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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Rui Pedro Soares

Fotografia Pedro Granadeiro

Nas vésperas do Euro 2004, estava a jantar com a mulher num italiano, em Nova Iorque, e teve de gastar 20 minutos a tentar explicar o inexplicável (por que é que o Scolari não convocara Vitor Baía) a um empregado de mesa polaco, que lhe fez a pergunta mal o soube  português.

São como as cerejas as histórias sobre o poder do futebol. Uma outra que o ele contou foi a primeiro ministro de um Palop que lhe confessou que na véspera se deitara sem jantar, pois ficara mal disposto com a derrota caseira do Benfica, por 3-0, com a Académica.

Encontramo-nos à hora do lanche, no bar da Casa da Música. Era 6ª feira e Rui Pedro Soares, 36 anos, administrador executivo da PT, tinha vindo a conduzir de Lisboa. O café, a água do Luso (natural) e a nossa conversa foram um intervalo antes de seguir para o jantar comemorativo do tetra, no Dragão Caixa.

O jantar era um misto de função e devoção. Ele é o responsável máximo pelos patrocínios da PT ao futebol. Está sentado em cima de um orçamento anual de 15 milhões de euros, dos quais mais de 80% vai directo para os três grandes. “Representamos 10% das receitas totais do futebol”, diz.

Mas Rui Pedro também é do Porto. Do Porto cidade (emigrou para Lisboa com 16 anos, quando o pai, um alto quadro da Tranquilidade, achou deviam ir viver para a cidade onde estavam as oportunidades) e também do Porto clube – onde jogou nos juniores, ao tempo de Sá Pinto e Rui Jorge.

Do ponto de vista das paixões clubisticas, na Executiva da PT reina o equilíbrio e cosmopolitismo adequados: três benfiquistas, dois portistas, um adepto do Chelsea e outro do Man Utd.

Rui Pedro está muito contente com os resultados da aposta no futebol. “O retorno do investimento aumentou 150% nos últimos dois anos. 80% dos portugueses sabe que somos os principais patrocinadores do três grandes. Este índice de notoriedade é impossível de atingir noutro meio”, afirma.

Com a saída do BES da parte de trás das camisolas, voltará a haver marcas de grande consumo a apostar em apenas um (Sagres, com o Benfica) ou dois grandes (Super Bock, com o Sporting e FC Porto), pela primeira vez desde que a Parmalat se deu mal com isso.

Rui Pedro garante que não é por temer reacções negativas que a PT está com os três grandes. “Nós trabalhamos para 100% do mercado. Nas áreas onde estamos, ou somos lideres ou vamos sê-lo. Não apontamos a nichos”, explica.

O futebol é apenas uma das suas preocupações. Os cuidados de saúde da PT (um sistema com 103 mil beneficiários, nove mil médicos convencionados e 100 mil actos médicos mensais) e a gestão do imobiliário (dois mil edifícios avaliados em 400 milhões de euros) também são pelouros dele.

Mas é natural que os seus olhos brilhem mais quando fala do futebol, que  ajuda o grupo PT a ter quatro  - TMN, PT, Sapo e Meo (que vai estar na frente das camisolas dos equipamentos alternativos) – das dez mais valiosas marcas portuguesas.

“Nós estamos satisfeitos com os clubes e eles connosco. Desenvolvemos um trabalho conjunto. Não é assinar o contrato e vermo-nos para o ano. O Vitor Baía, o Sá Pinto e o Rui Costa são nossos embaixadores e todas as semanas vão a escolas”, conta.

Rui Pedro garante que a PT não vai aproveitar a crise para baixar os valores dos patrocínios, e acrescenta que o casamento com o futebol é de longa duração.

“As estatísticas dizem que há uma grande probabilidade de divórcio ao cabo de sete anos de casamento. Nós vamos superar essa barreira esta época. O nosso casamento com o futebol é para toda a vida”, declara Rui Pedro que anda a ver se arranja tempo para revisitar o Rodrigues de Freitas (onde completou o 11º ano) e só tem um pequeno reparo aos seus conterrâneos: acha que não estão a ser completamente justos com a PT.

