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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

A minha conversa com a Linda da Payless

A Linda, que trabalha no balcão da Payless do aeroporto McCarran em Las Vegas, é muito simpática e tem aquele ar adorável e prestável que todas as avós deviam ter. Mal iniciou a verificação dos meus papéis reparou logo que éramos do mesmo ano: “Grande ano, o de 1956!”.

Após uma pesquisa na Net, escolhi a Payless, porque era a que me pedia menos dinheiro pelo aluguer de um carro durante dez dias: 161,60 USD. Eu sabia que a coisa não ia ficar por ali, pois haveria que somar uma data de taxas, seguros e ofícios correlativos, etc. Por isso não me irritei quando no final o preço subiu para 345,93 USD (255,96 de aluguer e impostos, mais 90 de seguro). Antes de conhecer a Linda, o preço do aluguer do carro que me habilita a dar umas voltas em Los Angeles estava em 24 euros/dia.

A Linda, que - não sei se já vos disse - é uma pessoa muito simpática e atenciosa, achou divertido o contraste entre o meu físico e a caligrafia miudinha (faço letras tão pequeninas que às vezes preciso de por os óculos para a decifrar). Ainda discutimos sobre a cor da esferográfica Muji que eu estava a usar (depois de ter estranhado que eu estivesse a escrever a vermelho, ela acabou por reconhecer que era maroon e não red ink) antes dela ter dado pela falta do Liability Insurance.

Eu tentei defender-me, dizendo que já tinha pago um seguro, mas ela abanou a cabeça e explicou-me com a clareza de uma professora primária que o seguro feito dizia respeito aos danos do carro alugado e não cobria a minha responsabilidade em danos causados a terceiros. E ter o Liability Insurance não só é prudente como obrigatório – pelo que adicionou logo ali mais 179,55 USD à conta. Dura lex sed lex.

Voltou à conversa mole e à medida que se ia inteirando sobre os detalhes das minhas férias, a Linda tentando tornar a viagem mais confortável - e pôr-me a pagar mais. “São cinco? Mais as malas? Por mais 150 dólares faço-lhe o upgrade para uma van e não vão apertados”. “Não têm GPS? Ainda se vão perder… Posso alugar-lhe um por 11 dólares/dia”. “Vai conduzir sozinho todo o tempo? Isso é muito cansativo. Por apenas 99 dólares posso averbar mais um condutor autorizado a guiar o carro”.

Quando finalmente me encaminhei para a garagem com a chave do Toyota Camry na mão, a conta tinha subido de 345,93 para 544,86 USD (além do seguro, ela vendeu-me um depósito de gasolina). Conhecer Linda encareceu em 13 euros (de 24 para 37 euros) o preço do aluguer diário, mas recordou-me uma coisa fundamental que nós, portugueses, esquecemos com demasiada facilidade – quem realmente paga o nosso salário não é o patrão, mas sim os clientes.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

Os militantes dos Assuntos Pendentes

O voucher incluído no preço do quarto no hotel Paris Las Vegas habilita-me a duas opções de pequeno almoço no Café Ile de St Louis, ambas servidas à mesa -  uma frugal (sumo de laranja, croissant e café) e outra constituída por ovos e bacon ou salsicha.

Ao terceiro dia não resisti à tentação de aplicar um chuto de colesterol directo na veia e, de castigo, fui submetido a um interrogatório pelo Cliff, que não se ficou quando lhe encomendei ovos com bacon. Indagou se preferia os ovos mexidos ou estrelados - e depois ainda quis saber se eu pretendia o ovo frito só de um dos lados ou dos dois.

Uma das vantagens das férias nos Estados Unidos (que não significam um pronunciamento relativo às presidenciais uma vez que foram marcadas antes do pungente apelo patriótico de Cavaco) é a de submeterem a treino intenso o nosso mecanismo de decisão.

No Nathan do New York New York percebi o porquê da fila quando chegou a minha vez de interagir na caixa com a Maria, que me obrigou a escolher os toppings para o mais famoso cachorro quente do mundo (fui pela cebola, chili e queijo, numa oferta de uma dúzia de ingredientes) e a decidir se o acompanhava com french fries, onion rings ou batatas fritas com queijo derretido em cima.

Nos States, o simples acto de encomendar um vulgar cheeseburger fora das cadeias globais pode ser o passaporte para uma aventura em que caímos na contingência de optar entre o cheddar, jack, swiss, blue ou american cheese.

