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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Catarina Santos

 

Catarina Santos, 28 anos, é uma das quatro advogadas do escritório no Porto da sociedade João Nabais & Associadas. Uma rapariga pacata que vive com os pais em Santo Tirso, conduz um Smart e emergiu do anonimato ao ganhar a etapa de Aranjuez do Spanish Poker Tour. No poker, onde usa o nick de Katrina, aprendeu a ler os adversários (“Um movimento dos olhos pode ser revelador e susceptível de ser interpretado. Um ligeiro tremor na camisa indicia um aumento da pulsação, traído pela jugular”) e a gerir as emoções. “Aprendi a controlar as minhas emoções. O poker fez de mim uma melhor advogada. Quer no tribunal quer na mesa de jogo consigo não exteriorizar quando estou forte e não entrar em pânico quando estou fraca”, diz

 

Um ás de paus e um rei de copas chegaram para que Catarina deixasse de ser apenas mais uma das 14 mil advogadas portuguesas. Foi a 9 de Abril, na etapa de Aranjuez (pequena cidade ao sul de Madrid celebrizado pelo Concerto de Aranjuez, composto por Joaquin Rodrigo), do Spanish Poker Tour (SPT). Mais de 160 jogadores foram ficando pela caminho, despojados das suas caves, ao longo do fim de semana. Na mesa principal, só restavam os dois finalistas: ela e o holandês Steven Zadelhoff.

Com um ás e o sete de espadas de jogo de mão, Steven não hesitou e fez all in - apostou tudo, transferindo para o centro da mesa todas as fichas que tinha à sua frente. O ás de espadas era uma carta animadora e ele precisava de arriscar, por estar em desvantagem, uma vez que a sua cave (à volta de 400 mil) era muito inferior à que Catarina tinha conseguido acumular (superior a dois milhões).

O raciocínio do holandês até não foi estúpido. O problema é que ele não podia adivinhar que a portuguesa também tinha um ás na mão e em muito melhor companhia  - o imponente rei de copas. Ela acompanhou a aposta. As cartas abertas na mesa (dez, nove, dama, nove, oito)  não foram aquelas por que rezava Steven, nem o milagre de três paus que lhe permitissem fazer cor, nem um sete dobrado. Catarina ganhou e pode abandonar a poker face, cantada por Lady Gaga, deixando finalmente que a sua cara reflectisse as suas emoções e estado espírito.

Ganhou um troféu, um blusão da Everest (a sua patrocinadora no mundo do poker), uma data de atenção nos Media e 45 mil euros em notas emitidas pelo Banco Central Europeu, dinheiro a sério, ao contrário do que acontece com as fichas que os participantes recebem, em troca da inscrição, à chegada a um torneio de poker, em que não há correspondência entre o valor facial e o real, tal como acontece com o dinheiro do Monopólio.

Catarina Santos, 28 anos, guarda o troféu no gabinete onde trabalha, sentada a secretária com tampo de vidro impecavelmente arrumada, rodeada por paredes brancas, onde estão dependuradas duas grandes fotografias a preto e  branco (uma de arranha-céus de Chicago e outra de um canal de Amesterdão, com um bicicleta colorida de vermelho em primeiro plano), e um candeeiro em forma de fogo de artificio, exuberante excepção numa decoração minimalista.

Os 45 mil euros, esses estão guardados no banco, a render e a fazerem companhia ao dinheiro dos outros prémios ganhos no poker, como os nove mil euros correspondentes a um 5º lugar numa anterior etapa do SPT. “O que é que eu faço ao dinheiro? Poupo-o!”, responde.

É, sem dúvida, uma rapariga poupada. Filha única, continua a viver em casa dos pais, um bancário reformado e uma funcionária judicial. O dia passa-o entre os tribunais e o seu gabinete, que fica numa casa pintada a azul bebé, da avenida Afonso Henriques, em Matosinhos, partilhada com as três outras advogadas dobraço portuense da João Nabais & Associados. No final do dia, mete-se no seu Smart forfour e faz a A3 até Sato Tirso, onde passa a noite em casa – janta com os pais e depois passa religiosamente três horas em frente ao portátil a jogar poker online.  A maioria dos fins de semana passa-os em hotéis, a jogar em torneios ao vivo. Catarina tem o relógio acertado pela nova hora da frugalidade.

O poker, recentemente considerado pelo Comité Olímpico Internacional como um desporto mental, a par do xadrez e do bridge, não foi a sua primeira escolha. Na adolescência praticou vários desportos. Começou por treinar a flexibilidade na ginástica rítmica, no Ginásio Clube de Santo Tirso. Passou pelo atletismo, onde as suas características de sprinter levaram o treinador a apostar nela para as provas de velocidade. Por último, jogou ténis, modalidade em que a força é um factor não negligenciável.

“Tinha jeito para o ténis, fazia umas esquerdas cruzadas engraçadas, mas não chegava a ser uma matadora. Quando se pôs a hipótese de me tornar federada fui estudar para Coimbra e deixei de jogar. Se calhar hoje já não apanho uma bola”, conta.

Ir para Direito não correspondeu exactamente à concretização de uma obsessão. Desportista como sempre foi, encarou seriamente a hipótese de cursar Educação Física. Como era boa em Humanidades, chegou a pôr em cima da mesa a possibilidade de fazer Jornalismo. E ainda teve um fraco pela Arquitectura. No meio de toda esta indecisão, em que não tinha a certeza absoluta do que queria fazer, quando chegou a hora da verdade, no 12º ano, acabou por dar ouvidos à voz do padrinho que a aconselhava a ir para Direito, argumentando tratar-se de um curso bastante generalista, que poderia dar bases e abrir portas para diversas profissões.

