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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Expulsar as cadeiras das salas de reunião

As conversas que distraem os operários durante o trabalho diminuíram radicalmente na Inarbel desde que as “grandes músicas” da RFM começaram a passar, 24 horas por dia, na instalação sonora da fábrica. Esta foi uma das três coisas que aprendi na visita guiada que o empresário têxtil Zé Armindo, 36 anos, me proporcionou à sua fábrica, no Marco de Canaveses, onde produz roupa para criança da marca Dr Kid.

Se com a RFM e intervalos de 15 minutos, de duas em duas horas, aumentou a produtividade na fábrica, para atingir esse objectivo nos escritórios Zé Armindo teve de fazer desaparecer as cadeiras e encomendar  mesas especiais, com mais de um metro de altura.

Na Inarbel as reuniões são de pé, para  poupar tempo. Numa reunião de pé, tratam-se, em 15 minutos, assuntos que demorariam hora e meia a resolver numa reunião com toda a gente sentada.

Costuma dizer-se que o tempo é dinheiro, mas Jim Rohan, um especialista em programas de motivação, ensinou-nos que o tempo é mais valioso do que o dinheiro, porque podemos sempre ganhar mais dinheiro, mas não podemos ganhar mais tempo – o dia nunca durará mais do que 24 horas.

Contas feitas por alto, calculo que, desde que há 30 anos comecei a trabalhar, participei em cerca de dez mil reuniões. Algumas foram divertidas, como, por exemplo, aquela de preparação da primeira página do Expresso em que o Zé António Saraiva, face à ausência da Cândida Pinto, sugeriu que aproveitássemos para dizermos mal dela, proposta logo acatada por todos. Mas a esmagadora maioria foram chatas e ineficazes, um desperdício de tempo e dinheiro.

Sempre me impressionou que jornalistas brilhantes se comportassem como miúdos travessos abandalhando as reuniões, chegando atrasados, atendendo o telemóvel, entregando-se a pequenos exercícios de vaidade, distraindo-se em conversas laterais, falando a demais e a despropósito.

Oito em cada dez empresários portugueses acham que a maioria das reuniões são desnecessárias e improdutivas, segundo um inquérito da AESE. Tudo que é excessivo faz mal. Até comunicar. Entre FB, Twitter, mails, Messenger, reuniões e telefonemas gastamos a comunicar tempo que seria mais bem empregue a trabalhar. O excesso de reuniões é uma das maiores fontes de ineficiência das organizações. Segundo calcula Kevan Hall, o guru inventor do “speed lead”, desperdiçamos um dia por semana (nove anos de vida!) em reuniões que não acrescentam valor.

Seriamos todos mais ricos e felizes se imitássemos o Zé Armindo, eliminássemos as cadeiras das salas de reunião e encomendássemos mesas 40 cm mais altas. A prosperidade passa por reuniões menos frequentes e mais curtas.

Jorge Fiel

Esta crónica foi publicada hoje no DN

Juca Magalhães

Juca (o mais novo) com irmão, irmã e a mãe, Maria Natércia

Mal soube que ele tinha aceite a direcção de Informação da TVI, o companheiro habitual de golfe das madrugadas de 4ª feira (Joaquim Oliveira) ligou-lhe a dar os parabéns e adverti-lo para o facto do seu principal trunfo (“ser um gajo porreiro”) ser também uma grande fraqueza.

“A eleição de Obama e o fantástico desempenho de Lula demonstram que o mundo está sequioso de gente empenhada em sarar as feridas existentes e não em abrir novas. A TVI estava a precisar de um gajo porreiro. Não vim para fracturar mais, mas para relaxar e fazer as pessoas felizes”, explica Júlio (Juca para os amigos).

O novo director de Informação da TVI tem 46 anos, nasceu no Porto, filho de um guarda livros, mas com quatro meses de idade já estava a voar para Angola. Cresceu em Sá da Bandeira (actual Lubango) e retornou em 1975. A experiência africana ficou-lhe tatuada, como se pode ler nos dois best sellers em que ficcionou as aventuras do regresso a Portugal do milhão de portugueses que viviam nas ex-colónias (Os Retornados) e dos soldados que, de G3 em punho, tentarem manter o império colonial (Um Amor em Tempos de Guerra).