Apesar de estar munido com respostas formatadas para enfrentar as situações mais frequentes, ontem fui apanhado desprevenido pela Jessica no bar Le Central (que deve o baptismo ao facto de estar no meio das slots e mesas de craps, poker e blackjack).  Nem o plano A (Sam Adams), nem o B (Heineken) ou o C (Bud lite) constavam da lista de marcas disponíveis debitadas quando pedi cerveja de pressão. Como achei indigno refugiar-me nas vulgares Coors ou Miller, deixei a escolha ao critério dela. Trouxe-me uma Honeymoon…    

É por estas e por outras que estou muito com satisfeito com a maneira como estão a decorrer estas férias. Como estou numa espécie de repouso activo, não corro de risco de à volta engrossar o contingente dos que vivem apavorados com o medo de decidir – e para evitarem serem apontados a dedo, no caso de errarem, se refugiam no morno anonimato da carneirada, que produz milagres como o dos alinhamentos de todos os telejornais serem idênticos. Uma má decisão é sempre preferível à indecisão - mas infelizmente a maioria dos postos de comando estão guarnecidos com militantes da pasta dos Assuntos Pendentes que puseram o nosso país entre parêntesis.

 

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias  

Tentar vender pentes a carecas

Tenho lá em casa uma adolescente que passa os tempos livres (que nesta altura excluem apenas as horas em que dorme) sentada no sofá, com o portátil aberto no colo, o telemóvel ao lado, o televisor à frente – e os fones nos ouvidos. Ouve música enquanto petisca, no Fox ou no AXN, uma episódio repetido do House ou do Lie to me, actualiza o perfil no Facebook, conversa no Messenger, espreita um vídeo no YouTube, recebe e envia SMS – tudo ao mesmo tempo. É brutal ver em acção uma adolescente tipo da geração multitasking.

Eu sou do tempo em que o telefone estava preso à parede por um fio, mas estou convertido às vantagens do telemóvel, que uso não só para fazer e receber chamadas, mas também trocar SMS e ainda como despertador, lista telefónica, agenda – e ocasionalmente para fazer uma fotografia. Planeio aproveitar as férias para fazer a migração do meu velho Nokia 6680 para o TMN com sistema operativo Android (sou fã do Google) apesar de saber que isso terá com óbvia consequência o agravamento do vício de estar sempre a ir ver o correio electrónico, que está a atingir uma fase doentia, pois já tenho de me esforçar para não estar sempre a interromper com visitas ao gmail a redacção de um texto. E está fora de questão deixar que o meu novo smartphone torne obsoletos o iPod e a máquina fotográfica Sony.

O desenvolvimento descontrolado da tecnologia está a alterar de forma radical os comportamentos sociais e é tão contagiante que não conhece idades: noutro dia, durante um jantar, um amigo meu surpreendeu Pinto da Costa, 72 anos, a trocar SMS com a sua namorada Fernanda, 23 anos, de um lado para o outro da mesma mesa de restaurante.

O telemóvel serve para actualizar as contas no Twitter e no FB, para consultar o mail, enviar SMS, fazer fotos, ouvir música, etc, mas é cada vez menos usado na vocação original de fazer e receber chamadas telefónicas, o que começa a preocupar as operadoras, já que em 2009, o tráfego de SMS cresceu 50%, mas os minutos de voz entraram na curva descendente.

O desenvolvimento descontrolado da tecnologia está a alterar de forma radical o cérebro dos adolescentes, com consequências ao nível da fragmentação de raciocínio, bem como da elevação dos níveis de ansiedade e da incapacidade em distinguir o que é ou não relevante. É por essas e por outras que, sempre que ouço colegas meus a discutir o que fazer para tornar os jornais apetecíveis para os nativos digitais, eu abano a cabeça, explico-lhes que estão a tentar vender pentes a carecas – e recomendo-lhes que concentrem os esforços a fazer um produto bom para quem gosta e está habituada a ler jornais.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

Pinto Brasil

Manuel Machado Pinto Brasil, 52 anos, é um serralheiro mecânico que construiu com as suas mãos um grupo empresarial na área da metalomecânica, que factura 20 milhões de euros/ano e emprega 260 pessoas em empresas espalhados por Portugal, Espanha, Tunísia, Roménia e Marrocos. Antigo extremo esquerdo dos Piratas de Creixomil, redescobriu aos 40 anos os benefícios do desporto. “O que de mais importante o karaté me deu não foi a força muscular mas a flexibilidade de corpo e espírito. Agora tenho outra dinâmica. Passei a encarar o dia-a-dia com outra segurança e aprendi a ser mais tolerante e analítico. Dantes irritava-me com muito mais facilidade”, explica o empresário que tem duas metas na vida: ganhar o cinto negro (o que vai acontecer dentro de dez meses) e ser presidente do Vitória de Guimarães

  

Nunca se saberá ao certo se Machado, extremo esquerdo dos Piratas de Creixomil em meados da década de 70, se poderia ter tornado um verdadeiro craque, com direito a figurar nas cadernetas que compendiavam os cromos dos futebolistas de todas as equipas da I Divisão. A verdade é que o próprio, apesar de declarar que em miúdo tinha jeito para a bola, confessa que não tinha pé esquerdo.

