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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

A democracia está a precisar de obras

Patrizia tem hábitos pouco saudáveis, como por exemplo o de fumar

“Devias fazer sexo sozinha, masturbar-te com mais frequência”. Quando li esta sugestão de Berlusconi a Patrizia D’Addario, a primeira coisa que me veio à cabeça foi que o primeiro ministro italiano estava preocupado com a eventualidade desta sua fornecedora de serviços sexuais apanhar a Gripe A.

Como a generalidade das pessoas anda apavorada com o H1N, os jornais listam precauções a tomar, dando conselhos tão curiosos como afastarmo-nos das multidões nos transportes públicos e evitarmos accionar portas ou maçanetas – um luxo apenas ao alcance de magnatas como Américo Amorim, que emprega um cavalheiro simpático, que além de motorista e guarda costas, o poupa a tarefas tão desagradáveis como abrir portas ou fazer telefonemas.

Afinal a recomendação do uso e abuso da masturbação não tinha nada a ver  com as preocupações sanitárias que levam as autoridades a aconselhar substituir os beijos “por uma frase de saudação, quando muito acompanhada por um aperto de mão”.

A leitura das transcrições dos suculentos telefonemas de Berlusconi permitiu-me saber que ele propôs que a Patrizia se deixasse lamber por uma amiga, uma prática perigosa, pois ela podia estar infectada sem o saber, porque o vírus da Gripe A tem sete dias de incubação.

Além de tudo, seria altamente ruinoso para Patrizia se ela acatasse o conselho de fazer sexo sozinha, pois ela cobra cinco mil euros ao cliente, de cada vez que faz sexo acompanhada.

Os devaneios eróticos deste septuagenário - que apesar do seu curriculum de trafulhices logrou ser reeleito líder de um dos sete país mais ricos do Mundo pelos descendentes de Leonardo, Galileu e Dante –  suscitam-me interrogações sérias sobre o quão desadequada e gasta está a democracia ocidental.

A sensação de que expirou o prazo de validade da velha frase batida de Churchill -  “A democracia é o pior de todos os sistemas políticos, com excepção de todos os outros” - reforçou-se quando soube que o presidente francês e a sua esposa pop gastaram, em 2008, 760 euros por dia em flores – ou seja mais do que 80% dos portugueses ganham num mês.

Olho para o espectáculo da elaboração das listas de deputados, ouço o que se disse e fez no Chão da Lagoa, vejo o Porto a apagar-se e sem voz  - apesar de ter gerado os dois mais notáveis empresários do país (Américo e Belmiro) e vibrantes e indiscutíveis pólos de excelência, como Serralves, a Universidade, o FC Porto e a Casa da Música - , e mais me convenço de que o edifício democrático, construído quando não havia nem telefone, nem televisão, nem Net, nem aviões, está a precisar de profundas obras de restauro.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

Mário Moniz Barreto

À primeira vista soa um bocado estranho que quatro conglomerados de bebidas gastem um milhão de euros/ano a pregar ao filet mignon  da sua clientela (o pessoal dos 18 aos 30 anos) para não abusarem dos copos. Mas, bem vistas as coisas, até faz sentido.

As campanhas 100% Cool e Beba com Cabeça ocupam 70% do tempo de Mário Moniz Barreto, o secretário geral da Associação Nacional das Empresas de Bebidas Espirituosas (ANEBE), que reúne quatro grupos (PrimeDrinks, Pernod Ricard, Baccardi Martini e Diageo) que controlam cerca de 80% do nosso mercado de uísques, gins, vodkas, etc – simplificando, tudo menos cerveja e vinho.

Licenciado em Direito, Mário fez um mestrado em Londres, no Departamento de Estudos de Guerra do King’s College (convenientemente dirigido por um israelita…), antes de passar um ano em Bruxelas, na DGVIII, que tinha em cima da mesa a Convenção de Lomé.

Regressado a Lisboa, trabalhou numa sociedade de advogados anglo-portuguesa até que, na viragem do milénio, os inevitáveis headhunters o desinquietaram, convidando-o para ser o advogado de defesa dos interesses dos poderosos conglomerados de bebidas que estavam a constituir a ANEBE. Disse que sim, pois desde a adolescência sentia uma grande apetência por fazer política.