Encontramo-nos na TVI num dia chuvoso, e fomos para a Petisqueira do Gomes, em Barcarena, no Fiat 500 verde pistáchio (o único desta cor existente em Portugal), que ele usa durante as semanas nas deslocações em Lisboa. Os fins de semana passa-os no Porto, com a mulher Manuela (professora) e os filhos André (17 anos) e Mariana (14 anos), na casa junto ao Parque da Cidade, onde tem Pinto da Costa como vizinho.

Zé Gomes, o dono do restaurante, é de Ponte de Lima e a sua paixão pelo FC Porto revela-se em grandes emblemas espalhados pelo restaurante. Juca também é dragão (doente). Equipado de azul e branco, foi por diversas vezes campeão nacional de basquetebol, modalidade em que é detentor de um recorde difícil de bater – 128 pontos marcados num só jogo.

Com os olhos postos no futuro, recorre a uma metáfora futebolística para responder a uma questão do passado. “O Diego, internacional brasileiro, foi dispensado pelo FC Porto não por ser mau futebolista mas porque a sua maneira de jogar não se enquadrava na filosofia de jogo que o treinador queria imprimir à equipa”, diz. Para perceber o que ele pensa do famigerado Jornal de Sexta é ler Moura Guedes no lugar de Diego, Juca no de treinador - e TVI no de equipa.

“Tenho igual carinho e atenção por todos os jornais da TVI, de 2ª a domingo, do Diário da Manhã ao Jornal Nacional , passando pelo Jornal da Uma que apresentei durante muitos anos. Todos eles são igualmente importantes na minha concepção de informação”, declara.

Empowerment, a buzz que é o último grito da moda em termos de gestão de recursos humanos, é uma palavra querida para Juca: “Quero que as pessoas que até agora estavam apenas habituadas a executar reactivem a função pensar e assumam mais responsabilidades. Esse é o segredo do sucesso”.

Fazer com que a informação da TVI ajude Lisboa a descobrir o resto do paíss, do Norte até ao Algarve e regiões autónomas, é um dos objectivos de Juca, que não quer nunca perder as audiências de vista:

“O Zé Eduardo Moniz sabia programar como ninguém em Portugal e dar audiências aos jornais. Eu sei que devemos à ficção nacional sermos o canal líder. A nossa informação tem de ser abrangente e adequada ao público que temos. Não me vou esquecer, por um segundo que seja, do compromisso com os telespectadores”.

Emigrado em Lisboa, não está preocupado com a sua longevidade no cargo. “Estamos em tudo a prazo. Até na vida. Não me interessa saber se vou ficar dois, cinco ou dez anos. Estou aqui para fazer um bom trabalho e tenho a certeza que não vou falhar. Sou jornalista e estou director de Informação. Não pedi a ninguém para vir para aqui, não estou agarrado ao lugar. Não estou condicionado por nada, nem por ninguém. Sei o que quero e estou habituado a subir as escadas sem ter de me apoiar em qualquer corrimão”, afirma Juca, que, confessa, adoraria ter Marcelo de regresso à TVI. “Pelo professor, voltaria logo à antena”, conclui.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

 

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A Petisqueira do Gomes

Largo General Humberto Delgado, 2, Barcarena

Couvert … 1,20 euros

Entradas (bolos de bacalhau, chamuças e filetes de polvo)… 10,00

Bacalhau à Gomes … 30,00

Vinho da casa (branco do Douro) … 7,50

2 cafés ... 1,30

Total … 45,50 euros

A terra é redonda e a água é molhada

O João Carreira Bom, que, além de excelente cronista também não era parvo nenhum, achou um remédio infalível para fazer os Altos e Baixos do Expresso sem pagar a portagem de inflacionar a lista de inimigos que este tipo de coluna costuma acarretar. A receita, de uma simplicidade desarmante,  consistia em elogiar as pessoas que punha a descer e criticar as que colocava a subir.