Por mais de uma vez as suas capacidades com a bola nos pés foram escrutinadas pelo senhor Barreira, nos treinos de captação do Vitória de Guimarães, mas nunca o destino quis que ele fosse escolhido.  “Se calhar a culpa foi minha. Era muito orgulhoso. Queria logo ser tratado como um jogador de futebol, como uma vedeta que não era. Não queria ficar à experiência. Ou entrava logo ou acabava-se”, reconhece agora, com a sabedoria acumulada ao longo de 52 anos de vida e de sete no dojo (local de treino) do karaté shotokan.

Não seria a sua habilidade de pés, mas antes a de mãos (e cabeça) que viria a libertar do anonimato este rapaz impulsivo, nascido em Creixomil, Guimarães, no ano de 1958, o mais novo (e único varão) dos três filhos do matrimónio entre uma doméstica e o senhor Silvino, dono da mercearia da freguesia, onde ele, ainda gaiato, se habituou a estar ao balcão, treinando as contas de cabeça para ser rápido nos trocos.

Atravessou a adolescência a ver ou a jogar futebol. “De manhã, tínhamos aulas. À tarde ou jogávamos à bola ou fazíamos asneiras”, conta Manel, que no final da primária foi tirar o curso de serralheiro mecânico na Escola Comercial e Industrial de Guimarães. Ao fim de semana, jogava pelos Piratas de Creixomil, nos torneios inter-freguesias, e ia ver jogar os craques do seu clube, pela mão do padrinho, António Fernandes, sócio nº 7 do Vitória de Guimarães e empresário da Fábrica de Cutelaria 85 Inox, um dos orgulhos de Creixomil.

“Sou do tempo do campo da Amorosa, onde ainda se faziam corridas de galgos. Quem ganhava quase sempre era o galgo do Silva, que era guarda redes do Vitória”, conta, enquanto recorre à memória para fazer desfilar os ídolos da sua juventude: Mendes, “o pontapé de canhão”, Almiro, Tito, Joaquim Jorge, Rui Rodrigues, Custódio Pinto, Blanker, Jorge Gonçalves, etc.

A mania de ser independente (“sou aquilo que os americanos chamam um self made man”, declara) levou-o a começar a trabalhar aos 15 anos, ainda antes de acabar o curso de serralheiro, na Laranjeiro & Oliveira, pequena metalomecânica que fabricava máquinas para a indústria têxtil. Não lhe pagavam muito (debutou a ganhar 20 escudos por semana), mas o essencial é que foi lá que aprendeu a arte – e isso é que era o importante para ele naquela fase da vida.

Continuou a dar uns pontapés na bola, na modalidade de futebol de salão, alinhando por diferentes equipas (Campelos, Riba d’Ave e Taipas) em torneios aqui e ali pontuados por episódios caricatos como aquele em que logo aos dois ou três minutos de jogo, um colega de equipa levou com uma bolada na barriga e, acto contínuo, deitou a carga toda ao mar, tornando o recinto impraticável. “Antes de irmos para o jogo, em Riba d’Ave, a mãe dele insistira em que ele comesse uma enorme malga de leite com sopas, para lhe dar forças”, explica Manel.

Durante os seis anos que trabalhou no Laranjeiro, jogou a bola, namorou, amealhou dinheiro para comprar o primeiro carro (um Fiat 127 azul escuro que logo tratou de kitar, confeccionando um volante de competição e enfeitando a frente com uma data de faróis claramente supranumerários) e tornou-se muito bom na arte de serralheiro industrial, sem que isso tenha implicado matar-se a trabalhar.

Quando os amigos se metiam com ele, acusando-o de não fazer nada, ele respondia-lhes: “Um dia destes, quando eu me lembrar, vós ides ver o que é trabalhar!”. Cumpriu esta promessa, em 1979, quando fez 21 anos. Deixou a bola, desistiu de uma tentativa de aprender karaté, despediu-se da Laranjeiro (“Não era aquilo que eu queria, não era uma empresa onde eu pudesse projectar o meu futuro”) e começou a trabalhar por conta própria fornecendo assistência técnica à Marquil, uma empresa de cutelaria das Taipas.

Casou, alugou um anexo em S. João da Ponte, a freguesia da mulher (que lhe deu quatro filhos: a Andreia, 28 anos, directora de Recursos Humanos do grupo, o António Manuel 25, que se prepara para fazer um mestrado em Engenharia Mecânica, o Pedro, 18, que vai para Engenharia Mecânica, e a Adriana que como ainda só tem 12 ainda não decidiu se o seu futuro passará ou não pela metalomecânica) e começou a fazer trabalhos de serralharia para fora.