Justificou a escolha do Churrasco (onde janta habitualmente com a sua patota de amigos, lista em que figuram os jornalistas António Valdemar e José Manuel dos Santos) em frente ao Coliseu, pelo facto de servir “o melhor frango do Mundo” – o que pode ser verdade.

Sentamo-nos numa mesa ao lado da que durante anos foi ocupada pelo Covões pai, que fazia do Churrasco a sua sala de jantar, onde montava escritório para acertar contas com os artistas.

Como ele fazia 38 anos nesse dia, empurramos o frango com um espumante Aliança bruto tinto, apesar das Caves Aliança, de Joe Berardo, já não serem associadas da ANEBE.

A campanha 100% Cool, desenvolvida em conjunto com a GNR, é a mais vistosa das iniciativas da associação. Estimula os jovens a, sempre que vão para os copos, designarem um condutor 100% Cool, ou seja que mantenha no zero a sua taxa de alcoolemia ao longo de toda a noite.

Os resultados da campanha, que vai na 7ª edição, são positivos. Nos cinco primeiros meses deste ano, 95% dos 215 mil condutores testados pelas brigadas 100% Cool tinham níveis de álcool no sangue inferiores aos 0,5 gramas/litro permitidas.

“As estatísticas registam uma redução recorde da sinistralidade no nosso país, não só em número de acidentes mas também de vítimas. Isso deve-se ao aumento da fiscalização e à rapidez na aplicação das multas. Nós estamos satisfeitos por termos contribuído para esta redução”, afirma.

Ao defender que a idade mínima legal para a compra de bebidas alcoólicas suba dos 16 para os 18 anos, a ANEBE revela uma posição mais fundamentalista que a do Governo, o que tem a ver com a sua mensagem de que não há álcool seguro.

No site www.bebacomcabeça.pt , que em meio ano de vida recebeu meio milhão de visitas, disponibiliza um simulador, que fornece, por exemplo, a equivalência entre o álcool contido num copo de cerveja e numa dose de uísque.

“Para os jovens, a cerveja é mais barata e acessível. Mas é preciso desmistificar o mito urbano de que há bebidas alcoólicas mais seguras do que outras. Um uísque com cola pode ter menos álcool do que uma imperial. Não há bom e mau álcool. Há bons e maus comportamentos”, garante.

Apesar do fenómeno, novo e preocupante, de cada vez mais pais portugueses deixarem sair à noite, sem supervisão, os filhos de 11/12 anos, Mário está satisfeito. “Temos um padrão invejável de consumo de álcool.  Estamos no bom caminho, que é o de evitar o paternalismo e o proibicionismo. Os resultados das Leis Secas foram sempre catastróficos. Não queremos passar para o modelo nórdico”, conclui este consumidor ocasional de álcool, que gosta de vinho, de vez em quando bebe um uísque ou um gin tónico (até mesmo um Bloody Mary!), e acaba de fazer uma descoberta curiosa: vodka de uva.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no DN

O Churrasco

Rua Portas de Stº Antão 83, Lisboa

1,5 Frangos no espeto … 15,00 euros

1 Salada especial… 6,50

2 Esparregado … 3,00

2 Batatas fritas … 5,60

1 Aliança bruto … 19,50

2 Águas do Luso … 3,00

2 Cerejas … 5,90

2 Cafés… 1,60

Total … 60,10 euros

O mundo não está para cobardes

Jardim Gonçalves, que também fez na vida muitas coisas de aplaudir, costumava dizer que não se devem tratar os filhos todos da mesma maneira,  pois são diferentes uns dos outros. Usava esta imagem para explicar porque estruturou a oferta do banco em diversas redes, uma estratégia de segmentação reconhecida como uma das razões do rápido sucesso do BCP, o primeiro banco a perceber que Américo Amorim, o seu motorista e o director financeiro da Corticeira Amorim não podiam ser todos tratados da mesma maneira, pois tinham patrimónios e necessidades diferentes.

Quando contou num livro algumas das histórias da sua passagem dourada pelo FC Porto, José Mourinho declinou de uma forma ainda mais rica a regra de que é errado tratar os filhos todos da mesma maneira.

Conta Mourinho, que chamou Sicrano para uma conversa a dois, antes de o lançar pela primeira vez na equipa, e lhe explicou que não tinha de estar nervoso com a estreia. Mesmo que o jogo lhe corresse mal, era garantido que seria titular no fim-de-semana seguinte.