Quando alguém lhe telefonava a queixar-se por ter sido posto a descer, ele educadamente chamava a atenção para as palavras gentis que lhe dedicara. Se o motivo da reclamação era uma frase mais áspera, o Carreira Bom lembrava ao queixoso que tinha saído a subir. Usando esta técnica, designada por cobertura de risco nos meios financeiros, controlava os danos inerentes a uma rubrica agreste.

O Carreira Bom tinha o rabo escaldado e não é impossível que esta astuta prudência mergulhasse as raízes no facto de ter estado quase a ser despedido do Expresso após ter publicado na Gente uma pequena nota narrando alegadas desventuras marítimo-sexuais de um advogado, por sinal amigo de peito do patrão.

Eu teria evitado alguns dissabores se tivesse dado ouvidos ao conselho do Carreira Bom durante os três anos em que tive o encargo de fazer a coluna de Altos e Baixos da Economia do Expresso. Mas sempre fui adepto de que cada pessoa deve vestir o seu próprio fato – e o meu não contempla as meias tintas, nem o recurso ao “por um lado…” mas “por outro…” para tentar agradar a toda a gente.

Vem esta história a propósito do debate sobre o interesse dos políticos em plantar notícias e pressionar quem decide o que vai na primeira página ou abre o telejornal.

Para mim, nisto do jornalismo, há duas coisas tão óbvias como a Terra ser redonda e a água molhada:

a)     Todas as fontes foram, são e serão sempre interesseiras. Ninguém no seu perfeito juízo conta algo a um jornalista se não estiver completamente convencido que tirará proveito da publicação do que acaba de comunicar;

 

b)    Os políticos, empresários, dirigentes desportivos, agentes culturais, agências de comunicação, etc, sempre tentaram, tentam e tentarão condicionar a agenda dos Media e pressionar os responsáveis pelos fluxos informativos.   

O interesse e a pressão são legítimos. Estão no papel deles. Acho tão ridículo um jornalista queixar-se disso como ouvir um guarda-redes acusar um avançado adversário de lhe ter tentado marcar golo. O papel dos responsáveis editoriais consiste em destrinçar o que é do interesse público e dos leitores do que não é, evitar que produtos tóxicos contaminem o produto que dirigem - e aguentar as consequências. Isso é o que importa. O resto é ruído e conversa mole.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

David Schneider

 Foto Pedro Granadeiro

 

Talvez seja forçado dizer que nove em cada dez multimilionários dormem em lençóis portugueses, mas a verdade andará por lá perto, porque os nossos têxteis lar têm a fama (e o proveito) de serem de excelente qualidade.

“Recebemos agora a encomenda de mais cem roupões para a casa no sul de França do Abramovich. Gostou tanto deles que quer mais para oferecer aos amigos”, conta David Schneider, 42 anos, senior vice-president da Li & Fung, multinacional com 80 escritórios em 40 países, onde trabalham 15 mil pessoas, e que tem um catálogo de clientes recheado de marcas como a Disney, Calvin Klein, L’Oreal ou Tommy Hilfiger.

A Li & Fung (LF) só não tem fábricas nem lojas. De resto trata de tudo, desde a ideia, até ao design, colocação da encomenda, controlo de produção e entrega ao retalho. Em 2008, tratou da produção de quatro biliões de peças. Calcula-se que mais de 1/3 do que está à venda num grande centro comercial norte-americano foi colocado por ela.

“O nosso trabalho é procurar o produto certo ao preço certo”, explica David, que nasceu no Porto, licenciou-se em Genebra (Suiça) e já trabalhou em Moçambique e na África do Sul. Passa metade do ano a viajar, pois além de responsável pelo escritório português (que fica na Maia, emprega 60 pessoas e factura 60 milhões) tem a seu cargo áreas de negócio em destinos tão distantes como a Índia, Turquia, China e Paquistão.

