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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Lídia Serras

O único pequeno incidente a registar tem a ver com o tempo de fritura da dourada, cujos pequenos lombos se apresentavam mais para o cru do que para o cozinhado. O pormenor não escapou ao olhar de lince do professor Abel Matos, que logo instruiu Safik, o aluno investido na função de chefe de sala, para me sugerir a substituição do peixe.

Como não queria dar maçada, agradeci a gentileza mas disse-lhe que não valia a pena. Apesar desta minha declaração de boa boca, não demorou mais que uns minutos até Safik estar a proceder à delicada operação de troca de um bocado de dourada com a carne raiada de vermelho por um outro muito branquinho. Serviço é serviço!

Para nós era um almoço mas para o profe Abel Matos e o Safik foi uma aula de Técnica de Serviço de Restauração e Bebidas. Na cozinha, decorria uma aula de Técnicas de Cozinha e Pastelaria, em que os alunos do 3º ano A confeccionaram a refeição, sob a orientação do professor Vasco Alves.

“O objectivo é aprender e treinarem a servir clientes reais”, explica Lídia Serras, a directora da Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa (EHTL), que escolheu almoçar em casa, no restaurante da escola, que está aberto ao público e onde se pode usufruir de um pequeno banquete (o nosso compreendeu cinco pratos e duas bebidas) a 15 euros por cabeça (dez euros para convidados).

“O tomate liga muito bem com a manga, não acham?”, perguntou Safik depois de servir a sopa fria de tomate com manga e camarão, que antecedeu a dourada e sucedeu aos secretos de porco preto – um saboroso pedacinho dos ditos, em cima de uma tosta de broa de milho barrada com uma mousse de cogumelos com molho vinagrete (“a sua acidez ajuda a equilibrar os sabores”), acompanhada por uma folha de alface carvalho. Estava delicioso!

O tomate liga bem com a manga, da mesma maneira que se revelou muito feliz o casamento do espumante com o sumo de maracujá no aperitivo que abriu o almoço com Lídia, nascida em Água das Casas (aldeia do concelho de Abrantes, que fica na margem da albufeira da barragem de Castelo de Bode) no ano em que Eusébio e os Magriços brilharam no Mundial de Inglaterra.

Filha de agricultores, que também criavam cavalos, Lídia veio para Lisboa estudar Relações Internacionais, no ISCSP, porque “tinha vontade de conhecer mundo”. Começou logo a conhecê-lo no final do curso, em 1990. O primeiro emprego, na área de cooperação internacional da AIP, deu-lhe a conhecer Tanzânia, Gabão, Angola, África do Sul, Moçambique, na preparação e acompanhamento de missões empresariais.

Apaixonou-se por Moçambique, para onde foi viver em 97, dirigindo o programa de formação da Agência Sueca de Desenvolvimento Internacional. Em Maputo apaixonou-se por um holandês, com quem casou e é o pai das suas duas filhas (Hanna, de dez anos, e Miguel, de sete). Trabalhou ainda para Banco Mundial, em África, para a Shell, em Amesterdão, e montou a área de formação do Tribunal Penal Internacional, em Haia. Há três anos, já contente com o mundo que conhecera, regressou a Lisboa e instalou-se com a família numa casa ao pé da praia, em Santo Amaro de Oeiras.

Lídia está orgulhosa das novas e magnificas instalações da EHTL, que ainda cheiram a novo, após as obras de reconversão de um edifício em Campo de Ourique outrora ocupado pela Escola Industrial Machado de Castro, que permitiram a criação de um Hotel de Aplicação (o Hotel da Estrela), concessionado ao grupo Lágrimas, onde os alunos treinam com clientes reais o que aprenderam.

“A nossa taxa de empregabilidade ronda os 90%. Ser chef é uma profissão com glamour”, diz a directora da escola, que este ano lectivo começou a leccionar totalmente em inglês um curso de Gestão e Produção de Cozinha (Culinary Arts).

Relativamente ao episódio da dourada, a coisa tem que se lhe diga. Não fiquem a pensar que foi por distracção que ela veio para a mesa disfarçada de sushi. No final do almoço, o profe Abel Matos esclareceu-nos que a opinião dominante na cozinha é a de que os alimentos devem ser cada vez menos cozinhados, para não perderem qualidades...

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

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Restaurante da Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa

Rua Saraiva Carvalho 41, Lisboa

Cocktail de champanhe com maracujá

Casa de Santar (Dão) branco

Secretos de porco preto

Sopa fria de tomate e manga

Dourada com compota de maçã, tomate e cenoura baby

Lombo de porco com molho de cogumelos e cerejas

Pêra bêbada gratinada com crocante de frutos silvestres

2 cafés

Total … 20,00

 

 

Curiosidades

 

 

Certificada internacionalmente pela mais prestigiada escola do mundo (a de Lausanne), a Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa tem cerca de 400 alunos nos três cursos que lecciona: Gestão e Produção de Cozinha (que confere o grau de cozinheiros de 1ª), Gestão Hoteleira-Alojamento e Gestão Hoteleira- Alimentação de Bebidas

 

O último seminário diplomático, que reuniu no Palácio das Necessidades 150 representantes de Portugal no estrangeiro, foi servido pelos alunos da EHTL. “Esta ano espero conseguir 30% receitas com aluguer de espaços, venda de cursos, organização de sessões de team bulduing. A sustentabilidade é um valor importante”, explica Lídia, que além de formar profissionais qualificados para um dos sectores mais dinâmicos da economia também está empenhada em dar a conhecer a escola à comunidade

 

Lídia adorou viver em Maputo, onde tinha um casa, na avenida Friedrich Engels, com vistas para o Índico: “Foi a única vez na vida que tive cozinheiro”

Cristina Dias Neves

 

Como não queria levar uma vida aborrecida, sonhou ser trapezista e diplomata. Como queria ser independente, aos 14 anos habituou-se a ganhar dinheiro. Fez anúncios, foi modelo e baby sitter, serviu à mesa e varreu o chão, redigiu relatórios. Correu mundo. Acabado o curso de Ciências Políticas em Bruxelas, regressou a Lisboa para ser jornalista. Aos 30 anos decidiu assentar