Já quando se tratou de anunciar a titularidade a Beltrano, o treinador avisou-o de que a estreia era uma oportunidade única. Se ele a desperdiçasse, bem podia pensar em ir tratar de vida , porque no Porto não teria futuro.

Mourinho é bem sucedido porque percebe como funciona a cabeça das pessoas que lidera e é capaz de adaptar a mensagem ao destinatário. Sabia que Sicrano reagia mal à pressão, por isso pô-lo à vontade. Sabia que Beltrano só conseguia elevadas performances sob pressão, por isso tratou de o pôr em tensão.

Os aspectos mais importantes e dramáticos da vida estão condensados num jogo de futebol, que é um compêndio onde se pode aprender a desembrulhar-nos neste mundo em acelerado mudança, em que as dez profissões mais procuradas em 2010 não existiam há seis anos. Pode aprender-se mais com um jogo de futebol do que numa aula de MBA.

Ao longo dos 90 minutos, um avançado raramente tem a bola mais de três minutos, durante os quais tem de decidir num segundo qual a melhor opção -  driblar, passar ou rematar.

A rapidez na decisão é fundamental para sobreviver e prosperar num mundo em que se prevê que os actuais estudantes terão dez a 14 empregos diferentes antes de fazerem 38 anos.

Um bom médio não é o que falha menos passes (porque mal recebe a bola faz logo um passe curto, de pouco risco)  mas aquele que cria situações de golo ao arriscar passes de ruptura.

Com o céu carregado de nuvens, a única coisa de que devemos temer é de ter medo de decidir, de falhar, e de arriscar. Não é a jogar para o lado que se ganham jogos. Só marca quem chuta à baliza – e não tem medo que o remate saia torto. O mundo não está para cobardes.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

Francisco Murteira Nabo

 

A impressionante quantidade de chapéus que Murteira Nabo tem em armazém, aos 70 anos, lembra aqueles malabaristas que conseguem manter uma meia dúzia de bolas a circular no ar, sem as deixarem nunca cair ao chão.

Presidente da Galp e bastonário da Ordem dos Economistas, tem ainda uma costela de empresário, sendo que uma das empresas de que é sócio e gestor vai abrir, em Setembro, um hospital do cancro em Évora, a cidade onde ele nasceu.

Tinha passado a manhã na RDP África, com o chapéu de líder do movimento Elo, investido pela CPLP da tarefa de dar à luz uma confederação empresarial de toda a lusofonia, o que o levou a desabafar que está a tentar a quadratura do circulo: “Nós, portugueses, somos muito bons a definir as coisas que devem ser feitas, mas péssimos a executá-las”.

Escolheu o Aviz, celebrizado por ser a cantina de Calouste Gulbenkian e um restaurante que vai na sua quinta encarnação – deitou âncora na Duque de Palmela, sob o comando da Fundação Oriente (de que Murteira Nabo é curador), após ter largado do lugar onde está agora o Sheraton Lisboa e ter andado à deriva pelo Chiado, Amoreiras e Monte Estoril.

Apesar de ter estado preso num engarrafamento na avenida da República – onde foi feliz durante os sete anos em que presidiu à PT -, chegou à hora marcada, sem gravata e uma constipação que o arrelia há 15 dias, ao almoço em que, no essencial, usou o chapéu de presidente do Eco, um movimento de cidadania constituído por três dezenas das maiores empresas portuguesas, para ajudar a combater a praga dos fogos florestais.

Aviz, Ritz e Tivoli são os seus poisos habituais de almoço, mesmo durante o Verão, quando fixa residência na sua casa na Praia Grande, em Sintra.

Pediu um Porto e logo avisou que come pouco (só se deixou que lhe servissem uma vez o risotto de cogumelos) e tem cuidado com a alimentação  (o que demonstrou ao afastar a tentação do linguado mal soube que ele era frito) – e fez questão de se assegurar que a vichyssoise não vinha muito fria (por causa da constipação).

Ainda deitou um olhar guloso ao Abade Priscos, antes de encomendar o bolo de maçã com que sobremesou uma refeição regada por um Stanley tinto, das Terras do Sado, produzido pela fundação do homónimo magnata chinês (de que ele é curador).

“Pode parecer uma blague, uma banalidade, mas sinto que nasci para melhorar o mundo, para deixá-lo melhor do que encontrei quando cheguei. Gosto de participar, ser solidário e dar o que posso. Sou assim” – foi esta a explicação fornecida para ter tantos chapéus. “Não gosto da dispersão, mas não consigo evitá-la”, acrescenta.