Escolheu almoçarmos no Do Park -  que fica em frente ao Parque da Cidade, na urbanização onde vive Pinto da Costa -, restaurante dirigido por Manuel, do falecido Dom Manoel, que nos tempos de esplendor da indústria nortenha era a cantina preferida dos empresários. Como está de dieta, David não tocou no paté do couvert, resumindo a refeição frugal a robalo grelhado, acompanhado por água.

A Li & Fung é um dos melhores termómetros para medir a competitividade da nossa indústria. “Já comprámos mais vestuário. Agora já só vale 50% da facturação, sendo que os têxteis lar, a cerâmica e o vidro são os sectores com mais peso na outra metade”, diz

“Temos vindo a perder competitividade porque não estamos a ser suficientemente inovadores” diagnostica David, um liberal que cita Reagan (“O Governo nunca é a solução, é sempre o problema”) e tem uma posição crítica sobre alguns aspectos da actuação governamental.

Acha um desperdício as acções de promoção sectoriais (vinho do Porto, turismo, calçado, etc): “O Governo devia promover a marca Portugal e assim beneficiava todos os sectores”.

Acusa o Governo de não ter sido eficaz no desfazer do nó dos seguros de crédito, que penalizou muito as nossas exportações no coração da crise: “Devia ter feito como outros Governos que logo se atravessaram, garantindo a cobertura do risco de não pagamento”.

Está preocupado com os prazos de pagamentos, que chegam a ultrapassar os 180 dias: “Isto assim não é uma economia saudável. Quando uma empresa fecha, é um rombo para os fornecedores. Devíamos imitar o Sarkozy que impôs por lei um prazo máximo de 60 dias”.

E considera lamentável que a energia caríssima afecta a competitividade, em particular na cerâmica, indústria onde o maior custo é a energia.

Apesar desta chuva de reparos, David não é uma pessoa azeda. Está satisfeitíssimo por a Vista Alegre ter ganho o fornecimento exclusivo de chávenas para a Nespresso. E olha o futuro com um optimismo moderado.

“Em meados do próximo ano, a recuperação vai ser evidente. Mas nada voltará a ser como dantes. Temo que o new normal seja marcado por mais intervenção do Estado e crescimentos mais pequenos, devido ao proteccionismo e a não se andar para a frente com Doha e o aprofundamento da liberalização do comércio internacional”, antecipa David, que não duvida de que o pior já passou: “Quem aguentar até 2010, vai ganhar muito dinheiro”.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

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Do Park

Av. Boavista 4191/4201, Porto

Couvert … 1,80 euros

Robalo grelhado …25,80

2 Vitalis 0,5 l … 2,90

Água Castello 20 cl … 1,45

2 cafés … 1,90

Total … 33,85 euros

É mentira não termos dinheiro

Há coisa de meio ano, mudamos de casa. Aproveitamos essa ruptura para criar novos hábitos. Um deles, talvez o mais importante, foi o de ter televisão desligada na hora da refeição. Nem imaginam o tempo de qualidade que ganhamos. Com o televisor off, a família está on, e falamos de tudo - inclusive de televisão.

Noutro dia, em cima da mesa, a fazer companhia às pataniscas de bacalhau (acompanhadas por feijão preto com pedacinhos de bacon), esteve o significado do Ucrânia-Inglaterra, do apuramento para o Mundial da África do Sul, ter sido transmitido apenas pela Net e vendido à razão de 4,99 libras por lar.

Não sou tão radical como o colunista do Guardian que leu neste facto o anúncio da morte da televisão, mas se fosse dono de um canal estaria seriamente preocupado, porque as más notícias sucedem-se. Na semana anterior, soubemos que, na mesma Inglaterra, o investimento publicitário na Internet foi, pela primeira vez, superior ao canalizado para a televisão.

O computador já assassinou as máquinas de escrever e agora, propulsionado por uma Internet empanturrada pela poção mágica da largura de banda, prepara-se arruinar os grupos de Media que fizeram das licenças de emissão de televisão o centro de gravidade da sua actividade.

Lá em casa, continuamos a ver televisão, mas cada vez menos. Nas horas de lazer, os dois sub 18 já passam mais tempo em frente ao computador do que ao televisor. E a dieta de consumo mudou radicalmente. Raramente vamos aos generalistas, preteridos em função dos canais de notícias, dos Sport TV e das séries dos Fox e AXN.