 

A globetrotter que não queria

levar uma vida aborrecida

 

 

Idade: 40 anos

O que faz: Directora de Comunicação do Banco Santander Totta

Formação: Licenciada em Ciências Políticas com uma pós graduações em Gestão (Católica) e Ciências da Comunicação (Nova)

Família:  Casada com três filhos, Francisco (seis anos), Manuel (quatro) e Mafalda (um)

Casa: Andar no Bairro Azul, em Lisboa

Carro:  Ford Galaxy

Telemóvel:  iPhone 4

Portátil:  HP

Hóbis:  Leitura (bastante), viajar, cinema (alternativo, não blockbusters), passear de bicicleta com os filhos junto ao rio Tejo, em Belém, jantar fora, dançar e beber uns copos   

Redes Sociais: Facebook e Linkedin

Férias: Todos os anos passam 15 dias numa casa ao pé da praia, no Sotavento algarvio. Também faz parte da rotina uma semana de férias cá dentro (o ano passado foi na Madeira, há dois anos no Douro e há três no Alentejo) e outra na neve – a última vez foi em Ponte di Legno (Itália). Este ano planeia visitar Washington com uns amigos de Nova Iorque

Regras de ouro: “If it looks like a duck, swims like a duck and quacks like a duck, then it probably is a duck”

 

 

Fascinada pela elasticidade dos contorcionistas, ambicionou ser artista de circo (trapezista), sonho que a acompanhou até à adolescência, quando o substituiu pelo de ser diplomata, profissão mais respeitável que a poupava a uma vida aborrecida e lhe permitia viajar pelo mundo - mas de avião e não a bordo de caravanas, acompanhada pelo homem bala, os leões domesticados e a mulher de barbas.

O destino não quis que ela fosse trapezista ou diplomata mas foi bondoso ao levá-la de visita a ainda mais sítios que Fernão Mendes Pinto, talvez o mais famoso dos nossos viajantes, se não contarmos com José Megre, com quem (era inevitável!) ela se cruzou, trabalhando na organização de expedições ao deserto.

Nascida em Novembro de 1970, Cristina é a mais nova dos três filhos do matrimónio entre uma assistente social e um advogado, e cresceu no Lumiar. Nunca foi muito de criar raízes, como o demonstra um percurso escolar onde  Dona Amália, ES Lumiar e Mira Rio foram as escalas que se seguiram à Escola Alemã, escolhida para ela deixar de ser analfabeta devido à sua costela germânica – Ruth Kloss, a avó materna, era uma prussiana casada com um algarvio, que a poupou aos horrores da II Guerra ao decidir, em 1939, deixar os negócios em Hamburgo e embarcar com destino e Portugal, onde se dedicou à cortiça, em S. Brás de Alportel.

Desde cedo se habituou a ganhar o seu dinheiro. Aos 14 anos, estourou num jantar no Bairro Alto, com as amigas, o cachet da participação num anúncio da CP que publicitava uma espécie de Interail nacional (entrava para o comboio, punha-se à janela a dizer adeus e o comboio partia, nada de muito complicado).

Aos 16 anos fez um Interail pela Europa, que financiou trabalhando numa casa de chá em Londres, onde fazia tudo, incluindo varrer o chão, e recebia boas gorjetas. Em Lisboa, também serviu à mesa, foi modelo fotográfico, trabalhou na Parfois e vendeu trapos na loja da Alain Manoukian das Amoreiras – como é bom de ver, acabou o secundário a estudar à noite.

Como toda a gente lhe gabava a lábia, ainda lhe passou pela cabeça ser advogada, ideia de que desistiu logo que a mãe decidiu ir trabalhar para a Comissão Europeia. Fez as malas e partiu com ela para Bruxelas.

Na Bélgica, inscreveu-se em Ciências Politicas e foi baby sitter antes de começar a trabalhar na Fundação Friedrich Ebert, onde em nome do cooperação e do diálogo Norte/Sul, recebeu delegações africanas, organizou eventos, fez relatórios  - e perdeu a vontade de ser diplomata.

“Quando estive em Bruxelas, todo o dinheiro que ganhava era para viajar.  Quando não estava a trabalhar, estava a passear por todo o lado. Fui a toda a Europa, Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai.  Fiz 20 anos a descer, sozinha a Península da Tailândia, de Banguecoque a Singapura”, explica Cristina, que escreveu sobre o Rajastão para a Elle, sobre a Nova Zelândia para o Público, e sobre a Roma à noite para o Semanário Económico.

Regressou a Lisboa com o curso na mão e a vontade de ser jornalista do Independente na cabeça, mas no entretanto conheceu um arménio que a convenceu a fazer uma revista de música erudita, inspirada na BBC Music, que durou cinco números. Trabalhou na Rotas & Destinos, na Nova Expansão  e na Fortuna, foi directora da Meios & Publicidade até que, aos 30 anos, teve uma crise existencial. “Gostava de escrever e de editar mas senti que tinha de mudar de vida”, explica. Tinha chegado a hora de assentar. Pediu dinheiro ao banco e fez um Mestrado em Comunicação na Nova.

No final, em 2001, foi trabalhar para a João Líbano Monteiro & Associados. Passou pela EDP e PT, antes de ancorar no Santander, onde é directora de comunicação.

 

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias 

A cafrealização de Vara e outras histórias

No tempo das notas verdes de 20 escudos com a fronha do Stº António, fui vítima de uma daquelas injustiças em que a nossa Justiça é fértil - e tive de pagar uma multa de 20 contos.

Foi assim. A audiência estava marcada para as 9h30 nos Juízos Criminais, na rua do Bolhão. Respeitador e obediente, uns minutos antes da hora já lá estava, junto à 3ª secção do 2º juízo, à espera da chamada, prevenido com um jornal pois, como todos sabemos, tribunais e hospitais são catedrais da espera.

Seriam umas dez horas quando estranhei a ausência de acção. “Mas este processo não é aqui!”, respondeu-me a menina do guichet, abanando a cabeça enquanto me apontava no papel: era na 2ª Secção do 3º Juízo e não a 3ª Secção do 2º Juízo.