“Nenhuma outra empresa investe tanto no Porto como nós. Apoiamos a recuperação do IPO, Monumento da Guerra Peninsular e Palácio da Bolsa. Trouxemos para cá o Bike Tour. Estamos com a Casa da Música, Serralves, FC Porto, Fantasporto, Red Bull Air Race. Ajudamos o Boavista. Acho que merecíamos ser líderes no Porto em todas as áreas”, concluiu.

Jorge Fiel

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Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias  

 

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Bar dos Artistas

Casa da Música, Porto

2 cafés … 1,30 euros

1 Água do Luso … 0,80

1 Água das Pedras… 0,80

Totall….. 2,90 euros

 

Eu sou bairrista e provinciano

Olhem eu preocupado por ser bairrista e provinciano

Está na moda acusar o FC Porto de ser provinciano e de não conseguir reunir uma base de apoio nacional apesar de ser hegemónico no futebol português pós 25 de Abril.

É da tradição acusar-nos a nós, portuenses, de termos um discurso bairrista.

A este propósito queria deixar escritas quatro coisas:

1.     Apesar de, devido à sua reconhecida competência,  o FC Porto, como o próprio nome indica, ter vindo a recolher apoiantes e admiradores pelo mundo inteiro, a verdade é que é um clube do Porto e muito orgulhoso da sua denominação de origem;

 

2.     Declaro-me 100% bairrista, no sentido em que tenho um forte e vivo sentimento de pertença à cidade que amo, e onde nasci e cresci;

 

3.     Declaro-me provinciano dos pés à cabeça – e não estou sozinho neste reconhecimento. Em entrevista ao Libération, José Sócrates, nascido e Trás-os-Montes e criado nas Beiras, assumiu o mesmo: “É verdade, sou um provinciano e fiz-me sem pedir permissão a ninguém”;

 

4.     Apenas uma minoria de parolos faz a lamentável confusão de considerar que existe incompatibilidade em ser simultaneamente bairrista, provinciano e cosmopolita.

 

Jorge Fiel

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Chora não supera Sylvia na arte do suicidio

Auto-retrato de Sylvia Plath em 1951, quando tinha 18 anos

 

Morrer

é uma arte, como outra coisa qualquer

e eu executo-a excepcionalmente bem

Sylvia Plath

 

Sylvia Plath suicidou-se a 11 de Fevereiro de 1963. Tinha 30 anos. Levantou-se da cama, preparou uma bandeja com o pequeno almoço  e colocou-a no quarto dos filhos. Depois dirigiu-se à cozinha, vedou as brechas, ligou o gás e meteu a cabeça no forno.

Há quem opte por sair desta vida de uma forma mais vulgar, dando um tiro na cabeça ou atirando-se da ponte abaixo  - nesta última modalidade sempre achei curioso que a esmagadora maioria dos suicidas mergulhem para jusante, encurtando assim a viagem até ao mar.

Há quem opte por uma morte mais lenta, como os fumadores compulsivos, os dependentes de drogas duras ou os hipertensos que teimam em manter elevados níveis de colesterol no sangue.

Os 3 038 trabalhadores da Autoeuropa escolheram uma solução intermédia, um suicídio a curto prazo, ao apoiarem a linha de intransigência negocial adoptada pela Comissão de Trabalhadores (CT).

A indústria automóvel já conheceu melhores dias. As pessoas não estão a comprar carros. As fábricas de automóveis estão a fechar a velocidade superior à da abertura de lojas de chineses. Gigantes como a GM estão à beira da falência.

Comprada pelo Governo com o nosso dinheiro, para ajudar a resolver a aguda crise que se fazia sentir na Península de Setúbal, a Autoeuropa não escapa a esta crise generalizada.