Murteira Nabo diz que herdou do pai, comerciante alentejano de vinhos e cereais, o espírito de cidadania e a irrequietude que tem tatuadas no carácter e fez com que ele fosse escolhido para chefe de turma, dirigente associativa de Económicas e capitão da equipa de juniores do Lusitano de Évora, campeã regional na época 56/57, onde ele se distinguiu como defesa central, ao ponto de despertar a cobiça dos olheiros do Benfica, Sporting e e Belenenses.

“Como sou barato, não levo nada, convidam-me para tudo e eu sou incapaz de dizer que não a um amigo”, conta Murteira Nabo, que apenas recebe na Galp (que acumula com a reforma da PT).

Foi incapaz de dizer não quando, no rescaldo do terrível Verão de 2005, em que ardeu 10% da nossa floresta, o amigo António Costa, então ministro da Administração Interna, lhe pediu que liderasse um movimento de empresas que ajudasse na prevenção dos fogos.

Murteira Nabo convenceu duas dezenas de empresas a porem logística e equipamentos à disposição da causa de fazer passar a mensagem de três coisas proibidas na floresta: deitar cigarros para o chão, fazer fogueiras e lançar foguetes.

“97% dos incêndios são causadas pelo homem. A maioria das ignições são involuntárias, derivam de comportamentos negligentes”, justifica. Os perigos de cigarros, fogueiras e foguetes foram repetidos nos pacotes de açúcar da Delta, nos sacos dos supermercados, nos postos da Galp, nos carimbos dos CTT, etc,  Logo no primeiro ano, o movimento Eco contabilizou  60 milhões de contactos, numa campanha que a ser paga custaria sete milhões de euros.

Nos últimos três anos tem ardido cada vez menos, o que atribuiu ao efeito conjugado de condições metereológicas favoráveis (Verões mais húmidos), a franca melhoria dos mecanismos de prevenção e combate, e, também, do êxito da campanha do seu movimento. Em 2006, apenas 30% dos cidadãos achavam que deviam ser responsáveis pela prevenção dos incêndios florestais. Em 2008, essa percentagem tinha subido para 44%. “A mensagem está a passar”, garante.

Este ano, por causa dos incêndios de Março, a área ardida já superou a do ano passado, o que deixa Murteira Nabo apreensivo. Mas para ele o decisivo é fazer evoluir o movimento, retirando-lhe sazonalidade (“A prevenção é a chave. O fogo combate-se no Verão, mas previne-se no Inverno”)  e deslocando o seu centro de gravidade do combate ao fogo para a defesa da floresta.

“Somos o país como maior cobertura florestal da Europa. Dois terços da nossa superfície são floresta, que vale 3,2% do PIB, 11% das exportações e 260 mil postos de trabalho. A floresta é estratégica para Portugal. Não podemos deixar os incêndios destruir esta nossa riqueza”, concluiu Murteira Nabo, um economista a quem a responsabilidade social “dá prazer” e que não gosta de fazer caridade, “mas ajudar a resolver problemas”. 

Jorge Fiel

Esta matéria foi publicada hoje no Diário de Notícias

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Aviz

Rua Duque de Palmela 32, Lisboa

Couvert … 7,60 euros

1 Tawny Burmester … 4,00

2 Vichyssoise … 9,40

1 Bacalhau à Gomes de Sá … 16,20

1 Risotto cogumelos e tomilho … 14,50

1 Stanley tinto Terras do Sado … 18,80

1 Água Chic 1 l … 2,50

1 Água Pedras 0,75… 3,00

2 Sobremesas … 10,40

2 Cafés … 3,00

Total … 89,40 euros

Teixeira dos Santos e 2 assaltos em Famalicão

Eu já simpatizava com ele. Ambos somos duplamente do Porto (clube e cidade). Mas Teixeira dos Santos subiu alguns pontos na minha consideração ao declarar: “Não sou um super-homem. Sou um simples cidadão que, quando tem de trabalhar mais, trabalha”.

Ao acumular a Economia com as Finanças, o ministro induziu ganhos de produtividade num sector (Função Pública) que bem anda precisado deles, como o prova o facto de termos 52 almirantes para 40 navios.