Era tarde e Inês estava morta! Quando me apresentei no juízo certo, já a chamada fora feita, o julgamento adiado – e eu constava da lista dos faltosos. Contei ao oficial de justiça a triste história da minha confusão de juízos. Ao fim e ao cabo eu tinha estado à hora, só que no sítio errado. Com a capa negra pelos ombros, ele ouviu-me, com condescendência. Não prometia nada. Eu que esperasse a ver o que o juiz dizia.

Nada feito - anunciou-me 20 minutos depois. O juiz tinha-o mandado dizer-me que arranjasse um atestado. Como além de amigos médicos também tenho vergonha na cara, preferi pagar os 20 contos.

Não sei se foi para dar seguimento a idêntica sugestão de um juiz da Face Oculta que na 5ª feira passada o camarada Armando Vara irrompeu num Centro de Saúde de Lisboa, passou à frente de toda a gente e pediu a uma médica que lhe passasse um atestado, respondendo que estava com pressa, pois corria o risco de perder o avião, quando ela o criticou por ter entrado no seu gabinete sem ser chamado.

A directora do Centro de Saúde censurou o comportamento de Vara, classificando-o de “situação de abuso inconfundível”. Eu estou de acordo, apesar do ex-ministro poder invocar, como atenuante das péssimas maneiras evidenciadas, o facto de estar exposto a um processo acelerado de cafrealização, já que após ter sido obrigado a deixar a administração do BCP arranjou emprego como lóbista dos negócios africanos da brasileira Camargo Corrêa – a coisa está a correr bem, acaba de ganhar a empreitada, no valor de 1,75 mil milhões de euros, de uma barragem no Zambeze (se calhar era para Maputo o avião que Vara não queria perder)

Todas as histórias têm uma moral. Esta tem várias. A cafrealização não chega para justificar o seu lamentável comportamento de Vara. A médica devia ter-se recusado a passar o atestado. Mas a principal moral é que pior que viver acima das nossas possibilidades é vivermos abaixo das mais elementares regras de educação e civismo.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

António Balha e Melo

Falhar não é uma opção para António Balha e Melo, 56 anos, que há oito anos dirige a Servilusa, que, sem falsas modéstias, considera ser “a melhor empresa de serviço funerário da Europa”.

“Na nossa carta de valores estamos proibidos de falhar. Ninguém morre duas vezes. Qualquer coisa desagradável que possa acontecer durante o serviço ficará para sempre na memória dos familiares”, explica este gestor formado no ISCEF (1976),  que após o primeiro emprego numa auditora (BDO) passou pelos negócios de ferramentas (Wurth), máquinas agrícolas (Galucho), bebidas (Martini Rossi), catering (Catermar) e revistas (Impala) até que, aos 49 anos, aceitou o desafio de um caçador de cabeças (Rafael Mora) para tentar salvar da morte a Servilusa.

Na viragem do século, a calma, paz e sossego que caracterizam o sector funerário foram perturbadas pela febre aquisitiva das duas maiores companhias norte-americanas do sector, que desataram a comprar agências na Península Ibérica.  Foi uma passagem de cometa. Ao cabo de dois anos, venderam a uma companhia espanhola (agora controlada pela 3i, um gigante britânico do capital de risco) o que tinham concentrado.

Assim nasceu a Servilusa, que tinha um ano e estava moribunda quando, impregnado do pragmatismo pombalino (cuidar dos vivos, enterrar os mortos) António tomou conta desta companhia resultante da fusão de 26 agências e dotou-a de identidade e cultura próprias, fazendo o funeral das respectivas marcas (Magno, Barata, Salgado) e tiques.

Oito anos volvidos, sentado à mesa do Sabores do Atlântico, no Parque das Nações (onde ele mora), nota-se que está satisfeito. A Servilusa factura 25 milhões de euros e  lidera um sector cada vez mais fragmentado – nos últimos cinco anos o número de agências cresceu de 986 para 1400.

Em Portugal, morrem anualmente cerca de 100 mil pessoas (óbitos e nascimentos equivalem-se), um número em regressão devido ao aumento da esperança de vida. A Servilusa é líder, com os 5 500 funerais/ano (média de 15 por dia), sobrando uma média de 1,3 funerais/semana para as outras agências, o que pressupõe uma disputa titânica pelos restantes mortos.

Dignidade, respeito e humanismo são o mantra do director geral da Servilusa, que apesar do peculiar sector em que actue acaba de ser eleita a quarta melhor empresa para trabalhar em Portugal. Enquanto comia o cherne, cozinhado no papelote com amêijoas e camarão, que empurrou com água (deixou no copo metade do vinho), António deu as pistas para compreender esta escolha.

António Ramos, o director operacional, começou como motorista e fez o 9º ano nas Novas Oportunidades. Vítor Sebastião, o director dos Recursos Humanos, trabalhava no call center. “Quem entra não sai. O nosso grande valor são as pessoas. Pagamos as propinas a quem anda na universidade – não podem é chumbar”, diz.

A forma como encaramos a morte tem evoluído desde que ele trocou a Nova Gente e a Maria (os navios almirantes do grupo Impala) pelo sector funerário. Para começar os funerais ecológicos, com urnas de madeira, revestidas a verniz aquoso (“com o sintético os bichinhos têm de trabalhar mais para conseguirem entrar, o que atrasa o processo de decomposição”), rendas de pano (e não em nylon), nada de plásticos, tudo materiais biodegradáveis.

A opção pela cremação está a subir de uma forma exponencial. Mais que duplicou em dois anos, passando de 4% para 9% do total nacional (em Lisboa já são mais que 50%), que ainda são o valor mais baixo de toda a Europa, muito longe dos 36% espanhóis.

E há mais pompa nos funerais. O mercado está a acolher bem os novos produtos lançados pela Servilusa, como usar as cinzas para ajudar a crescer uma árvore, que eterniza a presença do ente falecido, ou transformar em diamante de uma madeixa do cabelo do morto. E há a música, um extra que pode ser fornecido. Harpa ou violino durante o velório, ou um coro quando o caixão baixa à terra. “É uma coisa muito linda, com toda gente a chorar”, conclui António Balha e Melo, que, como é cada vez mais corrente, já contratou em vida o serviço funerário que quer (optou por ser cremado).