Como está a trabalhar 40% abaixo da sua capacidade instalada (este ano vai produzir 82 mil veículos, quando tem capacidade para fabricar 180 mil), a administração propôs uma reorganização, que contempla, entre outras coisas, laborar oito sábados por ano, nas alturas de pico de produção.

Sucede que a CT, liderada por um cavalheiro chamado António Chora, entende que só pode aceitar essa flexibilização se a administração pagar 18 horas pelas oito horas trabalhadas a cada sábado.

Indiferente ao facto de Bruxelas nos ter avisado que há 12 milhões de postos de trabalho em risco na indústria automóvel, a CT estica a corda, apesar de saber que a Volkswagen equaciona prescindir de algumas fábricas europeias e que está em cima da mesa a possibilidade da absorção da produção de Palmela pela unidade de Emden, na Alemanha.

Morrer é uma arte, como outra coisa qualquer. Mas Chora não a está a executar com originalidade. Limita-se a copiar o modelo da GM da Azambuja, que fechou as portas por causa da inflexibilidade dos seus trabalhadores. Só tenho pena que esteja a arrastar no seu suicídio mais 6.910 trabalhadores, cujo emprego depende indirectamente da Autoeuropa e que não foram ouvidos nem achados neste caso.

Jorge Fiel

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Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

A nossa excelência não se esgota no futebol

A excelência do Porto não se esgota no futebol. A Universidade do Porto (UP) acaba de ultrapassar pela primeira vez o bonito patamar de dois mil estudantes estrangeiros, vindos de 60 diferentes países.

O objectivo é atingir, dentro de dois anos (quando comemorar, em 2011, o seu centenário), os 10% de alunos estrangeiros (ou seja, cerca de 2 900) no total da sua população estudantil.

Um quinto dos artigos portugueses publicados em revistas científicas estrangeiras são da autoria de investigadores da UP – a universidade nacional que lidera neste particular.

Dramaticamente, um em cada cinco desempregados está registado no Porto, o distrito onde se verificam 30% das falências.

Não é por falta de um boa universidade que há 110 mil portuenses inscritos nos Centros de Emprego. Este Porto está sem futuro, porque não tem líderes, nem investimento nem projectos. Temos de começar por algum lado a dar a volta a esta triste situação. E o melhor é começar por resolver a questão da liderança.

Jorge Fiel

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Com os pés no Porto e a cabeça em Lisboa

Com os dois pés no Porto é o slogan da recandidatura de Rui Rio.

A CDU acusa-o de lhe ter copiado o slogan, que tudo leva a crer se inspira, presumo que involuntariamente, no lugar em que o FC Porto teima em terminar cronicamente o campeonato nacional de futebol.

Suponho que a escolha do slogan se filia na única grande crítica que o número dois do PSD tem a fazer à candidatura de Elisa Ferreira – que acusa de ter um pé no Porto e outro em Bruxelas.

Sobre esta questão da colocação dos pés, devo dizer que acho mil vezes preferível ter um pé no Porto e outro em Bruxelas, do que ambos os pés no Porto e a cabeça em Lisboa – que é o que acontece com Rio.

Interrogado sobre se, em caso de reeleição, tenciona cumprir o mandato até ao fim, o ainda presidente da Câmara do Porto disse: “A pergunta faz sentido, mas não quero falar disso”.

É óbvio por que é que ele não quer falar disso.

Alguém duvida que, se uma onda laranja varrer o país, Rio não hesitará um segundo antes de trocar o Porto por um ministério?

Alguém duvida que, se vislumbrar uma oportunidade de suceder a Ferreira Leite, Rio não hesitará um segundo antes de trocar o Porto por um gabinete na rua de São Caetano à Lapa?

Com os dois pés no Porto? Deixem-me rir. Rio é como o gato escondido, que deixa o rabo de fora.

Jorge Fiel

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Hoje somos todos boavisteiros!