Por tudo isto, fiquei muito aborrecido quando li que a RTP vai receber do Estado mais 62 milhões de euros, através de um aumento de capital, elevando para 292 milhões de euros o total de fundos públicos a que vai sumiço este ano.

Não tenho nada contra a RTP. O Malato tem muito jeito para apresentar o Jogo Duplo, que combina cultura e divertimento, proporcionando uma animado serão em família. E a RTPN é o primeiro canal que busco quando quero saber notícias nacionais. Mas não descortino uma boa razão para nós, contribuintes, estarmos a pagar os prejuízos crónicos de uma empresa que nos faz tanta falta como uma dor de dentes.

Recentemente, o TGV partiu o país entre os que o acham um investimento urgente e os que alegam mão termos dinheiro para o fazer. Na verdade, os argumentos “não tenho tempo” e “não tenho dinheiro” são muito mentirosos. Ao fim e cabo, nós temos sempre tempo e dinheiro. A questão reside nas prioridades para o emprego do tempo e dinheiro disponíveis.

Desde o ano 2000, já gastamos 2,4 mil milhões de euros com a RTP. O país teria ganho se em vez de desperdiçarmos assim este dinheiro o tivéssemos investido no TGV.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

Marina Costa Lobo

Os politólogos trabalham o resultado das eleições, bem como os dados dos seus inquéritos pós-eleitorais, como se fossem pintores em frente a uma tela. O pintor faz uns riscos, deita um bocado de tinta, e depois dá um passo atrás, para ter perspectiva, antes de avançar de novo e continuar a pintar.

Marina deu esse passo atrás para conseguir ver melhor o que está diante dos seus olhos e convenceu-se que estamos a assistir à fragmentação do sistema partidário.

Olhando em perspectiva para os resultados das legislativas de 2005, das presidenciais de 2006 (onde o rebelde Alegre reuniu um milhão de votos) e das europeias e legislativas deste ano, a investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS), da Universidade de Lisboa, não tem dúvidas: “O nosso sistema bipartidário está sob uma enorme pressão”.

“No auge do bipartidarismo, PS e PSD chegaram a somar 80% dos votos. Nas últimas europeias tiveram juntos o pior resultado de sempre (58,3%)”, afirma Marina Costa Lobo, 37 anos, acrescentando que tudo indica que os menos de 67% de votos concentrados a 27 de Setembro nos dois partidos centrais do espectro partidário não são uma excepção, mas revelam uma tendência.

Marina nasceu em Lisboa, onde vive na Estrela, mas aos 13 anos seguiu na bagagem da mãe e padrasto para a Suíça, tendo feito em Lausanne os três últimos anos do secundário. Passou depois um ano em Portugal, a trabalhar na Herdade do Esporão, antes de voltar a meter-se num avião para se licenciar em Ciência Política e Económica em Durham, no Norte de Inglaterra.

Esteve um ano em Londres, na Andersen Consulting, antes de voltar à Universidade, fazendo em Oxford um doutoramento sobre o poder do primeiro ministro e o funcionamento do Governo em Portugal. Antes de começar a tese, tinha a sensação que no final de década cavaquista, o primeiro ministro tinha muito mais poder do que no início.

Na tese demonstrou que essa sensação era verdadeira e explicou como Cavaco aumentou o seu poder, governamentalizando o PSD (a análise das listas permitiu-lhe quantificar o crescente denominador comum entre dirigentes do partido e membros do Governo) e reforçando imenso o peso da presidência do Conselho de Ministros.

Almoçamos em Entrecampos, perto do ICS. Marina hesitou um bocado (“Tenho de decidir se estou ou não de dieta”, gracejou) antes de escolher um risotto de espargos, enquanto contava pormenores da sua aventura ferroviária para ir de Roma a Sienna, onde esteve a semana passada a arguir um doutoramento – e explicava que não aproveitou a viagem para passar lá o fim-de-semana porque tem filhas pequenas (oito e cinco anos).