“Sempre achei que tinha potencial para ir longe”, diz o empresário que trazia inscrita no seu código genético uma costela industrial. “O meu avô materno tinha sido industrial e fez questão que eu tivesse o nome dele: Manuel Machado”, acrescenta este homem com que responde por vários nome: é Manel para os amigos, senhor Machado nas fábricas e Pinto Brasil no mundo dos negócios - o apelido que usa na razão social da holding do grupo e na candidatura que protagonizou à presidência do Vitória de Guimarães.

Começou sozinho, a fazer uns trabalhos mecânicos para a Krumberg & Schubert. Satisfeitos com a capacidade e qualidade deste seu fornecedor, os alemães rapidamente trataram de o introduzir no admirável mundo das cablagens eléctricas para automóveis. “Ainda fiz máquinas para a indústria de calçado, mas eles às vezes esqueciam-se de pagar e eu especializei-me nos automóveis”, explica.

Em 30 anos, construiu, a partir do anexo em S. João da Ponte, um grupo empresarial na área da metalomecânica, que factura 20 milhões de euros/ano a fabricar máquinas para os fornecedores da indústria automóvel e aeronáutica,  empregando 260 pessoas nas fábricas que tem em Portugal (Guimarães, Mindelo e S. João da Madeira), Tunísia, Espanha, Marrocos e Roménia. “Estou onde estão os meus clientes. Em 24 horas, tenho de ser capaz de por uma pessoa em qualquer parte do mundo a resolver qualquer problema”, conta Pinto Brasil, que anda entusiasmadíssimo com os negócios que faz no Irão: “Pagam adiantado, são profissionais e não incomodam ninguém”.

O lançamento das bases do seu grupo absorveu-lhe toda a energia, deixando sem tempo para cuidar do físico, até que, aos 40 anos, a roupa começar a deixar de lhe servir despertou-o para a necessidade de voltar a praticar desporto. Vagabundeou por diferentes modalidades - fez piscinas, andou de bicicleta, experimentou a canoagem, iniciou-se no jujutsu -, até descobrir que o que ele queria mesmo era retomar o karaté, a arte marcial começara a aprender, de forma incipiente em Creixomil, quando tinha 20 anos, e que abandonou para se lançar na sua aventura empresarial.

Ao longo dos últimos sete anos, faz três treinos semanais intensos, de duas horas, no dojo da rua 5 de Outubro (Porto) da Federação Portuguesa de Karaté Shotokan, o que lhe permitiu progredir do cinto branco inicial até ao castanho, de 1º kyu, que espera substituir pelo preto, dentro de dez meses, quando fizer as provas para uma próxima graduação.

Manel começou tarde, mas adora o seu desporto. “Para quem passa a dia a liderar os outros, faz bem chegar ao fim do dia e ser comandado”, diz, acrescentando que o mais importante que o karaté lhe deu não foi a força muscular, mas a flexibilidade de corpo e de espírito. “Passei a encarar o dia a dia com outra segurança. O karaté ensinou-me a ver as pessoas e as coisas de outra maneira, a ser mais tolerante e analítico. Ganhei uma outra dinâmica e forma de estar. Dantes irritava-me muito mais facilmente”, sintetiza este empresário que tem em curso dois investimentos, no valor global de dez milhões de euros, na flexibilização da actividade do grupo Pinto Brasil.

Para se manter a favor dos ventos que sopram e reduzir a sua exposição à indústria automóvel, apostou no fabrico de componentes para a indústria de energia renováveis, está a investir numa nova fábrica, em Serzedelo, Guimarães, e a negociar com a Câmara de Ribeira de Pena a instalação de uma unidade industrial neste concelho transmontano.

No karaté e nos negócios, trabalha com metas a um ano –  ganhar o cinturão negro e ter a nova fábrica vimaranense em operação. Mas na terceira frente da sua vida, o horizonte é mais dilatado. “Claro que, quando chegar a hora, vou voltar a candidatar-me à presidência do Vitória”, diz Pinto Brasil, que recolheu 32% dos votos nas últimas eleições a que se apresentou “para que quem lá está não pudesse continuar a dizer que só se recandidatava porque não havia mais ninguém disponível para tomar conta do clube”.