Ontem foi um dia triste para os boavisteiros – oito anos depois de terem sido campeões, caíram na terceira divisão e  muito provavelmente não lhes resta alternativa senão a de imitar o Salgueiros e trilhar o caminho do calvário.

Impedido, pelas dívidas, de inscrever jogadores no escalão sénior de futebol, o Salgueiral arranjou um irmão gémeo, o Salgueiros 08, que começou este ano tudo de novo, a partir do último escalão, a II Divisão Distrital da Associação de Futebol do Porto.

Ontem foi um dia alegre para o FC Porto, que comemorou o tetra, pela noite dentro, com o autocarro que transportava os campeões a passar ao lado os Paços do Concelho, de fachada limpa e iluminada, mas de porta fechada (para o ano, se tudo correr bem, o penta será festejado outra vez da varanda).

Ontem foi um dia alegre para o Salgueiros 08, que se sagrou campeão da II Divisão da AF Porto ao derrotar uma vez mais o Aliança da Gandra.

Ontem foi um dia triste para o Boavista. Mas como tristezas não pagam dívidas, ‘bora aí Bessa, vamos levantar essa cabeça que o futebol precisa das vossas camisolas "esquisitas”.

Ontem foi um dia igual a muitos outros, nos últimos oito anos, no Porto, porque o presidente da Câmara não esteve no Bessa, a dar força ao seu clube no momento mais difícil da sua vida – nem esteve nos Paços do Concelho a receber os tetracampeões nacionais, nem na Senhora da Hora a festejar a subida do Salgueiros 08.

Hoje somos todos boavisteiros!

Jorge Fiel

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Alberto da Ponte

Anunciou, com semblante carregado e uma formulação misteriosa, que cometera algo de muito grave que iria ter terríveis consequências na vida e carreira de todos eles. Acto contínuo, perante o desespero e terror dos, colegas que convocara de urgência, Alberto  puxou de um revólver e deu um tiro na cabeça. Pum!

Os factos relatados ocorreram a 3 de Março de 1987 numa sala de reuniões da multinacional Unilever e não passam de uma partida de Carnaval – a arma era um brinquedo, o disparo foi de fulminante.

O presidente da Central de Cervejas é danado para a brincadeira. No seu círculo de amigos, são lendárias as histórias de partidas que ele pregou tirando partido do talento em imitar vozes. O seu cunhado, que trabalha na Jerónimo Martins, é uma das vítimas da sua capacidade em falar tal e qual Alexandre Soares dos Santos.

A última partida que ele pregou não foi a brincar e consistiu em conquistar para a Sagres a liderança histórica da Super Bock no mercado cervejeiro nacional.

A lata de Alberto era conhecida desde o episódio da trasladação dos restos mortais de D. Miguel. Ele foi o primeiro a pôr o dedo no ar quando a professora primária perguntou à classe o que sabiam sobre o assunto. Contou que tinha estado lá e descreveu minuciosamente o cortejo, os cavalos engalanados, as fardas engomadas, os arranjos de flores, o bruá da multidão.

“Espero que quando se realizar, na próxima semana, a cerimónia seja tão bonita como a que o menino descreveu”, rematou a professora, mal ele se calou.

O seu talento profissional tinha sido demonstrado à saciedade durante os 30 anos de carreira na Unilever, onde o sucesso conseguido para produtos como o Vim, Pepsodent e Rexina, levaram a Scottish & Newcastle a desafiá-lo, para mudar de vida aos 51 anos, com a missão de ressuscitar a Central de Cervejas e uma Sagres com 33,9% de quota de mercado (a Super Bock tinha 45,1%).

“Tive uma sorte danada”, reconhece, após uma troca de impressões com Pedro (que ajuda o pai no comando do Solar dos Presuntos) sobre as eleições no Sporting (“Então como é? Estamos com o Bettencourt ou com o Dias Ferreira?”). Escolheu o prato do dia, cozido à portuguesa, “mas só com arroz, carnes secas e enchidos”,  regado a imperiais Sagres, servidas em copos personalizados com a marca da cerveja e a fachada e nome do restaurante.