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

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Sabores do Atlântico

Rua da Pimenta 47,  Parque das Nações, Lisboa

2 cherne em papelote … 30,00

Água 0,5  l … 1,50

Azeitonas …  2,50

Cesto de pão … 2,00

½ vinho da casa branco … 3,00

1 café … 1,00

1 descafeinado … 1,00

Total … 41,00

 

Curiosidades

 

O protocolo é muito rigoroso. Logo após a recepção da chamada no call center, que funciona 24horas por dia nos sete dias da semana, é mobilizado um dos 36 técnicos comerciais que fardados com de fato cinzento, pin da Servilusa na lapela, camisa branca, gravata verde alface, se desloca ao local do óbito num Ford Focus castanho.  Mostra à família o catálogo que leva no portátil e aconselha nas opções. Assinado o contrato, é logo digitalizado e enviado por email para o coordenador do serviço, que imediatamente  destaca uma assistente, uma rapariga jovem com formação em Humanísticas, vestida com calças e casaco cinzentos, camisa branca e lenço azul, que toma conta da operação até ao seu final

 

Malangatana, Saramago e Ernâni Lopes saíram deste mundo pela mão da Servilusa, que apesar de ser a preferida da elite se orgulha de também oferecer os funerais mais baratos do mercado. Para a Misericórdia faz uns 400 a 500 todos os anos, a um preço especial (270 euros cada). Para o mercado, o mais barato é de 328 euros, com um só transporte (ou seja o morto vai directamente para o cemitério, sem velório). Se for cremado, a despesa pode subir para cerca de 1200 euros. O serviço médio ronda os 3500/4000 euros. Como a Segurança Social contribui com uma verba até 2460 euros, António observa que “na maior parte dos serviços é o morto que paga o funeral”. O mais caro jamais feito pela empresa custou 50 mil euros.

 

“Em média, há um óbito de oito em oito anos em cada família”, conta António. A fidelização da clientela é uma das preocupações da Servilusa, que todos os anos promove missas em memória dos defuntos de cujo serviço funerário se encarregou. Em Lisboa, a missa enche sempre os Jerónimos

 

Joana Queiroz Ribeiro

Filha de juíz, passou a infância e adolescência a saltar de cidade em cidade. Esta vida de saltimbanco habituou-a a adaptar-se à mudança e a ter facilidade em estabelecer novas relações, características que viriam a revelar-se utilíssimas na vida profissional desta engenheira alimentar que não consegue estar parada – até parece que tem bichinhos carpinteiros

 

Uma engenheira e cervejeira

que tem bichinhos carpinteiros

 

Idade: 44 anos

O que faz:  Directora de Pessoas e Comunicação da Unicer

Formação: Licenciada em Engenharia Alimentar pela Escola Superior de Biotecnologia da Católica (1989) e pós graduação em Ciência Cervejeira, feito em Louvaine, na Bélgica

Família:  Casada, tem uma filha de 15 anos, a Francisca, que quer ser arquitecta

Casa:  Andar nas Antas, Porto

Carro:  Carrinha Mercedes C 220

Telemóvel:  Nokia E 52

Portátil:  HP

Hóbis:  Ler, passear, viajar, poder ter tempo para não fazer nada

Redes sociais: Facebook e Linkedin   

Férias: Todos os Verões, fazem15 dias de férias na casa que têm em Caminha, onde também vão passado alguns fins-de-semana ao longo do ano. Ao Algarve é raro irem. As férias internas são sempre complementadas com uma viagem pelo estrangeiro. O ano passado andaram pela Toscana, Há dois anos pelos Castelos do Loire. Este ano o projecto é irem a Goa   

Regras de ouro: O comboio não passa duas vezes

 

Quando vivemos o momento mais decisivo das nossas vidas raramente nos damos conta disso. No Verão de 1983, Joana estava de férias na Quarteira, sem saber o que fazer à vida, pois a sua média no 12º  revelara-se curta para ir para Medicina.

“Olha, se fosse a ti olhava para este curso que está aqui anunciado”, disse-lhe um daqueles amigos de família que nos habituamos a tratar por tios, enquanto lhe passava o Expresso para a mão. Sentiu-se logo atraída pela licenciatura em Engenharia Alimentar que a Católica iria iniciar no Porto.

“Fiquei convencida. Combinava novidade, desafio e risco”, explica Joana, 44 anos, a mais velha dos três filhos de um juiz desembargador. Começara por sonhar ser médica, provavelmente por influência das bonitas histórias que ouvira do seu avô paterno, um médico de Valença de coração generoso (não cobrava aos doentes pobres).

O curso, que estreou com mais 23 colegas, não a desiludiu. Tinha muitos professores estrangeiros. O ambiente era bom. As matérias entusiasmavam-na. Ainda estudava quando começou a aplicar os conhecimentos durante um estágio na conserveira Amorim, da Póvoa de Varzim, onde ganhou dinheiro para comprar o primeiro carro: um Fiat Uno preto.

Era uma copinho de leite, que só tocava em cerveja durante a Queima, quando agarrou com ambas as mãos a oportunidade de fazer uma pós-graduação na Bélgica em Ciências Cervejeiras, patrocinada pela Unicer, uma das fundadores da Escola Superior de Biotecnologia.

Não ficou atrapalhada por viver sozinha para Louvaina, onde não conhecia ninguém, e estudar numa língua (o francês) que não sabia falar. Desde pequena que estava habituada a mudar de cidade, adaptar-se a novas escolas e a fazer novas amizades, pois passou a infância e adolescência a saltar sempre de um lado para o outro, acompanhando os destacamentos do pai. Nasceu no Porto, mas viveu em Lisboa e Loulé, antes de começar em Castelo de Vide a primária que concluiu em Felgueiras, onde iniciou o secundário, que continuaria em Cascais e acabou no Porto.