O facto das autárquicas permitirem o surgimento de candidaturas independentes e favorecerem a personalização do voto, inspira-lhe cuidados e comentários.

“Os independentes não são realmente independentes. São gente com ideologia e interesses. As candidaturas independentes têm possibilitado a autarcas arguidos, com processos pendentes na Justiça, ou até mesmo já condenados, escaparem à penalização das elites partidárias, recandidatarem-se e manterem-se na presidência de câmaras”, acusa Marina, que elogia a atitude de Marques Mendes de ter excluído Valentim e Isaltino das listas do PSD.

Estes casos, tal como o de Fátima Felgueiras, levam-na a encarar positivamente o escrutínio dos partidos, que para se credibilizarem têm de ser cuidadosos na selecção dos seus representantes.

A teoria do “rouba mas faz” e a fraca opinião que a generalidade das pessoas têm da Justiça ajudam, na sua opinião, a explicar a reeleição sistemática de autarcas condenados por corrupção.

A importância das câmaras como grandes geradoras de emprego e negócios nos municípios mais pequenos permite compreender porque é que 40% dos presidentes já estão no lugar há pelo menos dois mandatos e, por isso, se recandidatem hoje pela última vez. Mas não é esse o caso de Oeiras, para o qual Marina não encontra outra explicação senão a hipótese do argumento “rouba mas faz” também ser eficaz junto do eleitorado mais instruído dos grandes meios urbanos.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

 

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LA Caffé

Av. Campo Grande 3-B 1º andar, Lisboa

Couvert … 3,90 euros

Risotto de espargos verdes com ovo mexido e azeite de trufa …12,00

Risotto de tomate com pimentos, atum e poejos … 13,00

Água LA Caffé Serra da Estrela ... 3,10

2 cafés … 3,00

Total … 35,00 euros

Eu, portuense, ando triste

Os meus amigos de Lisboa ficam surpreendidos por lhes sugerir a Pousada da Juventude quando me perguntam onde devem ficar quando vêm ao Porto. Ao contrário do que o nome indica (e a generalidade das pessoas pensa), as Pousadas de Juventude estão abertas a clientela de todas as idades. E a pousada do Porto está num local magnífico, com uma vista deslumbrante do Douro e a sua foz.

Tenho formatada uma lista de recomendações para os meus amigos que visitam o Porto. Para a experiência francesinha, acompanhada por um príncipe e antecedida de um rissol de carne, aconselho o Capa Negra, no Campo Alegre.

Na Baixa, além dos incontornáveis Majestic e Lello – que se não são o café e a livraria mais bonitos do mundo pelo menos andam por lá perto -, acho imprescindível um passeio a bordo do eléctrico 22, do Carmo até à Batalha, complementado pela descida de funicular até à Ribeira, onde só tem a ganhar se visitar o Palácio da Bolsa (o Salão Árabe é de cortar a respiração) a atravessar a pé o tabuleiro inferior da ponte Luiz I, não se esquecendo de olhar para montante e apreciar devidamente a elegância da ponte D. Maria, uma jóia de Eiffel.

As melhores vistas panorâmicas do Porto obtêm-se a partir de Gaia. As minhas preferidas são as das esplanadas do Bogani (Cais de Gaia) e do Arrábida Shopping. Já que está na margem esquerda, não perde nada se visitar umas caves de Vinho do Porto. É um cliché turístico, mas vale a pena.

Com partida da Ribeira (onde tem a opção de embarcar num cruzeiro pelas seis pontes), junto à igreja de S. Francisco (aquela que tem o interior revestido a ouro), o eléctrico 1 percorre a marginal fluvial. Depois, a partir do Jardim do Passeio Alegre, o melhor é mesmo seguir a pé, ao nível das praias, parar a meio numa esplanada, passar o Castelo do Queijo chegar à frente marítima do Parque da Cidade e olhar a fantástica Anémona que assinala a entrada em Matosinhos.