A sorte danada foi ter assumido a liderança da Central nas vésperas do Euro 2004 e a Sagres ser a patrocinadora da nossa selecção, permitindo-lhe tripular a onda de patriotismo que assolou o país.

Alberto percebeu a importância do futebol e mudou, dos palcos dos concertos rock para os relvados, o campo de batalha com a Unicer. Ao patrocínio da Selecção, acrescentou o da I Liga e tem-se dado bem com isso, pois, ao cabo de quatro anos, desalojou a Super Bock do primeiro lugar.

“O futebol é uma aposta tão boa que a concorrência nos resolveu atacar por aí. A Super Bock está a copiar a estratégia da Sagres. Mas estou convencido que isso é um erro. É perigoso mudar de personalidade. Ninguém iria compreender se eu agora começasse a usar piercings e rabo de cavalo. A Super Bock é uma cerveja bon chic bon genre. Nós apostamos no futebol porque a Sagres é uma marca popular”, explica.

A tensão entre as duas cervejeiras subiu com o abandono pelo BES nas costas das camisolas dos três grandes. A Sagres assegurou logo o Benfica, enquanto que a Super Bock ficou com o Porto.

Alberto julgava estar protegido na frente sportinguista por um contrato com validade até 2011, que lhe dava a exclusividade em Alvalade.  Enganou-se. Mas ele não aceita que as camisolas do seu clube façam propaganda à Super Bock e acusa a direcção cessante de Soares Franco de ter rasgado um contrato válido. Ameaça por isso com uma acção judicial em que pedirá uma mega-indemnização, fundamentada na eventual perda de 1,5% de quota de mercado, o que pode implicar que a Sagres perca a liderança.

“Enquanto gestor não posso fazer outra coisa”, conclui Alberto, filho de um benfiquista mas sportinguista desde miúdo, por influência do tetra dos Cinco Violinos. 

Jorge Fiel

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Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

 

 

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Restaurante Solar dos Presuntos

R. das Portas de Stº Antão 150, Lisboa

1 litro de Luso  … 3,00 euros

4 Imperiais Sagres … 9,00

2 Cozido à portuguesa …32,00

3 pães …  1,80

1 Polvo à galega …  9,00

2 café s… 2,20

Total….. 57 euros

Pescadinha de rabo na boca

Um banco é um sítio onde te emprestam dinheiro se conseguires provar que não precisas dele. Bob Hope é o improvável autor da definição mais adequada ao comportamento actual dos bancos portugueses.

Como toda a gente sabe, fomos metidos nesta estrangeirinha pelos desmandos e disparates do sistema financeiro. Não deixa de ser um curioso (e penoso) exercício de humor negro que o Governo esteja a usar o nosso dinheiro para impedir o colapso dos responsáveis pela violenta recessão em que vivemos.

Os bancos estão a aproveitar os apoios estatais para se recapitalizarem. A água que o Governo bomba através do sistema financeiro não chega em quantidade suficiente à economia real, sequiosa de liquidez, porque a canalização está rota – e a ganância dos banqueiros continua lá, não mudou.

Como toda a gente sabe, seria mais fácil transformar água em vinho do que extrair a ganância da alma de um financeiro, o que só seria possível com um transplante de carácter.

As empresas queixam-se de estar a morrer por falta de dinheiro e que os plafonds de apoio à tesouraria caíram para metade, mas os balanços trimestrais dos bancos mascaram esta triste realidade com tinta cor de rosa. A Caixa, por exemplo, declara que aumentou em 16,4% o crédito às empresas e em 12% a captação de poupanças e aplicações.

Este divórcio entre as queixas das empresas e os balanços dos bancos tem origem na estratégia de pescadinha de rabo na boca, afinada e posta em prática pelas luminárias em engenharia financeira.