Esta vida de saltimbanco habituou-a a adaptar-se à mudança e a ter facilidade em estabelecer novas relações, características que lhe ficaram tatuadas no carácter e se viriam a revelar-se utilíssimas.

Regressada da Bélgica, foi logo trabalhar para o Departamento de Qualidade Industrial da Unicer, onde ficou responsável pelo projecto de certificação de qualidade da empresa.

Este processo desenvolveu-lhe a capacidade de comunicação e permitiu-lhe ficar a conhecer por dentro e por fora as pessoas e processos da cervejeira. No final, com a Unicer certificada, passou a acumular a responsabilidade do sistema de garantia de qualidade com a comunicação interna e externa.

A chegada de Ferreira de Oliveira à liderança foi sinónimo de maior exigência mediática, pelo que Joana passou a concentrar-se na comunicação. Com António Pires de Lima, teve de mais uma vez se adaptar. A Unicer emagreceu para sobreviver e prosperar nos novos e difíceis tempos, o que a obrigou a um esforço suplementar de comunicar, externa e internamente, “de forma transparente e autêntica” ,“um processo muito duro” de dispensa de cerca de 700 pessoas.

Concluído o downsizing, passou a acumular Comunicação e Recursos Humanos numa direcção que rebaptizou de Pessoas e Comunicação, instalando-se simbolicamente com gabinete com paredes de vidros. “Transparência é um ponto. Ser verdadeiro é um ponto”, explica.

 

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

Não gosto de trabalhar

O mundo divide-se entre empregados e desempregados, sendo que esta última categoria está a ganhar quota de mercado de uma forma assustadora.

Apesar de tipos bem mais espertos do que eu já terem ganho o Nobel com teses e análises sobre o mercado de trabalho, a verdade é que ele continua muito longe de ser perfeito.

Todos conhecemos desempregados genuinamente empenhados em arranjar trabalho, bem como gente muito bem empregada, cujo emprego é muito mal empregue pois não gosta ou não precisa de trabalhar.

Desde que em 1979 comecei descontar para a Segurança Social como revisor no JN, já fui despedido por quatro vezes, mas consegui sempre evitar o recurso ao subsidio do desemprego – não porque seja um workaholic stakhanovista mas tão só porque precisava de ganhar caroço para pagar a  renda de casa, sustentar a família (os filhos custam um dinheirão!) e ainda ficar com algum para livros, filmes, copos e discos.

Se eu pudesse não trabalhava. O problema é que preciso. Eu até gosto de escrever. Mas há uma enorme distância entre o prazer da escrita e ser obrigado a alimentar páginas em branco. Tal como há um abismo entre o prazer que profissionais e amadores retiram do sexo por profissionais e amadores.

Não quer isto dizer que me considere uma puta da escrita. Nada no mundo é a preto e branco. Há uma infinidade de tonalidades de cinzento. Que atire a primeira pedra quem nunca deu uma queca, apesar de não lhe estar a apetecer muito, só para fazer a vontade à/ao parceiro/a.

Num mundo ideal, os empregados que não gostam ou não precisam de trabalhar dariam a vaga aos desempregados que querem trabalhar. O problema é que o mundo está muito longe de ser perfeito. Num mundo perfeito o Taguspark não pagaria 350 mil euros ao Figo por quatro horas de filmagens, mais do que a maioria dos portugueses ganha ao cabo de uma vida de trabalho.

Num mundo perfeito, os donos dos cafés não pagariam uma taxa de IRC superior à da banca, nem o bastonário dos advogados viria a público acusar juízes e procuradores do Ministério Público de pré-combinarem sentenças, transformando os julgamentos em medíocres peças de teatro.

Como o mundo está muito longe de ser perfeito e o desemprego entre os licenciados duplicou na última década (de 83 mil, em 2000, para 190 mil, em 2010) não posso deixar de simpatizar com o grupo 100 000 mil na Avenida da Liberdade contra a Classe Política Corrupta, apesar de me entupirem a caixa de correio e de serem um albergue espanhol que acolhe desde gente que quer transformar num novo D. Sebastião um tipo que criava galinhas em S. Bento, até quem ache que o Michael Jackson foi assassinado pelos Illuminati, passando pelos responsabilizam a Maçonaria pelos males que afligem o mundo.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

Teófilo Leite

“O dinheiro deve seguir o doente. Dar ao cidadão o poder de escolher onde quer ser tratado é um exercício de democracia económica, que estimula a eficiência e a qualidade da oferta porque obriga os prestadores a serem competitivos para captar o cliente. Financiar as instituições vicia o sistema”. Quem fala assim é Teófilo Leite, um engenheiro mecânico com uma visão económica do sector da saúde.

Teófilo, que acaba de tomar posse em Berlim como presidente do lóbi europeu dos privados da saúde (União Europeia de Hospitalização Privada -UEHP), tem uma agenda baseada em três princípios: acesso universal, sem qualquer tipo de descriminação (mesmo económica); elevada qualidade (“sem infecções hospitalares e doentes operados ao membro errado”); e sustentabilidade.

Toda a gente sabe que a saúde é cara. Em Portugal já consome mais do que 10% da riqueza nacional e continua a subir. Teófilo estima que se não houver um inflexão, rapidamente atingirá 1/3 do PIB. Para ele o farol é a Holanda, onde a saúde não é financiada pelo Orçamento mas sim pelos seguros de saúde obrigatórios – “tal como acontece cá com o seguro automóvel”.

Com um avô materno que fabricava formas para calçado, um avô paterno que fazia calçado por medida para os seminaristas de Felgueiras, e um pai comerciante de couros e calçados, estava escrito nas estrelas que Teófilo, 62 anos (“Ando nos 63, como se diz em Serzedo, Guimarães, onde nasci”) e seis filhos (a mais velha tem 36, o mais novo tem um), iria parar à indústria dos sapatos.

Nono de uma fornada de onze filhos, fez o secundário no Porto, no Liceu Alexandre Herculano, após o que rumou a Coimbra, onde o curso de Engenharia Mecânica foi interrompido pela Crise Académica de 69, que o atirou para Mafra, na companhia de Alberto Martins, Barros Moura e outros dirigentes estudantis.