Foi para Direito animada pelo espírito “vamos andando e vamos vendo” . Como o curso do Porto ainda estava muito verde, inscreveu-se em Coimbra, onde passava a semana num T1 alugado. Só durante a Queima é que não se metia se metia no comboio para ir a casa aos fins de semana. Uma vida pacata, em que deu razão ao fado que diz que Coimbra tem mais encanto na hora da despedida. “Só quando acabei o curso, no ano 2000, é que senti saudades de Coimbra”, confessa.

Acabado o curso, durante o qual se foi gradualmente apaixonando pelo Direito, fez uma pós graduação em Fiscal na Católica e recolheu-se a Santo Tirso, onde passou uns bons quatro meses à procura de um sítio para estágio, até que começou a acompanhar com telefonemas “Então como é?” o envio dos curriculuns – e do escritório de João Nabais veio o convite para uma entrevista com o fundador da sociedade. Estávamos em Dezembro de 2005 e Catarina fez o estágio e ficou por lá.

O primeiro caso, em que defendeu um arguido acusado de tráfico de estupefacientes, acabou por correr “menos mal” – a pena não foi tão elevada como podia ter sido e ainda baixou com o recurso. Apesar da especialização em Fiscal, ela faz mais Penal e Administrativo mas isso não a incomoda, pois anda satisfeita com a vida que tem.

Catarina nunca tinha sido uma jogadora de cartas. Quando muito, num ou outro fim de semana, era capaz de jogar à sueca com os amigos no OK Bar, o café de Santo Tirso onde paravam. Até que um dos amigos trouxe para a mesa a novidade do poker. Começaram a jogar, a cafés e rebuçados, e entusiasmaram-se com o novo jogo, ao ponto de não demorarem muito até que, há coisa de três anos começarem a entrar em torneios online e logo foi público e notório que Catarina era dotada para o poker.

Em 2007 começou deixou de jogar apenas online e começou a participar em torneios ao vivo, com tão bons resultados a Everest decidiu patrociná-la, poupando-lhes despesas com viagens e inscrições, uma aposta que a vitória em Aranjuez provou ser acertada.

A sorte não é, de acordo com Catarina, um factor que pese decisivamente no poker. “Ao longo dos anos, nós todos vamos acabar por receber as mesmas cartas”, explica. O cálculo das probabilidades já é importante. “Os adversários procuram disfarçar as cartas. Nós temos de tentar perceber qual é a mão dele através das suas apostas e reacções”.

A psicologia é fundamental para o sucesso desta tentativa permanente de ler o jogo e reacções do adversário, que implica conhecer-lhes os hábitos e estudar os montantes que aposta quando está forte e quando está fraco. “Há momentos em que é muito difícil disfarçar as emoções. Um movimento dos olhas pode ser revelador e susceptível de ser interpretado. Um ligeiro tremor na camisa indicia um aumento da pulsação, traído pela jugular”, diz.

Para disfarçarem as emoções, muitos jogadores põem óculos escuros e/ou chapéus. Catarina não usa qualquer desses recursos e joga sempre de cara descoberta. Para se distrair, brinca com as fichas e põe os phones para ouvir a dieta musical variada que tem no iPod: REM, Pearl Jam, Jorge Palma, Gotham Project, Mafalda Veiga, Counting Crows, etc

Catarina aprecia jogadores como Phil Ivey ou Patrick Antonius, que cultivam o low profile: “Não são exuberantes. “O mundo pode estar a ruir, que eles continuam impassíveis. Não abusam da matemática. Sabem ler os outros e são intuitivos”.

“O poker é essencialmente sobre a gestão de emoções. Ao longo dos quatro anos em que jogo, aprendi a controlar as minhas emoções o que fez de mim uma melhor advogada. Quer no tribunal, quer na mesa de jogo, consigo não exteriorizar quando estou forte e não entrar em pânico quando estou fraca”, conclui Catarina, que apesar de ter adoptado o nick Katrina para os jogos online, está longe de ser um furacão. É uma jogadora concentrada e cuidadosa, que tem dois objectivos: evitar a todo o custo ficar broke e jogar torneios cada vez maiores, talvez regressando a Las Vegas (onde esteve uma dúzia de dias, no ano passado, a jogar no Rio) para jogar no main event das World Series. Se calhar Queen of Hearts (alcunha que recebeu após ter feito duas cores de copas num curto espaço de tempo)  era-lhe mais apropriado para nick que o nome do furacão que destruiu Nova Orleães.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada em O Jogo

 

2 comentários

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    Anónimo 19.05.2010

    Trambolho carunchoso: (sim, eu sei que és madeirense)

    Os NNCalhaus são uns santinhos, dizem que assassinaram um adepto do Sporting em plena final da Taça de Portugal, é mentira.

    Dizem que queimaram um autocarro do FCP em 2009 em lisboa, é mentira.

    Dizem que espancaram quase até a morte um adepto do FCP, quando este estava sozinho, e de seguida o meteram dentro do carro, inanimado, com uma tocha incendiária junto dele, é mentira.

    Dizem que foram apanhados pela judite com grandes quantidades de cocaina, armas de calibre proibido, munições e bilhetes falsos (e o orelhas sabia), e que um grande numero dessa associação criminosa, está referenciada pelo tráfico de armas e coca..... é mentira.

    Dizem que atacam com grande violência, adeptos de outras equipas, crianças e senhoras inclusivé, e que foram os pioneiros na arte soberba do apedrejamento de viaturas oficiais do FCP, também é mentira.....

    É tudo mentira, são uns meninos exemplares, basta ver o exemplo dado por um tal Pragal Cu Lasso, na CalhauTV, onde este, que até já foi inspector da PJ (gostava de saber pk já não o é) incita à violência, chegando a apelar a que se pegue em armas contra os adeptos do FCP.


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