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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Coisas que estamos carecas de saber

Sou careca. É de família. O meu pai era calvo. E o meu  io não é exatamente um Beatle. Há uma dúzia de anos, ao reparar que em vez de ficarem brancos os meus cabelos caíam, desistindo da vida, jurei que nunca seria daqueles carecas envergonhados que recorrem a complicadas obras de engenharia para encobrir as misérias.

Sempre me incomodaram as vãs tentativas de mascarar um crânio calvo usando um único e enorme cabelo (que às vezes suspeito ter origem no sovaco) que se desenvolve em infinitas circunvalações que só uma poderosa laca pode manter intactas e coladas a um couro cabeludo desprovido de cabelo.

No âmbito desta decisão de ostentar uma política capilar de verdade, comprei uma máquina de cortar o cabelo à escovinha, Philishave HQ C241, que  ainda se mantém ao serviço desbastando, de 15 em 15 dias, os cabelos remanescentes.

Sempre que me falam em dinheiro bem gasto, vêm-me logo à cabeça os seis contos (cerca de 30 euros) investidos na boa e velha Philishave que me pouparam mais de 300 idas ao barbeiro (minhas e dos meus filhos Pedro e João) - mas também o pornográfico desperdício de dinheiro pelos nossos governos.

A apertada curva em que fomos apanhados deve-se essencialmente ao facto de termos malbaratado a chuva de dinheiro da UE, que beneficiou  capitalistas sem capital, empresários de água doce que vivem e prosperam à custa de jeitos, favores e influências - em vez de ser aplicado a financiar empreendedores que não temem o risco e as exigências das apostas de longo prazo.

O conúbio de interesses e a partilha de despojos elevaram os serviços e a construção à condição de favoritos do regime, como o demonstram os dados do Banco de Portugal - em cada cinco euros de crédito concedido, 3,5 euros foram para a construção, habitação, imobiliário e obras públicas, e apenas 30 cêntimos para o setor transformador - e a vergonhosa derrapagem das obras da Parque Escolar, em que cada escola custou cinco vezes mais que o previsto.

O dinheiro de Bruxelas foi desperdiçado em áreas não produtivas, com destaque para infraestruturas (os 386 milhões gastos na A32, que está às moscas, são o exemplo mais recente), em vez de ser investido no setor transformador.

Desde a entrada na CEE, os governos PS e PSD construíram uma sociedade cada vez mais desigual na distribuição de riqueza, com o Poder Político, Económico e Administrativo cada vez mais concentrado na capital, e diferenças abissais de desenvolvimento entre as várias parcelas de um país falido.

Não temos muito tempo para arrepiar caminho. Neste contrarrelógio, gastar bem significa corrigir os desequilíbrios regionais e investir os escassos recursos que nos restam no apoio à exportação, apostando na produção de bens transacionáveis, em energias limpas e numa rede eficaz de transportes públicos. Tudo numa lógica low cost, sem luxos, nem desperdícios.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias

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