As linhas de crédito com spread baixo são esgotadas em empresas que não precisam de dinheiro e por isso o aplicam logo a uma taxa superior. Ou seja, o dinheiro não chega a sair do banco, não entra na economia real mas tem um impacto positivo duplamente positivo na percentagem de crédito concedido e recursos captados.

O esquema é tão simples quanto pernicioso e deixa-me cheio de vontade de chamar aos banqueiros os nomes que um adepto de futebol costuma dedicar ao árbitro que marcou um penalti injusto contra o seu clube.

Até finais de Setembro, quando cair a folha, o Governo tem de inventar uma maneira mais eficaz de fazer chegar o dinheiro às PME da indústria transformadora, com um bypass ao sistema financeiro.

Senão, as empresas, com a tesouraria exaurida pelo pagamento do subsídio de férias e pelo Agosto sem facturar, vão começar a cair como tordos na falência e teremos milhares de famílias atiradas para o desemprego, a imitarem desesperadas O Grito de Munch. 

Vai ser tão mau que até os banqueiros deviam estar preocupados, porque quando o parasitado está em perigo o parasita devia defendê-lo – pois assim defende o seu bife.

Jorge Fiel

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Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

Carlos Abreu

Da primeira vez que foi presidente, o Salgueiros estava na I Divisão e a filha, de sete anos, perguntou-lhe porque é que ele não contratava o Maradona – e não se ficando com a desculpa dele (“Não temos dinheiro”), sugeriu-lhe a solução: “Passa um cheque!”.

Para Carlos Abreu, a deplorável situação de haver clubes da I Liga sem dinheiro para pagar aos jogadores, é culpa de dirigentes que adoptaram a atitude infantil de passarem cheques, mesmo sabendo que nunca teriam cobertura.

“Os clubes habituaram-se a viver acima das suas possibilidades”, afirma Carlos Abreu, 52 anos, que optou pelo creme de cenoura e courgette como entrada para o nosso almoço na varanda do Terra.

Em 1985, quando foi eleito presidente, o Salgueiros ameaçava naufragar, com um passivo de 50 mil contos que crescia à razão de mais 20 mil por ano. Mas ele não era um maçarico. Aos 18 anos comprara, com dinheiro emprestado e pelo preço das dívidas, o MGC, um clube de futebol amador do Porto, onde jogaram Zé Pedro Aguiar Branco (ex-ministro da Justiça) e Zé Guilherme Aguiar (ex-presidente da Liga de Clubes).

Apesar de ter reduzido o orçamento, conseguiu, durante o seu primeiro consulado  (85-95),  um recorde de permanências na I Divisão, um 5º lugar e uma inédita presença na Taça UEFA, onde o Salgueiros foi eliminado nos penaltis por um Cannes liderado pela jovem estrela Zidane.

“É preciso resistir à tentação de passar o cheque e ter a coragem de dizer aos jogadores que não podemos pagar mais – e se eles querem mais que vão para outro clube!”, afirma este jurista que há 14 anos trocou a barra pelo imobiliário.

Deixou o Salgueiros em 95, por o presidente da Câmara (Fernando Gomes) não ter viabilizado o seu projecto de construção, na Arca de Água, de um novo estádio, com seis mil lugares, e um centro de estágio -  enquanto que o velho Vidal Pinheiro daria lugar a habitações.

“Deixei de ter cenoura à frente para me fazer correr. Vim-me embora. Não queria ficar a comer palha”, explica. Nos dez anos seguintes, o Salgueiros - fundado em 1911 por um grupo de miúdos de dez anos, onde se contava o futuro pintor Henrique Medina, que se reuniam junto ao lampião 1047 da rua da Constituição -  desceu aos infernos por obra e graça da gestão pouco honesta e despesista do sucessor de Abreu. Em 2004, extinguiu o futebol profissional, em virtude de 1,5 milhões de dívidas a antigos jogadores.