“O Guimarães sempre foi mais forte que o Braga, que está na posição em que está porque fez o que eu queria fazer no Vitória, que é profissionalizar a gestão. Nesta altura, no futebol já não há espaço para amadorismos”, remata o antigo extremo-esquerdo dos Piratas de Creixomil, um serralheiro mecânico que soube construir com as suas mãos um grupo empresarial, e que sonha ser cinto negro no karaté e presidente do seu clube.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada em O Jogo

Conceição Zagalo

 “Como é que se chama a uma pessoa que trata de bebés?”. Educadora de infância, respondi a medo. “E a uma pessoa que anda de capacete nas obras?”, voltou a perguntar. Capataz? interroguei, já certo que não lhe estavam a faltar palavras e se tratavam de perguntar retóricas, mas ainda sem perceber que ela queria chegar à questão do sexo de determinadas profissões que conspira contra a igualdade dos géneros. Porque não há-de um homem tomar conta de crianças num jardim infantil e uma mulher estar no posto de comando de uma obra. Ponto feito.

Conceição Zagalo, 57 anos, é a presidente da direcção do Grace, que reúne cerca de 80 empresas preocupados em devolver à sociedade parte do muito que ela lhes deu (definição possível da expressão responsabilidade social que entrou definitivamente na moda) e também tem um pequeno problema de género. Somos tentados em pronunciar-lhe o nome à inglesa (Greice) e por isso atribuir-lhe o sexo feminino, mas o género correcto é o masculino, pois Grace são as iniciais de Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial - fundado há dez anos, por impulso da Flad e que conta no seu elenco de associados com o Gotha do nosso tecido empresarial, desde multinacionais (Microsoft, Ikea e McDonalds) e grandes companhias portuguesas (Unicer, Portucel e Porto Editora), passando por bancos (Rotschild, Montepio, etc) e sociedades de advogados (Miranda, VdA, etc).

As perguntas eram a introdução a uma acção que o Grace vai fazer no final deste mês em Campo Maior (adivinhou, a Delta também faz parte do grupo!), onde  explicará a um grupo de 30 meninas do secundário que todas as engenharias e as profissões habitualmente masculinas também são opções para elas.

Partilhar, construir, agir e comunicar são os valores do Grace, que tem um largo espectro de iniciativas. Tanto ajuda uma emigrante romena a montar um negócio de lavandaria, como um sãotomense a criar uma agência de comunicação, ou um camionista de longo curso que, por causa de uma hérnia discal teve de largar o volante, a reconverter-se em secretário. E no âmbito do programa Giro (Grace Intervir Recuperar Organizar) transformam em realidade sonhos de diversas ONG. Com o trabalho de voluntários (dispensados pelas empresas associadas) recuperam os quartos e fazem um jardim no centro Luísa Canavarro que recolhe mães prematuras ou constroem uma pista de tartan no Centro de Jovens Tabor em Setúbal. “Ajudamos a semear, a regar e a colher os primeiros frutos. Depois deixamos as pessoas voarem sozinhas”, explica.

“Responsabilidade social e sustentabilidade são matéria de competitividade”, garante, citando os resultados de um inquérito feito pela IBM junto de 1130 CEO de todo o mundo, que referem o investimento em programas de cidadania empresarial como uma das prioridades no futuro. Ela sabe do que fale porque há 37 anos que trabalha na IBM, onde já fez praticamente tudo – foi administrativa, secretária, comercial e RP até que, em 2008, assumiu a responsabilidade do Marketing, Comunicação (interna e externa) e Responsabilidade Social.

Conceição escolheu almoçarmos na Brasserie Flo e aproveitou para dar o exemplo do Tivoli ter posto à disposição de Beatriz Costa uma suite vitalícia para afirmar que sempre houve responsabilidade social. Acompanhou com água o magret de pato, mas interferiu na escolha do género (“vinho é tinto”, disse) e da região do meu copo de vinho. Bebi um tinto ribatejano, pois ela nasceu em Riachos, em plena lezíria, filha do presidente da Câmara de Torres Novas, numa família enorme (cinco irmãos e um número incalculável de primos produzidos pelos nove irmãos do pai e os 15 da mãe), e cresceu numa quinta, onde passou uma adolescência arrapazada, subindo a árvores, brincando aos índios e aos cowboys e ganhando os primeiros escudos recolhendo numa cesta as azeitonas que caiam do chão.

“Os meus pais diziam-nos: façam o que fizerem, façam-no bem feito, sejam os melhores, padronizem-se pela excelência. Nunca me passou pela cabeça ser sofrível”, conclui esta mulher que só conhece uma forma de declinar o verbo fazer: “Há sempre duas hipóteses, fazer ou fazer, e uma terceira alternativa, que é fazer!