Estava na tropa quando casou, em 1971, com uma filha do dono da Campeão Português. Acabou o curso no Porto, no ano seguinte, aproveitando as facilidades concedidas aos militares. O primeiro emprego foi como monitor na FEUP, mas quando passou à peluda foi logo mobilizado pelo sogro para o ajudar a gerir a maior fábrica portuguesa de calçado, que rapidamente pôs a produzir 12 mil sapatos/dia.

Em 1986, andava nos 38 anos, decidiu seguir o seu próprio caminho, deixando a Campeão Português e criando, também em Guimarães, uma empresa industrial, que baptizou ICC Indústria e Comércio de Calçado, especializada em calçado profissional de segurança (fornece o exército holandês, a IBM, Volvo, Mercedes, etc), que factura 15 milhões de euros anos e emprega 150 trabalhadores, que por ocasião do 25ª aniversário da fábrica receberam um seguro de saúde de prenda do patrão.

Foi parar à saúde por causa da conjugação no espaço e no tempo de uma série de acasos em que a vida é fértil. Primeiro foi um jovem médico que ajudara o seu pai nos últimos anos de vida e lhe propôs entrar no projecto que viria a ser a Casa de Saúde de Guimarães. Depois foi obrigado a perceber o sector por dentro durante os quatro anos (94-98) em que apoiou a mulher na sua luta inglória contra um cancro.

“A saúde é um sector estratégico para a nossa economia. Portugal deve ser a Florida da Europa. Temos muitos dias de sol e todas as condições para atrair os reformados do Norte da Europa”, afirma Teófilo, que escolheu almoçarmos no restaurante do Camélia Hotel & Homes, em Guimarães, o seu mais recente investimento, que ainda está a funcionar em regime de soft opening.

Vindo da sua hora de exercício diário no spa desta unidade, Teófilo atacou o bife enquanto manifestava o seu desagrado pela “visão mesquinha e corporativa” dos que querem aplicar à formação de médicos os princípios bolorentos do condicionamento industrial:

“É inadmissível que o país esteja a gastar dinheiro com os universitários que estão a estudar Medicina em Cuba, Espanha e República Checa, e a importar médicos de outros países. As nossas fábricas de saber têm de produzir médicos em quantidade não só para os dez milhões de portugueses mas também para os 30 milhões dos Palop, que vão precisar de cem mil médicos. Saúde é riqueza!”.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

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Camélia Hotel & Homes

EN 105, 787, Covas, Guimarães

Sopa de legumes

Bife com batatas alouradas e esparregado

Água

Vinho verde Gavinha Dourada

Fruta laminada (morango, ananás, laranja,uva)

Nota: O restaurante ainda não está aberto ao público. Como ainda não tem lista, o almoço foi oferecido

 

 

Curiosidades

 

Teófilo lidera um grupo na área da saúde, onde trabalham cerca de 250 médicos espalhados pela Casa de Saúde de Guimarães (30 quartos), Hospital Privado de Guimarães (96 quartos), Clihotel de Gaia (96 quartos), clínicas em Vizela, Urgezes, Pevidém e Taipas, a que acaba de juntar o Camélia Hotel & Homes (62 quartos)

 

Pensado inicialmente para acolher seniores, nacionais (calcula-se que 1/3 dos portugueses terão, em 2050, mais de 65 anos) e estrangeiros, o Camélia Hotel & Homes corrigiu o seu alvo e vai também funcionar como um hotel de saúde e aproveitar o facto de Guimarães ir ser, em 2012, Capital Europeia da Cultura, para captar turistas

 

O sector público continua a ser maioritário na saúde em Portugal, com um volume de negócios anual de cerca de seis mil milhões de euros, contra mil milhões dos privados. Teófilo chama a atenção para os 25% de desperdício na saúde pública, apontados pelo Tribunal de Contas, e defende que os privados devem subir a sua quota de mercado até 50%: “Já não há a desculpa de que os privados só são melhores em hotelaria e os casos difíceis têm de ir para o público. Neste momento, os equipamentos mais avançados estão nos privados”

Histórias tristes de polícias e ladrões

 

O meu falecido rádio não valia um chavo. Era uma espécie de eutanásia de auto-rádio. Só sintonizava uma estação (a M80) e mesmo assim cheia de ruídos de fundo. De certeza foi fabricado muito antes do meu Mini Clubman, que saiu da linha de montagem no já longínquo mas feliz ano de 1974.

 

Foi-me oferecido pelo meu mecânico, a título de brinde por ir lá regularmente mudar o óleo e afinar os travões. Um dia, o António Santos fez-me uma surpresa: «Olhe, senhor Jorge, como não tinha rádio, eu instalei-lhe um. E lhe não levo nada pelo trabalho…».

 

Estou a marimbar-me para o rádio. A única chatice é que o palerma que o roubou assassinou uma das mais frases mais bonitas que tinha guardado para a minha autobiografia: «Ao longo de toda a vida nunca tive problemas com ladrões  - só com polícias».

 

Apesar deste episódio, ao minhas simpatias vão para os dois jovens de 20 anos que foram apanhados em Lordelo com 60 tampas de saneamento furtadas  - e não para os GNR que os detiveram; e para a dupla que roubou 70 pães numa padaria em Marvila – e não para os agentes da PSP que os prenderam depois de terem atingido um deles a tiro.

 

O meu espírito Robin dos Bosques não me impede, no entanto, de sentir alguma pena dos polícias de Oliveira do Douro que pagam para dormir nas camaratas da esquadra e depois tomam banho frio. E fico chateado ao saber que a PSP de Faro não patrulha as escolas por falta de dinheiro para pagar os seguros dos automóveis, e que a Brigada de Investigação Criminal da PSP de Braga investiga a pé porque tem os quatro carros avariados e não há orçamento para os mandar consertar.

 

Faz-me impressão que os 120 agentes do Corpo de Intervenção da PSP façam um levantamento de rancho e que as 120 potentes Yahamas encomendadas para a Cimeira da Nato estejam encostadas a um canto, porque ainda não foram pagas.