No sítio do campo Vidal Pinheiro, onde Norton de Matos fez o maior comício da sua campanha presidencial (o que valeu ao Salgueiros ser olhado de lado pelo regime salazarista), passou a estar uma estação de metro – e as dívidas do clube ascendiam a 20 milhões de euros.

Este cenário dantesco não assustou Abreu, que regressou à presidência prometendo pagar tudo (“não vai ser fácil mas temos de o conseguir”). Ou seja, tem uma cenoura à frente. Com a ajuda dos três mil sócios, já abateu quatro milhões ao passivo e mantém 300 atletas em actividade. No pólo aquático é campeão nacional (e já ganhou 12 títulos seguidos). No futebol, os juniores subiram e os juvenis estão quase.

Nos seniores, Abreu teve de inventar. Fundou o Salgueiros 08, que disputa II Distrital da AF Porto com uma equipa de velhos (jogadores dos tempos da I Divisão, como Renato, Cao e Fernando Almeida) e crianças (ex-juniores), treinada por Pedro, o antigo capitão que tem uma empresa de gestão de condomínios.

Todos jogam por carolice (só ganham 50 euros de prémio de jogo) e apesar de estar na última das divisões, o Salgueiros orgulha-se de ter uma assistência média de 4 000 espectadores, que o coloca em 13º lugar de todos os campeonatos, à frente de clubes da Liga Sagres. Para o ano, o Porto Canal vai dar em directo os jogos, o que vai facilitar a angariação de um patrocinador.

Hoje é um dia duplamente importante para Carlos Abreu. No Estoril, ao volante de um Alfa Romeu Sprint amarelo,de 81, ele vai tentar terminar a sua primeira prova do Nacional de Clássicos. E em Paredes, o Salgueiros 08 defronta o Aliança da Gandra no primeiro jogo do play off de apuramento do campeão da II Distrital da AFP. Estou a fazer figas por eles.

 

Menu

Restaurante Terra

R. do Padrão 103, Porto

2 Menu Primavera ... 30,00 euros

Creme de cenoura e courgette

Falsos raviolis de bresaola, ricotta e ervas

2 Lulas recheadas com puré de ervilhas

4 copos de Silverlake, Sauvigon Blanc neozelandês… 16 euros

Total….. 46 euros

 

Jorge Fiel

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Este artigo foi hoje publicado no Diário de Notícias

O espanhol poliglota que sabe fazer outlets

 Álvaro Valiente. Como um madrileno apaixonado por Portugal, com um percurso ao contrário (começou por ser empresário e só depois foi trabalhar por conta de outrém), abandonou o cobiçado lugar de responsável pela abertura de novos mercados da Zara para passar a viver no Porto 

 

 

Nome: Álvaro Valiente

Idade: 45 anos

O que faz:  Director geral da Neinver em Portugal e Itália

Formação:  Licenciado em Ciências Económicas e Empresariais , em Madrid

Família:  Divorciado. É o sexto de sete irmãos. O pai, um engenheiro industrial que pilotou aviões na II Guerra Mundial, ao serviço da Divisão Azul (que combateu ao lado dos nazis na frente russa) , gostaria de ter sido  piloto da Iberia mas teve de dirigir a fábrica de metalurgia da família, que ficava no País Basco e fornecia a Renfe   

Casa:  apartamentos na Foz (Porto) e em Madrid (Calle Serrano) e uma casa de férias em Palma de Maiorca

Carro: Porsche Boxter (Porto) e Smart (Madrid)

Telemóvel: Nokia

Portátil: Dell

Hóbis:  Gosta muito de música (não só ouvir, mas também cantar), de comer com os amigos, praticar desporto e ir ao ginásio

Férias: As últimas foram dez dias a navegar pelas Baleares. As próximas vão ser nas Honduras, a fazer mergulho (está com curiosidade de ver  tubarões martelo no sue habita natural),  ou no Senegal, num resort ecológico onde as cabanas não têm sequer luz eléctrica

Regra de ouro: “Ser fiel e muito honesto comigo próprio. Tenho uma escala de valores muito perfeita que me leva a ser muito vitalista. Vivo cada diz como se fosse o último. Trabalho na empresa como se ela fosse minha. Tudo que é meu – a empresa, os amigos… – é melhor ”.