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

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Brasserie Flo

Av. Liberdade 185, Lisboa

Magret de pato com risotto de cogumelos selvagens … 20,00

Bife de atum com espargos verdes, compota de tomate e esmagada de batatas … 19,75

Luso de um litro … 4,00

1 copo Lagoalva tinto … 3,50

4 cafés … 10,00

Total… 57,25

 

 

Curiosidades

 

Aos 20 anos, Conceição tinha duas hipóteses de primeiro emprego, uma mais sedutora (a de hospedeira da TAP, o sonho cor de rosa de qualquer rapariga nos anos 60 e 70) e outra nem tanto – um trabalho administrativo na IBM. Já se imaginava a voar pelo mundo, dentro de um bonito uniforme, quando a voz paterna da razão a levou a decidir, com os pés bem assentes na terra, pela oferta de trabalho mais estável e bem remunerada. A 1 de Junho de 1973 começou a trabalhar no escritório da IBM na Barata Salgueiro, com um ordenado inicial de cinco contos (seis meses depois foi aumentada para 6500 escudos)

 

Aos 17 anos desaguou em Lisboa, para estudar Germânicas, e monta quartel general em Algés em frente ao quartel dos bombeiros, num apartamento partilhado com os irmãos. Estava no 3º ano quando concluiu que não era aquilo que queria, desistiu e inscreveu-se num curso de secretariado e relações públicas no Instituto das Novas Profissões (INP), à Duque de Loulé.

Bosta de hipopótamo com lombrigas

Nunca estive em Veneza, pelo que não me sinto habilitado a pronunciar-me sobre a Praça de São Marcos, mas não tenho dúvidas de que o Terreiro do Paço merece figurar no top ten das mais bonitas praças do Mundo, onde incluo Praça Vermelha, Place des Vosges, Plaza Mayor de Salamanca, Piazza Navona, Grand Place, Stare Miasto de Praga e o Rinek de Cracóvia.

A boca aberta, através do Cais das Colunas, para um rio com ares de mar salgado, até apetrecha o Terreiro do Paço com uma vantagem comparativa única sobre este lote de encantadoras praças que eu já tive a felicidade de viver e saborear.

Admiro o clássico rigor pombalino dos edifícios, gosto do amarelo que os veste, aprecio a majestosidade do arco da rua Augusta e, apesar de discordar do casting para estátua equestre central (D. João II substituiria com vantagem D. José, mas, enfim, não se pode ter tudo), estou convencido que ela vai melhorar muito quando as elegantes arcadas forem ocupadas com lojas e cafés, a placa central estiver decorada com esplanadas e o grupo Pestana democratizar o acesso ao MAI, transformando-o em Pousada de Portugal.

Além de espantosamente bonita, a Praça do Comércio trás boas memórias aos republicanos (foi aqui que em 1908 os regicidas espetaram o último prego no caixão da Monarquia), acolhe o Martinho da Arcada, local sagrado de culto para um pessoano que se preze, e é a demonstração da justeza da tese shumpeteriana da destruição criativa – não fora o Terramoto de 1755 e este local seria uma enxovia ao estilo do Campo das Cebolas.

Mas este amor vira ódio mal atravessamos a fronteira que separa o literal do figurado e o Terreiro do Paço passa a simbolizar o centralismo que nos estrangula e empobrece, o local onde foi inventado o efeito de dispersão, que permitiu desviar para Lisboa 193 milhões de euros de fundos comunitários destinados ao resto do país - e a este Governo pirata sacar 500 milhões de euros, que Bruxelas atribuíra ao TGV Porto-Vigo e Porto-Lisboa, para financiar a terceira travessia sobre o Tejo.

O fedor a esgoto (literal) que nos invade quando entramos no Terreiro do Paço pela Ribeira das Naus, ainda nos acompanha quando, na esquina seguinte (a do Ministério das Finanças), apanhamos com uma nova baforada de mau cheiro (figurado):  a da quebra de 85%  do PIDCAC para o Porto (que caiu de 351,1 milhões, em 2009, para 55,7 milhões, em 2010), enquanto o de Lisboa engordava de 264,2 milhões para 372,7 milhões.

Quando estas estatísticas me vêem à cabeça, o Terreiro do Paço parece-me uma praça tão bonita e cheirosa como bosta de hipopótamo com lombrigas.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

César Pratas

César Pratas, 74 anos, é um dos maiores especialistas portugueses em Direito Penal Económico.  Foi como nadador  do Clube Naval de Setúbal, durante a adolescência, que se iniciou a sua paixão pelo mar que o tem acompanhado ao longo da vida. Skipper do veleiro de 43 pés Post-Scriptum, tem limpado quase todas as regatas disputadas da difícil baía de Sesimbra. “Velejar é como navegar na vida. É preciso estar sempre a manobrar em função do vento. Bolinamos se vamos contra o vento. Ou à popa se o temos a favor. Normalmente as provas, tal como a vida, são disputadas contra o vento”, filosofa o advogado, que garante que em 2011 participará na Regata do Rei de Espanha, na baía de Cadiz

 

Este ano muito provavelmente não vai dar, porque tem entre mãos um processo complicado relativo a um acidente com uma ponte que caiu nas Caldas da Rainha. Mas para o ano não falha. César Pratas, 74 anos, será o skipper do seu Post-Scriptum, um veleiro de 43 pés da classe Grand Soleil, na regata do rei de Espanha que anualmente se disputa na baía de Cadiz.