 

Faz-me espécie que a direcção nacional da PSP recomende às esquadras que só liguem a televisão à hora do noticiário (para pouparem na electricidade) e gaste 200 euros/dia a manter os quatro blindados que o ministro mandou devolver por não chegarem a tempo da cimeira.

 

E já não me consigo divertir ao ver o comando da PSP a accionar judicialmente os oficiais da GNR que disseram não valia a pena comprar blindados novos, porque eles tinham disponíveis equipamentos idênticos, testados no Afeganistão.

 

É por essas e por outras que vou subscrever a petição pública por uma polícia única. Não vivemos tempos para desperdícios. Unir PSP,GNR, SEF e Polícia Marítima numa única polícia nacional evita a duplicação de meios e induz poupanças em dinheiro e disparates.

 

Jorge Fiel

 

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

Vasco Falcão

Assim como quem não quer a coisa, a fotocopiadora saiu do canto do escritório onde estava arrumada. Além de duplicar documentos, passou também a digitalizá-los e a imprimir os ficheiros que lhe enviamos do nosso computador. Deixou de estar isolada e passou a estar integrada em rede num local bem central dos sistemas de informação das empresas. Está tão inteligente e útil que tem memória, não se limita à passividade de receber documentos (também os expede ou classifica e organiza, é questão de nós querermos) e pode estar equipada com teclado e ecrã. A fotocopiadora, cuja manutenção estava a cargo das secretárias, emigrou para o domínio dos informáticos -  e ficou tão esperta que foi rebaptizada, passando a responder pelo nome de multifuncional.

Os multifuncionais são o negócio de Vasco Falcão, 35 anos, director geral da Konica Minolta Portugal, eleita em 2010 a melhor subsidiária europeia da multinacional japonesa que em 2004 vendeu à Sony a tecnologia da área de equipamentos fotográficos para se concentrar nos sistemas de informação.

Os 20 milhões de euros que a Konica Minolta Portugal facturou no ano passado, dividem-se, em partes iguais, entre venda de equipamentos e de serviços, mas a tendência vai no sentido desta última parcela ir ganhando um peso cada vez maior.”Queremos criar valor para os nossos clientes. Ajudá-los a ser mais eficientes e optimizar o seu parque de equipamentos”, diz Vasco, acrescentando que a tendência vai no sentido da sua empresa passar fazer a assistência e manutenção não só dos multifuncionais mas também do conjunto dos sistemas de informação dos clientes.

“Ao fim de uma semana, propomos uma solução que baixa em 30% os custos”, garante Vasco, para demonstrar que o know how é tão importante como a qualidade dos equipamentos. “Há quem tenha um Mini e precise de um Ferrari. E quem tenha um Ferrari e precise apenas de um Mini. Adequando os equipamentos às necessidades e racionalizando o seu uso, conseguem-se enormes poupanças”, diz este gestor, que nasceu em Castelo Branco mas cresceu e estudou, até aos 17 anos, no Entroncamento, pois o seu pai, sargento paraquedista, foi colocado em Tancos.

A série televisiva Quem Sai aos Seus, em que Michael J.Fox faz o papel de Alex P. Keaton, um jovem ambicioso que adora dinheiro, influenciou-o a escolher Gestão. “Sempre me senti atraído pelo dinheiro”, confessa, acrescentando que esta Tio Patinhas foi decisiva na opção da Arthur Andersen (“Uma grande escola, uma faculdade com prática”) para seu primeiro emprego. “Sempre fui muito ambicioso. Não gosto de estar parado”, explica e a vida dele está aí que não o deixa mentir. Após cinco anos como consultor, um head hunter levou-o para director financeiro da Minolta e, quatro anos volvidos, já era director geral, comandando 170 pessoas, apesar de ainda não ter idade para se candidatar a PR.

Comer e beber não é o forte de Vasco, que normalmente almoça a correr num self service, em frente à sede da Konica-Minolta no Prior Velho. “Não acredito em negócios à mesa. Não sou um bom garfo”, diz. Empurrou com água as tranches de pescada e deixou ficar mais de metade do sorvete de limão, no Água e Sal, que escolheu por simbolizar a resistência em condições adversas – o restaurante é uma ilha no meio do grande estaleiro de obras de ampliação do Oceanário.

“São sobreviventes como nós, que num ano em que o mercado caiu 15%, conseguimos crescer”, afirma, com orgulho, Vasco que passou o almoço a contar as habilidades dos novos multinacionais da sua marca. Sabia que estão programados para não duplicarem notas? Sabia que é possível atribuir a cada trabalhador um tecto mensal de impressões e cópias (a preto e branco e a cores)? Sabia que o multifuncional pode identificá-lo, digitando um código, lendo o seu cartão de identificação ou a impressão digital? Sabia que pode impedir que um documento possa ser impresso ou duplicado? Sabia que cada cópia ou print leva uma marca de água e a Konica Minolta pode identificar a máquina onde foi impressa? Chegados a esta altura, concordará comigo. As velhas fotocopiadoras estão cada vez mais espertas.

Jorge Fiel

Esta matéria foi publicada no Diário de Notícias

 

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Água e Sal

Esplanada D. Carlos I, Oceanário de Lisboa

2 couvert … 2,50

Olho de bife com batatas à provençal … 13,00

Verduras assadas … 4,25

Tranches de pescada com creme de espargos e amêndoas gratinadas com migas de ervas frescas e parmesão … 14,00

Água 1 litro … 2,00

2 copos tinto Quinta Farizoa … 5,00

Sorvete de limão com frutos exóticos … 4,75

2 cafés … 2,00

Total… 47,50 euros

 

Curiosidades

 

Vasco casou com a Minolta a 20 de Maio de 2003 e três dias depois com a sua mulher (uma médica, especialista em Ginecologia e Obstetrícia, que já lhe deu duas filhas, de cinco e três anos). Quando voltou da lua de mel, no México, a Minolta tinha-se fundido com a Konica e a a sua primeira tarefa foi regista o novo nome da empresa:  Konica Minolta Business Solutions Portugal

 

