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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bernardino Meireles

Leão, Portugal, Produtos Estrela (PE), Siul são algumas das históricas marcas portuguesas de fogões que foram parar ao cemitério. Com turcos e brasileiros a tomarem conta do mercado do preço e a imagem pouco sexy do Made in Portugal, não é nada fácil sobreviver em Portugal neste negócio. Que o diga Pinto da Costa, muito menos bem sucedido a vender fogões do que a gerir o FC Porto.

A Meireles, que faz 80 anos, é única sobrevivente da enclítica geração de fabricantes fogões. Os segredos desta longevidade foram o tema da conversa, à volta de um polvo à lagareiro  (cozinhado num forno Meireles), com um neto do  fundador da empresa.

Bernardino Meireles, 54 anos, presidente da administração, escolheu almoçarmos no Líder, nas Antas, e hesitou entre o sável e o polvo numa refeição regada por um tinto do Douro que ajudou a relembrar histórias dos tempos do liceu (ambos frequentamos o Alexandre Herculano, no mesmo ano, mas em turmas diferentes).

“A mão de obra pesa 16% no custo final do fogão”, conta Bernardino, justificando porque é que se afastou do mercado do primeiro preço. A hora  mão de obra custa nove a dez euros no nosso país, cinco euros na Polónia  (em parceria com os italianos da Nardi, a Meireles tem um fábrica em Wroclaw), e 21 a 22 euros em Itália.

Depois da tropa (EPC Santarém, 78/79) lhe ter interrompido o curso de Electrotecnia, Bernardino não mais voltou à FEUP (Engenharia do Porto) – foi directo para a fábrica, ajudar o pai.

Quando, em 1996, Bernardino assumiu a presidência, a Meireles era forte como um Titanic, liderando o mercado nacional com uma quota de 24%. Mas percebeu que se não mudasse o rumo iria chocar com um enorme iceberg e naufragar.

Para não evitar fazer companhia no fundo do mar às outras marcas históricas de fogões, começou a exportar, apostou na inovação e estabeleceu uma aliança estratégica com os italianos da Nardi para dar resposta à moda dos encastráveis.

“O fogão foi o electrodoméstico que menos evoluiu”, afirma Bernardino, antes de descrever o programador que a Meireles instalou em fogões eléctricos topo de gama, que permite, antes de sairmos de casa pela manhã, deixar a carne no forno com a hora marcada (e temperatura definida) para ele começar a trabalhar, de modo a termos o assado pronto para o jantar.

Esta é apenas uma das inovações. Para satisfazer uma encomenda de três mil fogões de máxima segurança feita por cliente australiano, a Meireles está a fabricar um fogão com a porta fria, com três portas (o forno normal tem duas) e um sistema de refrigeração que baixa para 70º (em lugar dos habituais 110º) a temperatura da porta exterior quando o forno está a 250º..

Mas o grande trunfo competitivo são as instalações para restauração e hotelaria (que valem 15% da facturação) e o maxi-forno, com largura de 90 cm por 60 cm de profundidade (as medidas standard são 60x60 ou 55x60), desenhado a pensar no Médio Oriente.

As cozinhas de palácios de vários membros da família real saudita foram equipadas pela Meireles, que tem no Médio Oriente o seu segundo maior mercado de exportação, a seguir a Espanha, onde tem uma quota de mercado de 11,5%.

“Os sheiks têm palácios onde são servidas três mil refeições/dia”, conta Bernardino, acrescentando que o maxi-forno Meireles, com capacidade para assar um cabrito inteiro ou quatro frangos ao mesmo tempo, é o adequado aos hábitos alimentares das famílias numerosas do Médio Oriente, que usam mais o forno (até para fazer a doçaria) que as ocidentais.

Marrocos, Argélia, Tunísia, Egipto, Jordânia, Bahrein e Irão fazem por isso parte da geografia da expansão da Meireles, que fabrica 100 mil fogões/ano e faz fora de portas 44% do seu volume de negócios de 20 milhões de euros.

Bernardino sabe que para continuar a ter sucesso é preciso manter os sentidos bem despertos aos sinais do mercado e saber adaptar-se às suas mudanças e idiossincrasias.

“Por ser Made in Portugal, o preço dos nossos fogões tem de ser 10% a 15% inferior ao que seria se levasse a etiqueta Made in Italy”, lamenta Bernardino, que com a aposta na exportação, inovação e na parceria com a Nardi ainda conseguiu que a quota da Meireles no mercado interno subisse de 24% para 36%.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

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Lider

Alameda Eça de Queiroz 126, Porto

Couvert …6,00

2 Polvo assado  … 37,00

Água 1 l … 3,50

Prazo Roriz (Douro, Symington) … 16,00

4 cafés … 4,00

Ananás natural … 4,50

Total …71,00

 

 

Curiosidades

 

António Meireles (1900-1976), o avô de Bernardino  tinha a 3ª classe e 31 anos quando fabricou o primeiro fogão eléctrico português, depois de ter desmontado e montado por vários vezes um fogão Husqvarna importado da Checoslováquia. Chefe do turno da noite na estação de Massarelos (onde recolhiam os carros eléctricos do Porto), em vez de passar o dia a dormir e jogar bilhar, aproveitou o facto de ser curioso e jeitoso de mãos para começar a ganhar mais umas coroas fabricando camas de ferro e fogões no quintal da sua casa, na rua de S. Cosme, na zona Oriental do Porto. Foi assim que nasceram os célebres Fogões Meireles

 

Um fogão Meireles, para uso doméstico médio, custa em média 300 euros. No caso de um semi-profissional, o preço sobe para 1500 euros. O fogão a gás é esmagadoramente (90%) maioritário nos lares portugueses. Apenas 10% usam o fogão misto (mesa de trabalho a gás, por ser mais rápido, e forno eléctrico), que Bernardino considera o ideal

 

O programa intensivo de construção de vários bairros sociais no Porto, desenvolvido entre os anos 50 e 60, ajudou ao crescimento da Meireles, já que as habitações eram entregues aos moradores já equipadas com um pequeno fogão 

 

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