Se os meus amigos vêm com tempo contado e não podem fazer o programa completo, eu não os deixo partir sem verem os três mais recentes tesouros que enriqueceram a cidade nos anos de viragem do século. Vir ao Porto e não visitar Serralves, ver a Casa da Música e ir de metro até ao Dragão é muito mais grave do que ir a Roma e não ver o papa.

É por isso que eu, portuense, fico triste por ter um presidente da Câmara que nunca pôs os pés no Dragão, só foi uma vez a Serralves (e porque o Fernando Lanhas o foi buscar aos Paços do Concelho e o obrigou a visitar a exposição dele) e não frequenta a Casa da Música – apesar de morar ali ao lado, a menos de cinco minutos a pé. O Porto merece melhor.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

Cristina Azevedo

Foto Paulo Jorge Magalhães

Nunca foi a Guimarães? Pois então prepare-se para ir, porque Cristina acha que “nenhum português pode dar-se ao luxo de não conhecer Guimarães” - e ela não é mulher para descansar antes de atingir os seus objectivos.

Cristina Azevedo, 44 anos, licenciada em Relações Internacionais e pós graduada em Análise Financeira, é a presidente da Fundação Cidade de Guimarães, que está a preparar a Capital Europeia da Cultura 2012.

Nasceu na Beira, Moçambique, de onde veio, órfã de pai e com ano e meio, para Arco de Baúlhe, pequena vila minhota onde as suas origens familiares estão tatuadas na toponímia – o capitão Elísio de Azevedo que dá o nome à rua principal era seu avô.

Quando tinha dez anos, a mãe, professora primária, mudou para Braga, para garantir a educação das duas filhas. No Conservatório Regional da Gulbenkian, Cristina aprendeu ballet e piano, tendo professores marcantes como Borges Coelho e Cândido Lima. Nos institutos Francês, Inglês e Alemão acrescentou línguas a uma sólida bagagem onde já estavam a música e a dança.

Concluído o curso, iniciou-se na área financeira em Paris, foi directora de marketing da Bolsa em Lisboa, e vice-presidente da CCRN no Porto. Regressa agora ao Minho, 23 anos depois de ter saído de Braga, para ajudar Guimarães a aproveitar ser capital europeia da cultura para diversificar as actividades económicas, pois é um dos concelhos mais fustigados pelo desemprego e que mais sofre com a dolorosa reconversão da têxtil.

Almoçamos numa esplanada na Praça de Santiago, em pleno coração de um dos três centros históricos portugueses proclamados Património da Humanidade pela Unesco (os outros são o Porto e Angra do Heroísmo).

“Este centro histórico belíssimo é fruto de uma recuperação exemplar iniciada em 1983, desenvolvida em parceria com os privados, em negociações casa a casa, senhorio a senhorio, inquilino a inquilino”,explica Cristina, que não se cansa de o palmilhar: “É conhecendo as cidades com os pés que elas entram no nosso coração”.

Não precisou de olhar para a lista. No Cheers, pede sempre o mesmo: sopa, salada composta (nozes, tomate e queijo fresco) e sumo de laranja. Uma escolha que evidencia preocupações desnecessárias, pois além de muito alta também é muito magra e não conseguiria engordar porque nunca está quieta – até parece que tem bichinhos carpinteiros.

A Fundação nasceu a 28 de Agosto, mas Cristina já sabe o que vai fazer  para demonstrar em Guimarães a eficácia da cultura como factor de desenvolvimento e sector económico.

Conhecer e criar são as palavras chave e por isso a partir de 2011/12 o pólo de Guimarães da Universidade do Minho vai ser enriquecido com o Instituto Superior de Design e o Centro de Formação Avançada, que leccionará uma dúzia de cursos de pós graduação com destaque para as indústrias criativas, com ligação ao tecido empresarial da região.

Couros, uma área de 10 hectares onde, em 13 fábricas desactivadas e tanques de tinturaria em granito, persiste a memória da indústria de curtumes será a área de intervenção para a 2ª fase da reabilitação do Centro Histórico.