“Estou ansioso por participar. Sinto que ainda tenho muito para aprender sobre a navegação no Mediterrâneo”, confessa o advogado, especialista em Direito Penal Económico, possuidor da carta de patrão de alto mar, que o habilita a fazer navegação oceânica. “O maior gozo que tive foi uma viagem que fizemos há dois anos, entre Lagos e Cadiz. Durante as 16 horas que ela durou apanhamos as condições ideias. Foi uma navegação perfeita”, recorda no seu escritório decorado com motivos náuticos, no 1º andar do 211 da rua Castilho, junto à Penitenciária, no alto do Parque Eduardo VII.

César trabalha em Lisboa, mas vive em Sesimbra, onde tem o barco. Entre ele e o mar há uma longa história de amor. Nasceu em Setúbal, no ano em que a Espanha se dividiu em duas, quarto filho do matrimónio entre uma doméstica e um ferroviário. Viveu na foz do Sado até ir para a faculdade, com excepção de um curto período em que o pai esteva destacado pela CP na estação das Caldas da Rainha.

Aos sete anos ficou órfão de pai, pelo que a mãe viu-se na contingência de dizer sim pela quarta vez, casando-se com um funcionário da União Eléctrica Portuguesa. Oriundo de uma família apenas remediada, cedo teve de arranjar uns ganchos que lhe garantissem uns tostões, escrevendo para os jornais, enquanto estudava na Escola Comercial.

As professoras protestavam ser uma pena se aquele rapaz tão esperto, que espraiava a qualidade da poesia e prosa na página literária do Setubalense (que ele também coordenava), não continuasse os estudos na Universidade. César deu ouvidos a uma dela, que o aconselhou seguir Direito. Quando concluiu o curso comercial, fez o liceu num par de anos. No primeiro, arrumou o 1º e 2º ciclo (o equivalente ao antigo 5º ano). No segundo, completou o 7º ano e fez o exame de admissão ao que era então o mais afamado curso de Direito do país.

O mar e o desporto são uma constante que o acompanha ao longo da vida. Ainda a Europa estava posta a ferro e fogo por Hitler e já ele debutava como atleta da natação do Clube Naval de Setúbal. À mingua de piscina, treinos e provas eram sempre nas águas frias do mar, que ditavam uma época de apenas dez meses – com dois (Dezembro e Janeiro) de defeso.

“Não era nem mau, nem bom. Era um nadador do meio da tabela”, recorda César, que, mais de meio século volvido, ainda estremece quando se lembra do frio que rapava durante as longas travessias da baía. Apesar de, regra geral, a água estar muito fria, ele aguentou estoicamente durante quase dez anos a condição de nadador do Clube Naval de Setúbal, que além de o ter ajudado a enrijecer as carnes ainda lhe proporcionou uma iniciação à arte da vela.

Aprendeu a velejar num sniper do clube, e aproveitava os fins de semana para praticar. “Velejar é como navegar na vida. É preciso estar sempre a manobrar em função do vento. Bolinamos se vamos contra o vento. Ou à popa se o temos a favor. Normalmente as provas, tal como a vida, são disputadas contra o vento”, filosofa o advogado.

Além de estudar, nadar e velejar, atravessou a adolescência adestrando a escrita, em textos literários para o Setubalense e reportagens para o Distrito de Setúbal, apetrechando a bagagem cultural com um sábio programa de leituras (os Maias, de Eça, e Cartas a um Poeta, de Rilke, foram dois dos livros que mais o marcaram), e cultivando na escola do cineclubismo um espírito oposicionista ao regime salazarista, alimentado em longos serões no Café Esperança (agora reconvertido em McDonald’s).

Começou o curso em Coimbra, mas rapidamente se mudou, instalando-se num quarto alugado em Lisboa, atraído pelo magneto da agitada vida literária e cultural da capital. No tempo que o Direito lhe deixava livre, frequentava assiduamente o nº 20 da rua da Escola Politécnica, onde estava sedeada a Sociedade Portuguesa de Escritores (SPE), presidida pelo” impressionante” Aquilino Ribeiro, onde privou com José Saramago e a então sua mulher Isabel da Nóbrega, Ary dos Santos e outros nomes grandes da nossa literatura. “Nunca me esquecerei das conversas no CaféE Monte Carlo, noite dentro, com o David Mourão Ferreira”.