A baixa produtividade é a kryptonite que debilita a nossa economia. Portugal foi um dos três países da OCDE onde a produtividade registou a desaceleração mais significativa entre 2001 e 2006.

A riqueza por hora trabalhada em Portugal é das mais baixas da Europa, apesar de passarmos horas infindas no local de trabalho, desperdiçadas em reuniões improdutivas, incursões pessoais ao YouTube – e pausas para café, aproveitadas para alimentar a má língua interna, tão perniciosa para o ambiente como a traça num guarda-fatos.

Há a ideia que tudo muda quando vamos para fora. O exemplo clássico desta tese é o Luxemburgo, que é o país mais produtivo do Mundo e tem 20% de portugueses na sua população activa.

Acho que o problema não é de ares, pois, do lado de cá da fronteira, há, em todas as profissões (criminalidade incluída), gente muito competente, capaz e produtiva – e gente que não gosta de trabalhar e faz tudo em cima do joelho. Em Junho, em Famalicão, assistimos a dois casos exemplares destas diferentes atitudes perante o trabalho e a vida.

Na madrugada de 2 para 3, um bando de incompetentes assaltou a igreja de Stª Eulália, onde não havia um cêntimo sequer, pois, como todos os paroquianos sabem, há já dois anos que o padre substituiu as tradicionais caixas das esmolas por peditórios realizados durante a missa.

Seis dias depois, na freguesia de Ribeirão, um grupo de assaltantes limpou todo o dinheiro que havia no cofre de abertura retardada da agência do Banco Popular, após desactivarem o alarme, cortarem a electricidade e desligarem a videovigilância e os sensores de movimento. A operação demorou pelo menos três horas, mas ninguém deu por eles e não deixaram vestígios. Para tudo é preciso competência e profissionalismo.

“Temos de trabalhar mais horas e, sobretudo melhor, com mais produtividade”, avisou-nos Américo Amorim, que sabe do que fala porque apesar de só ter recebido o primeiro par de sapatos no final da primária, conseguiu reunir a maior fortuna de Portugal.

O ideal seria trabalharmos menos e produzirmos mais. Mas na nova ordem económica global em formação, não temos outro remédio senão trabalhar mais e produzir muito mais.

Jorge Fiel

Esta crónica foi publicada hoje no Diário de Notícias

Margarida Menezes

Margarida celebrizou-se após se ter cruzado com Cicciolina (no foto)

Não é gorda, nem magra. Mais para o alto do que para o baixo. Não é feia, mas ninguém a inscreveria num concurso de beleza. Margarida é uma rapariga normal, vestida à Zara (túnica azul Bershka e jeans rasgados Pull & Bear) e com sandálias brancas Seaside. A única coisa que a diferencia é que os estudos garantem que a vida sexual das raparigas portuguesas começa aos 15 anos e ela já vai nos 26 e ainda nada…

Filha única de um vigilante reformado e de uma mulher a dias, mora no Barreiro e trabalha em “marketing social”, o que traduzido quer dizer que ganha um euro por cada peluche que vende em supermercados, shoppings e hospitais, sendo que outra parte da venda reverte para uma escola de crianças com deficiência auditiva.

Escolheu almoçarmos num restaurante brasileiro, no Parque das Nações, não só porque adora tudo quanto se relaciona com o Brasil (“danço tudo, forró, samba, e pagode!”) mas também porque fica ao lado da Restart, a escola onde fez um curso de Organização de Eventos, que durou dez meses e não lhe ficou barato – teve de vender 2600 peluches para o pagar.

Pediu bobó de camarão e sumo de manga. Apesar de ser gulosa, passou a sobremesa por preocupação com a linha. Quando vai ao karaoke (a sua interpretação de Amor de Água Fresca, de Dina, é afamada) bebe um Tango, “com mais groselha do que cerveja, para ficar mais docinho”. Nas Ladies Nights, arrisca um Baileys.

Viciada em Internet (chega a estar ligada 12 horas seguidas e a comer em frente ao computador), Margarida deu o passo decisivo para emergir do anonimato quando, por brincadeira, a 13 de Janeiro de 2008 fundou o Clube das Virgens (clubedasvirgens.blogspot.com), após se ter certificado no Google que não havia nada do género em Portugal.

O sucesso não foi imediato. As adesões só começaram depois dela ter entrado no circuito mediático ao apresentar uma comunicação numa conferência sobre o Desejo, organizada pelo Espaço T, que contou com a participação especial de Cicciolina.

