camões

O Camões que ele leva no apelido não tem a ver com o Luís Vaz, mas sim com um tetravô, chamado Manuel, que era de Camões e quando casou foi viver para outra freguesia passou a ser tratado por o Manuel de Camões, pois havia mais Maneis. E a coisa pegou. Afonso regressou às origens e comprou uma casa em Camões, com alguns hectares à volta, atravessada por um ribeiro, onde mantém um rebanho de nove ovelhas e acaba de plantar 12 marmeleiros, três freixos, dois liquidambares e três plátanos. Ao todo, tem 18 hectares de terra com oliveiras que lhe dão 135 litros de azeite/ano. Com dois filhos, Ana João, 22 anos, estudante de Guionismo, e Mário, 20 anos, graduado pelo Colégio Militar e estudante de Gestão, Afonso é casado com Margarida, uma professora que está a trabalhar no Instituto Camões – como dizia a outra, há coincidências.

 

Jorge Fiel

Esta matéria foi publicada no Briefing 8, de Abril 2010

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