O jovem César prometia fazer carreira nas letras. Ferreira de Castro atribui-lhe uma bolsa, quando presidiu à SPE. Os três primeiros livros de poesia – Antemanhã, Boletim Meteorológico e Tratado de Geometria do Espaço – foram bem acolhidos nos cafés onde ele parava, o Aviz, Gelo, Brasileira. E a 4º obra, Post Scriptum (o nome que deu aos seus dois veleiros), recebeu o reconhecimento dos seus pares, ao ser distinguido, em 1962,  com o Prémio Revelação da SPE.

Membro da Comissão de Juventude da Candidatura Presidencial de Humberto Delgado, teve a oportunidade de presenciar, na qualidade de correspondente na capital do Notícias de Setúbal, à célebre conferência de imprensa, em que, questionado por um jornalista espanhol sobre o que faria a Salazar se fosse eleito, o general sem medo respondeu: “Obviamente demito-o!”

A sua passagem pelos anos 60 foi adequadamente atribulada, como convinha a esta década agitada. Em 62 viveu a crise académica que fez Jorge Sampaio emergir do anonimato e levou à demissão de Marcelo Caetano do lugar de reitor da Universidade de Lisboa. Em 64 interrompeu Direito e, com a ajuda de uma bolsa, foi estudar para Lausanne, de onde trouxe um diploma em Sociologia e um francês desenferrujado.

Em 69, o ano em que completou a idade com que morreu Jesus Cristo, despediu-se da edição com a publicação do seu último livro de poesias (Sismógrafo): Acabou o curso e dedicou-se a tempo inteiro à profissão. Primeiro no Ministério Público, depois no Contencioso da Petrosul (até à nacionalização da empresa), finalmente como advogado com escritório de porta aberta.

“Ser advogado implica levar uma vida de estudo permanente, ainda para mais num país como o nosso, muito abundante em produção legislativa. Para estar actualizado é preciso estar sempre atento às novas leis e não deixar nunca de ler acórdãos. E nos dias de hoje tratasse ainda de uma profissão mais exigente. Dantes, pressupunha-se que se era bom para se ter conseguido ser médico ou advogado. Ou, o mercado exige que se faça a prova quod est demonstratum de que se é mesmo bom ”, diz, explicando por que deixou de publicar.

Trocou a poesia pela prosa jurídica, mas manteve o amor pelas coisas do mar. Mal pôde, comprou um terreno em Sampaio (entre Sesimbra e Azeitão), ao pé do mar, e encomendou um veleiro da classe Janneau, de 37 pés, que baptizou com o nome do livro que valeu o Prémio Revelação da Sociedade Portuguesa de Escritores, e onde o filho único, que lhe herdou nome, profissão e paixão, aprendeu a velejar.

César Medalha Prata, o filho, tem 31 anos e depois de ter jogado râguebi no CDUL e FCT, aprendeu as manhas no mar na Baía de Sesimbra, onde no espaço de três/quatro milhas se apanham todas as mareações possíveis. “A vela é um desporto apaixonante porque exige uma entrega total. É preciso conhecer o barco, os ventos e as correntes para poder espremer o suminho todo do veleiro e conseguir o melhor aproveitamento das velas”, diz.

“A vela é importantíssima porque me dá tranquilidade e força para o trabalho. É muito bom ter o barco aproado, sentir o mar e o vento e ter o espírito ocupado com outras coisas para além do Direito”, afirma o pai, que tal como o filho, é federado na Federação Portuguesa de Vela e apesar de ainda não ter ganho a regata D.Carlos e D.Amélia, tem no papo já muitas vitórias – este ano, das regatas organizadas pelo Clube Naval de Sesimbra, o Post Scriptum, veleiro de 43 pés da classe Grand Soleil da família Pratas, só não ganhou uma (ficou em 2º).

“Uma das coisas fundamentais na vela é ter uma noção forte da hierarquia a bordo. Há um a mandar e a obediência tem de ser total. Dentro do barco, o skipper é Deus. Se manda virar de bordo ou de vela, mesmo que não se esteja de acordo, faz-se o que ele manda. Não há espaço para discussão”, explica o Pratas filho.

A dedicação extrema que ambos exigem é o grande ponto de contacto que o pai detecta entre a vela e o Direito. “A coisa mais parecida com o Direito é o xadrez. O trabalho do advogado é solitário. No xadrez, o bom jogador é aquele que é capaz de ver algumas jogadas à frente e de antecipar as jogadas da outra parte. No mar temos de saber antecipar as condições meteorológicas”, conclui o Pratas pai, chamando ainda a atenção para outra grande diferença entre o mar e os tribunais: “No final das regatas, vencedor e vencidos vamos todos confraternizar. Num processo judiciário quem perde fica mal disposto e não vai almoçar com o colega que o derrotou…”.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada em O Jogo

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