Um laboratório de interpretação da paisagem é uma das ideias para a recuperação e ordenamento da Veiga de Creixomil, uma área verde de 50 hectares, à entrada da cidade, que Álvaro Domingues classificou como “uma mistura de Parque Biológico e terreno agrícola”.

A requalificação do Coliseu e dos museus do Chiado e de Arte Antiga foi a herança tangível de Lisboa 94. A Casa da Música é o ícone do Porto 2001. De Guimarães 2012 vai ficar a transformação em plataforma das artes do mercado municipal e uma fábrica contigua – bem como o novo museu que reunirá obras de José de Guimarães e as colecções de arte africana e pré-colombiana que o artista vai ceder à cidade.

Estes são alguns dos projectos que fervilham na cabeça de uma Cristina apostada em que o orçamento de 111 milhões de euros seja investido (não apenas gasto) e com os olhos postos no futuro: “Na cidade mais portuguesa de Portugal, a História tem de ser usada como trampolim e não como sofá”.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

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Cheers

Praça de Santiago 15, Guimarães

Creme de legumes … 1,50 euros

Salada composta … 3,00

Alheira com grelos … 7,50

Sumo de laranja ... 2,00

Água 1,5 l … 2,00

Total … 16,00 euros

Cavaco pede ajuda ao comissário Wallander

Evito mentir, mas não por razões éticas ou morais, pois em muitos casos uma pequena mentira até pode ser vantajosa     por exemplo, quando jura que não foi por a sua amiga estar muito mais velha e gorda que não a reconheceu.

Fujo da mentira por ser incompetente nesta matéria. O psicólogo Peter Ekman diz que em 54% das vezes uma pessoa normal detecta uma mentira.  No meu caso, essa percentagem é de 99%, pois sempre que tento colorir a realidade sinto o nariz a crescer, a voz a tremer, os olhos a piscar e grossas gotas de suor a escorrem pela testa. No que me toca, Gepeto tinha toda a razão quando ensinou a Pinóquio que “a mentira tem as pernas curtas e o nariz longo”.

Tento remediar esta falha apostando nas omissões e meias verdades, mas sei que esta minha incapacidade em mentir me inibe de ser político. Clinton jurou na televisão que não fez sexo com a Lewinsky. Nixon declarou que ignorava tudo sobre Watergate. Durão garantiu que não ia aumentar os impostos. Marcelo inventou, em benefício de Portas, uma descrição de uma reunião  (inexistente) em Belém, adornada com o pormenor da ementa (caso da vichyssoise).

“Um político de sucesso, com muitos anos de carreira, foi obrigado a aprender a mentir de modo tão profissional diante das câmaras, que a imensa maioria das pessoas não é capaz de detectar os deslizes”, afirma Ekman, o maior especialista mundial em mentira.

Os bons políticos mentem como respiram e se calhar não têm outra solução, a acreditar em Dostoievski que recomendava que “para tornar a verdade mais verosímil precisamos de lhe adicionar mentira”.

Eu não só evito mentir como, neste mundo em que a privacidade foi sacrificada no altar da segurança, parto do princípio de que tudo que digo, escrevo ou faço está a ser ouvido, lido ou observado.

Bruno Castro, da Visionware, especialista em segurança informática, disse-me um dia, meio a brincar (mas também meio a sério), que não podia garantir a 100% que um computador fechado num cofre e desligado da Net estivesse protegido de um ataque.

No Alaska, a ex-governadora Palin sabia que os emails podiam ser acedidos, por isso impôs que o seu staff usasse os endereços pessoais, e não os estaduais, pois ao menos assim evitava que pudessem ser apresentados como prova em tribunal.

A propósito de emails, ouvi dizer que Cavaco anda preocupado com a segurança dos seus computadores, por isso deixo-lhe um bom conselho, Fale ao Bruno Castro, que ele explica-lhe tudo num instante. Senão ficar convencido, então recomendo que recorra ao comissário Kurt Wallander, que ainda recentemente se desembrulhou muito bem de uma complicada conspiração informática (ver A Muralha Invisível, de Henning Mankell).

Jorge Fiel

Esta crónica foi publicada hoje no Diário de Notícias

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