Neste momento, o Clube das Virgens já tem 35 sócias - meninas entre os 16 e os 32 anos que trocam confidências num fórum privado – e Margarida é uma pequena celebridade, com aparições regulares na televisão, rádio e colunas de jornais e revistas cor-de-rosa.

Expansiva, lida bem com a exposição pública, que lhe tem trazido algumas coisas boas e outras que nem por isso. A convite de uma editora, está a escrever um livro, onde desnuda os seus fantasmas. “Quando andava na 2ª classe comecei a escrever um diário, onde confessava as minhas ansiedades e amores platónicos”.

No mês passado, em troca de cobertura televisiva, a TVI pagou-lhe a primeira consulta de Ginecologia, de onde ela saiu decidida a usar a pílula, não porque esteja a fazer planos de abandonar o clube, mas porque ficou a saber lhe fará bem à pele e ajudará a regular o ciclo menstrual.

Mas já provou o lado amargo da fama. Ex-dançarina das Super Águias (que actuam com pompons antes dos jogos em casa) e benfiquista, candidatou-se  e foi aceite para guiar visitas ao Estádio da Luz, mas acabou por ser dispensada antes de começar porque Luís Filipe Vieira não gostou do título – “Jesus, a Virgem e o Burro” – de um artigo alusivo ao assunto.

Margarida deu o primeiro beijo aos 22 anos e já teve dois namorados (um em 2005 e outro em 2007) que ela classifica como “amostras de relacionamento”, onde não passou “de uns beijos e uns amassos”. Acha que apesar das juras de amor, eles só queriam sexo. “As palavras enganam. As acções não”.

Não é por razões religiosas que se mantém virgem, mas apenas porque “ainda não apareceu a pessoa especial”.  “Para acreditar em Deus não é preciso ter uma religião. E para falar com Ele não é preciso rezar”, explica.

Os pais não são casados e ela não é baptizada. “Não tenho o sonho de casar. Mas se casar irei como uma princesa, de branco, véu e grinalda, com vestido redondo e coroa”, conclui esta rapariga que além de ambicionar encontrar o rapaz certo para entregar a sua virgindade,  adora praia, gostava de ir ao Brasil, precisa de um emprego e adorava ter um Peugeot Cabriolet azul metalizado.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

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Sabor a Brasil

Alameda dos Oceanos, Parque das Nações, Lisboa

4 pãezinhos de queijo … 1,80 euros

1 linguiça toscana … 2,00

1 chopinho 30 cl … 2,00

2 suco de manga… 7,00

2 bobó de camarão … 25,00

1 café… 1,00

Total … 38,80

Missa de 7ª dia pela alma política de Pinho

 

Já se passou uma semana e eu continuo sem perceber porque é que a generalidade dos políticos e comentadores acham óbvio que ao fazer os célebres cornos Manuel Pinho assinou a sua certidão de óbito político.

À data da ocorrência, eu estava no Twitter e a primeira coisa que me veio à cabeça foi estabelecer uma hierarquia de gravidade de gestos mal educados.

Será que Pinho ainda estaria na Horta Seca se, em vez de ter feito cornos, tivesse posto a língua de fora, como Einstein na sua mais célebre fotografia?

Estou em crer que sim, que se teria aguentado se mostrasse a língua ou até se fizesse um manguito ao Bernardino – neste último caso até podia invocar em sua defesa tratar-se de um gesto tradicional português, imortalizado pelo Zé Povinho de Bordalo Pinheiro.

Já não tenho dúvidas de que também lhe fariam logo o funeral se ele tivesse feito piretos.

Quando vi a imagem, fiquei até agradavelmente surpreendido pela exuberância plástica do gesto do ex-ministro, com a cabeça baixa, a imitar o touro antes de marrar, e os indicadores bem espetados junto à testa!

Eu sempre fiz os cornos de uma forma mais discreta,  salientando o indicador e mindinho, enquanto o polegar segura os outros dedos, escondidos na palma da mão.

No dia seguinte, ao ler, nos obituários políticos, o inventário das asneiras que Pinho disse e fez, estranhei o protocolo desta política em que um ministro sobrevive a uma data de disparates para sucumbir quando, num momento da exaltação, recorreu a um gesto (imaginativo!) para significar a sua opinião de que um deputado não parava de marrar na mesma direcção.