A quantidade de documentos impressos no nosso país está estável mas apenas devido à crise, já que, de acordo com Vasco Falcão, tem tendência para crescer: “Quanto mais informação é distribuída e está a circular, mais será impressa”. A tendência vai no sentido de o número de impressões ser cada mais maior que o de cópias”  

 

Vasco atribui ao marketing de uma loja, que ficava em frente ao Centro Cultural do Entroncamento, a origem da expressão fenómenos do Entroncamento. “Lembro-me de passar por essa pequena loja e ela ter sempre na montra abóboras gigantes e outras anormalidades deste tipo, que os agricultores da Golegã lhe faziam chegar e eram usadas como chamariz”  

Sofia Catarino

Filha de uma doméstica e de um serralheiro, trabalhou no bar da piscina do Estoril Sol, apanhou morangos no Algarve e andou de lanterninha, no escurinho dos cinemas de Carcavelos, a encaminhar o pessoal para os respectivos lugares. Licenciada em Psicologia Social, fez recrutamentos, orientou acções de team building e viveu um ano em Nova Iorque até que num sábado, na praia, a leitura de uma revista inspirou-a a mudara de vida e criar a Pegada Verde, uma espécie de Amazon de produtos ecológicos

 

A psicóloga que virou empresária

por causa dos copos menstruais

 

Idade: 29 anos

O que faz:  Sócia fundadora da Pegada Verde

Formação: Licenciada em Psicologia Social e das Organizações, curso de Marketing de Eventos na New York University

Família:  Vive com o Sérgio (seu sócio e companheiro) e a gata Pitucha

Casa:  Apartamento em Torres Vedras

Carro:  VW Polo preto, de 1991, “é o meu primeiro carro”

Telemóvel:  Nokia, “daqueles que recebem emails”

Portátil:  Macbook de 13’’

Hóbis:  Praticar shiatsu, uma massagem japonesa terapêutica (ela está habilitada para as dar pelos Estudos Avançados em Naturologia), e correr uma meia hora logo depois de acordar   

Redes Sociais: Tem Facebook e está lá todos os dias a partilhar dicas com a seguidores da Pegada Verde

Férias: O ano passado foi complicado. Teve vontade de fazer um terceiro InterRail  - o primeiro foi para o Norte (França, Bélgica, Holanda…), o segundo foi para o Sul (Hungria, Croácia, etc) -  mas não pode por causa das andanças da empresa. “Estivemos com um banca dos nossos produtos no Festival de Danças do Mundo, em S. Pedro do Sul”. Este ano vai ser um InterRail, ainda são percurso definido, ou então vão revisitar Nova Iorque

Regras de ouro: “Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje”

 

Estava com uns amigos na praia de Stª Rita, em Torres Vedras, quando soube da existência dos copos menstriuais  A Sábado trazia um artigo sobre o livro Dormir nu é ecológico, da jornalista canadiana Vanessa Farkuharson, que elenca uma medida ecológica para cada dia do ano, sendo que uma delas é o uso do copo menstrual.

“Mas que raio é o copo menstrual?” interrogou-se Sofia, uma psicóloga que trabalhava (mas já não recebia) de uma empresa de Recursos Humanos que balançava à beira do abismo. Como ninguém sabia, mal chegou a casa pesquisou a resposta na Internet.

O copo menstrual é um pequeno objecto de uso feminino, reutilizável e alternativo a pensos e tampões, que encerra vantagens não só para o planeta (reduz a quantidade de lixo) mas também para a saúde (não faz alergias nem irritações) e bolsa (custa 30 euros e dura dez anos) da utilizadora.

Convertida ao uso desta pequena maravilha, Sofia debalde se lançou numa peregrinação pelas farmácias em demanda do copo menstrual. Não havia. O eureka deu-se quando estava no café a conversar sobre isso com Sérgio, o seu companheiro (que estudou Gestão). Resolveram logo ali aproveitar esta lacuna, fazendo uma empresa para importar da Finlândia e distribuir no nosso país copos menstruais. Estava a nascer a Pegada Verde.

Filha de uma doméstica e de um serralheiro com oficina própria, Sofia nasceu em 1981, em Manique. Acabou o secundário em Carcavelos, após ter estudado nos Salesianos até ao 9º. Quando tinha 12/13 anos, por influência dos filmes da saga Indiana Jones, sonhou ser arqueóloga, mas quando chegou a hora de escolher optou por Psicologia, a conselho de um tio materno que trabalhava na Refrige.

O primeiro dinheiro ganhou-o aos 16 anos, nas férias grandes, a trabalhar no bar da piscina do Estoril Sol (“como não estava habituada a andar de saltos altos chegava ao fim do dia toda partida”), um gancho arranjado por influência de um tio paterno. Mais tarde, ainda andou de lanterninha na mão, no escurinho dos cinemas de Carcavelos, a encaminhar as pessoas para os respectivos lugares.

Em 1998, entra no ISPA, onde foi feliz. “Os melhores anos da minha vida foram os que passei na universidade”, confessa, declarando-se também satisfeita com o curso: “Não desvenda mistérios, mas permite-nos crescer e dá-nos sensibilidade”. Recém licenciada, passou o Verão a apanhar morangos no Algarve, antes de se lançar à procura de trabalho na área da sua formação. Fez recrutamentos e acções de team building, com um ano parêntesis em que ela e Sérgio trabalharam na nossa missão junto das Nações Unidas, em Nova Iorque, no âmbito da preparação e da presidência portuguesa da UE. Até, que, no Verão de 2009, estava na praia a ler uma revista e soube da existência do copo menstrual.

O copo menstrual é o principal, mas não o único produto do catálogo da Pegada Verde, que vende online e distribui por farmácias e supermercados biológicos produtos reutilizáveis tão diversos como fraldas, pensos de algodão ou garrafas da alumínio, cosmética biológica e o go girl, um truque (reutilizável) que custa 12 euros e permite às mulheres fazerem xixi de pé - e é de grande utilidade em festivais de música com casa de banho imundas. “As mulheres portuguesas estão a aderir aos nossos produtos. É sempre bom não as subestimar”, declara Sofia acrescentando que quer ser “uma Amazon dos produtos ecológicos”.

Jorge Fiel

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