 

 

Mal acabou de tirar a carta, meteu-se num carro e guiou directo de Madrid até Lisboa, para vir ter com um dos irmãos mais velhos, casado com uma portuguesa. Tinha 18 anos e gostou disto. “Senti que um dia iria morar aqui”, recorda Álvaro Valiente, um madrileno de 45 anos adepto do Atleti. Não foi o único desejo de adolescente que ele concretizou.

Ganhou as primeiras pesetas com 14 anos, a distribuir, à porta do metro, propaganda de um mega-empreendimento imobiliário nos arredores da capital espanhola. Quando João Paulo II visitou Madrid, encontramo-lo na rua, no meio da multidão, a vender bandeiras brancas e amarelas, com as armas do Vaticano e a divisa papal “Totus Tuus”.

A costela empreendedora revelou-se precocemente, no ano em que fez 18 anos, se apaixonou por Lisboa e se meteu num negócio de cuecas a meias com a namorada, que era filha de um diplomata e vivia em Roma.

A ideia era importar boxers de Itália. Mas na Espanha pré-comunitária do dealbar dos anos 80, em que os homens usavam slips, as barreiras alfandegárias eram um poderoso dissuasor de um negócio baseado na importação. Decidirem fabricá-los em Espanha.

O negócio prosperou, enquanto ele cursava Economia. O namoro com a filha do diplomata, que desembocou em casamento, revelou-se mais duradouro que o negócio dos boxers, que naufragou pelo efeito conjugado dos calotes dos lojistas e da abertura progressiva das fronteiras ditada pela adesão espanhola à CEE.

Um caçador de cabeças indicou-o para product manager de roupa masculina do Continente, onde esteve três anos, até se iniciar nos segredos dos centros comerciais abrindo dois - um em Madrid (Gran Via) e outro em Valência - por conta dos franceses da Trema.

Estava escrito nas estrelas que viveria em Portugal e o pretexto foi a vontade de mudar de ares após se ter divorciado da sua antiga sócia no negócio das cuecas. Mal um primo o desafiou a usar os seus conhecimentos na preparação do Arrábida Shopping, logo trocou Madrid pelo Porto.

Antes de regressar a Espanha, ainda teve tempo para abrir o Chiado e os Foruns Almada e Aveiro, com os holandeses da MDC, e para vagabundear pela Índia, num ano sabático.

Não conseguiu recusar quando o dono da Zara, Amancio Ortega (“uma cabeça extraordinária com os pés bem assentes na terra”), o convidou para responsável pela abertura de novos mercados.

Passou quatro anos com a mala na mão, a viajar por três continentes, a acordar sem saber exactamente em que país estava. Na 2ª podia estar em Estocolmo, na 3ª em Copenhaga, 4ª em Viena, 5ª em Amesterdão e 6ª na Corunha. Cumpriu assim, com foros de overdose, o desejo adolescente de viajar pelo Mundo e conhecer pessoas.

“Foi apaixonante mas cansativo. Estava sempre sozinho. Vida pessoal zero”, lembra. Aos 40 anos, este espanhol poliglota, fluente em português, italiano, francês e inglês, achou que era hora de assentar e regressou a Portugal para abrir o Factory, em Vila do Conde, que em 2005 ganhou o prémio de melhor outlet da Europa - e é menos falado que o Freeport, mas por boas razões.

“Com a crise, o outlet tornou-se a primeira escolha, em detrimento do centro comercial”, conclui Álvaro que, anda entusiasmado com o segundo fôlego do Factory de Vila do Conde (que vai ter um estação de metro) e a expansão da cadeia para Sintra e Algarve.

Jorge Fiel

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