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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

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O Porto tem dupla personalidade

O Porto sofre de dupla personalidade. Cheguei a essa conclusão durante um almoço de polvo assado com o Tiago (o TAF do blogue A Baixa do Porto) numa esplanada da Ribeira, num daqueles belos dias ensolarados e mornos proporcionados pelo inverno do aquecimento global.

Passo a explicar. Os restaurantes e passeios estavam cheios de gente, mas eu e o Tiago devíamos ser os únicos clientes portuenses. O resto do pessoal tinha um T de turista tatuado na testa.

O Porto está na moda e ainda bem para todos. Para os que nos visitam, pois podem desvendar uma cidade diferente das outras, que tem para lhes oferecer coisas tão únicas como Serralves, a Casa da Música, as caves do vinho do Porto e muitos quilómetros de belos passeios à beira do rio ou do mar.

É também bom para nós, portuenses, porque beneficiamos da transfusão de vida e de dinheiro nas veias de uma metrópole que padece com a anemia geral que se apoderou da economia do país e com o vil desprezo a que os governos de Lisboa nos têm votado.

A animação da Baixa e da Ribeira, garantida noite e dia pelos turistas desembarcados pela Ryanair no Sá Carneiro e pelos 3500 estudantes estrangeiros que frequentam a Universidade do Porto, é uma das faces da doença que atacou a cidade.

O Centro Histórico e tradicional da cidade é vivido por turistas, viajantes e moradores temporários, com os habitantes locais a fazerem as vezes de figurantes num filme protagonizado pelas pontes, a torre dos Clérigos, os bares da Galeria de Paris, a francesinha e os finos de Super Bock, a livraria Lello, o Parque da Cidade e os magníficos painéis de azulejo que revestem as igrejas ou o átrio da estação de S. Bento.

O centro da cidade vivido pelos portuenses não é acessível a pé, mas sim de carro, e é constituído por um triângulo largo, que tem o NorteShopping/Mar Shopping/IKEA num vértice, o Arrábida/GaiaShopping/Corte Inglés no outro, e o Dolce Vita/Parque Nascente no terceiro. É nestas novas catedrais do consumo que a maioria dos portuenses faz as compras e gasta os tempos livres.

A dupla personalidade não é propriedade privada do Porto. Trata-se de uma doença que atinge outras cidades como a nossa que sofreram de um crescimento urbano acelerado e horizontal, caótico e difuso.

Esta expansão tipo mancha de óleo, potenciada pelas autoestradas, criou aglomerados com baixa densidade populacional, tipo cidade jardim, baseados no uso intensivo do automóvel, insustentáveis não só do ponto de vista ambiental, mas também da viabilidade de uma rede eficaz de transportes públicos.

A nossa qualidade de vida, o futuro do Planeta e o ressurgimento económico do Porto exigem a criação de condições para que os portuenses regressem à Baixa, voltando a habitar e viver o núcleo central da cidade, curando-a assim do distúrbio de dupla personalidade que a afeta

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no JN

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