Quando mais penso no assunto, mais sinto que a politica portuguesa precisa de uma gramática nova e mais percebo porque é que apenas 28,5% dos eleitores estão satisfeitos com a nossa democracia, contra 35%, em 1999, e 40% em 1985. (1)

Eu preferia que Cavaco deitasse a língua de fora, do que vê-lo a gerir com incomodidade e silêncios incompreensíveis a sua ligação com Dias Loureiro e o investimento em acções da SLN.

Eu preferia que Durão fizesse piretos, do que tê-lo apanhado a mentir, ao aumentar os impostos depois de ter jurado que não o faria.

Eu preferia que Sócrates fizesse cornos, mas tivesse um curso de Engenharia concluído sem recurso a habilidades duvidosas.

Eu preferia que Manuela fizesse um manguito, em vez de ouvi-la a acusar o PS de um acto (a venda da rede fixa à PT) da sua inteira responsabilidade.

Não estou nada satisfeito com esta politica em que fazer cornos pela frente é letal - e dar facadas pelas costas é legal.

Jorge Fiel

Esta crónica foi publicada hoje no Diário de Notícias

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(1)   Conclusão do estudo Reforma institucional em Portugal, perspectiva das elites e das massas, de André Freire, Manuel Meirinhos e Diogo Moreira

 

Fernando Cardoso

Foto Luis Costa Carvalho

Não. Não foi com leite que empurramos a Posta e o Arroz do Fumeiro (pratos que partilhamos), mas sim com um Planalto bem fresco. O leite foi só para a fotografia. Um truque para chamar a atenção.

Habitualmente, Fernando restringe ao pequeno almoço o consumo de leite – com cereais ou o café. Mas o filho adoptivo, de 18 anos, é como os nórdicos, ou seja acompanha as refeições com leite, o que faz com que os dois gastem um pacote todos os dias, bem acima do consumo médio per capita português, que estabilizou nos 90 litros/ano, em linha com a média europeia.

O Restaurante Caldeira, junto ao coreto do Jardim Cordoaria, fica a poucas centenas de metros da sede na Fenelac, na rua da Restauração, que desce em direcção ao rio, e por isso é um dos que ele mais frequenta no dia a dia por Fernando.

Mas a escolha de uma casa especializada em cozinha regional portuguesa (a alternativa era um italiano na Marginal), encerra algum simbolismo num momento em que as importações de excedentes de leite francês e polaco, pelos dois gigantes da distribuição (Sonae e Jerónimo Martins), obrigou os 50 mil produtores de leite a desenterraram o machado da guerra.

“O litro de leite está a ser vendido mais barato que um litro de água”, denuncia Fernando Cardoso, 35 anos, um engenheiro agrário que há nove anos trabalha na Fenalac.

No início de Junho, a Sonae pôs o sector a ferver ao pôr à venda a 39 cêntimos o pacote de litro de leite da sua marca branca de combate É, uma descida abrupta de preço que logo seguida pelo Pingo Doce (Jerónimo Martins) e as cadeias estrangeiras (Lidl, Auchan/Jumbo, etc).

Com os dois euros que custa um litro de água Vitalis Premium no Continente, compram-se cinco litros de leite e ainda se guarda cinco cêntimos de troco.

O leite está entornado, e os produtores já começaram os protestos, um pouco por todo o país, em frente a hiper e supermercados, acusando a grande distribuição de os encurralar numa situação dramática.

“O leite foi dos poucos sectores da agricultura que se soube organizar e ter uma visão de mercado. O equilíbrio desta fileira, que representa 1,5 milhões de euros/ano, está a ser rompido pelas importações maciças de excedentes de leite estrangeiro. É pena que sejam duas cadeias portuguesas a porem em causa a produção nacional”, denuncia – a Auchan garante que o seu leite é comprado em Portugal.

A produção nacional de leite correspondia grosso modo ao consumo. Esta tranquilidade foi sacudida pelo crescimento de 50% nas importações verificado em 2008. Hoje em dia, um em cada quatro pacotes de vendidos são de leite estrangeiro,  o que põe em perigo o futuro o nosso efectivo de 306 mil vacas leiteiras.

O dirigente da federação leiteira acusa a Sonae de “estar a atacar deliberadamente a Lactogal”, a maior empresa alimentar da Península Ibérica, criada por três organizações de produtores (Proleite. Agros e Lacticoop).

A Lactogal recolhe 55% da produção e com as suas marcas (Mimosa, Agros e Gresso) tem uma quota de mercado de 60%. Está a comprar o leite aos produtores a 30 cêntimos o litro, e como garante a compra de toda a produção dos seus associados está a secar 15% do leite e a constituir stocks monumentais.

A Fenelac desconfia de dumping nos 39 cêntimos por pacote. “O preço dos excedentes de leite do centro da Europa ronda os 22 cêntimos. A embalagem de Tetra Pak custa 10 cêntimos e há que adicionar os transportes, controlo de qualidade, distribuição e margem”, diz Fernando Cardoso, que acha estranho que a Jerónimo Martins venda o leite polaco dez cêntimos mais barato em Portugal do que na Biedronka.

“É impossível sermos competitivos com o litro a 39 cêntimos. Não podemos baixar mais os nossos custos de produção”, jura o secretário geral da Fenalac, que antecipa a eclosão de graves problemas sociais se a distribuição persistir no braço de ferro com os produtores de leite.

Como não vale a pena chorar sobre leite derramado, Fernando pediu um leite creme para a sobremesa. Assim como assim, sempre deu uma ajuda ao consumo…

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

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Restaurante Caldeira

Campo Mártires da Pátria, 53, Porto

Posta Maronesa … 13,90 euros

Arroz do Fumeiro … 10,50

Planalto …. 9,50

Leite creme… 2,50

2 cafés… 1,40

Total … 37,80

A operária que puxou pela manga de Pinho

Em Abril, Manuel Pinho estava de visita a uma corticeira de Aveiro quando uma operária lhe puxou pela manga e pediu: “Salve o nosso patrão, senhor ministro. Se o salvar a ele, salva os nossos empregos”.

Apesar de ter raízes familiares em Espinho, Pinho ficou de boca aberta. Como está mais habituado a visitar as grandes empresas da cintura industrial de Lisboa, ainda não reparara que nas PME nortenhas o velho conceito marxista de luta de classes foi substituído pela colaboração no duro combate pela sobrevivência.

Com o PIB e as exportações em queda livre, e o desemprego a galopar, a oposição clássica entre patrões e empregados deu lugar a uma nova dicotomia – entre empregados e desempregados.

Mesmo a tradicional tensão entre trabalhadores a prazo (que podem ser despedidos sem pagamento de indemnização) e do quadro foi atenuada pela chuva torrencial de falências que se adivinham.

A aristocracia operária, de que a Auto Europa é o expoente, faz mal em olhar com desdém e sobranceria para o sábio desabafo da operária corticeira. Na esmagadora maioria das PME, que são 99% do nosso tecido industrial, já toda a gente entendeu que patrões e operários estão no mesmo barco e devem unir esforços para evitar que ele se afunde.

Em Outubro de 2006 (ainda as celebridades pagavam exorbitâncias para serem apresentadas a Madoff e o Lehman era uma vaca sagrada e admirada urbi et orbi), os dirigentes do poderoso sindicato IG Metall já tinham percebido o fim da luta de classes e aceitaram aumentar a semana de trabalho, sem pagamento extra, contra a garantia da administração da Volkswagen de manter, até 2011, os 100 mil postos de trabalho na Alemanha e fazer novos investimentos no país – assinando a certidão de óbito do “operários de todo o Mundo uni-vos”.

Mais recentemente, os trabalhadores da FedEx, HP e Saks Fith Avenue (só para citar três exemplos), aceitaram reduzir os salários para ajudar as suas empresas a tentar manter a cabeça fora de água.

O recurso ao apelo à generosidade dos trabalhadores já desembarcou em Portugal. Com a perspectiva de fechar o ano com um prejuízo superior a seis milhões de euros, o Público pediu aos seus colaboradores que aceitassem reduzir o salário.

Participar no esforço de sobrevivência da empresa em que trabalhamos é um acto de coragem e lucidez que tem de ser elogiado. Mais vale perder 200 euros por mês do que o salário de 2000 euros todos os meses.

Mas para os apelos à solidariedade serem bem sucedidos, o exemplo de sacrifício tem de vir de cima. Ninguém ouvirá um apelo à redução do ordenado vindo de dirigentes que acabam de trocar de carro e de receber suculentos prémios.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

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