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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Será Costa o goleador de que o PS precisa?

Acho imensa graça às frases que os futuros líderes do PS arranjam para espetar nas costas dos futuros ex-líderes do seu partido. Orador brilhante (melhor que Mário Soares) e bom ator (pior que Soares), António Guterres esteve ao mais alto nível das suas capacidades histriónicas na noite das legislativas de 1991, quando confessou, perante as câmaras de televisão, estar em estado de choque com os resultados do PS (29,13%), declarando assim abertos os preparativos do funeral da curta liderança de Jorge Sampaio no partido.

Ao apanhar, na mesmo noite, a banhada da segunda maioria absoluta do PSD (50,6%) e o estado de choque de Guterres, Jorge Sampaio não teve remédio senão deixar o lugar de secretário-geral e entrincheirar-se na Câmara de Lisboa a preparar uma bem sucedida candidatura a Belém, que lhe permitiu vingar-se de Cavaco.

Os cinco anos de governo guterrista foram um preço demasiado elevado que tivemos de pagar para aprendermos que querer agradar a todos é a receita certa para o falhanço, mas valha a verdade que Guterres saiu com estilo, quando, após a estrondosa derrota nas autárquicas de 2001, explicou que se demitia para evitar que o país caísse no "pântano democrático", abrindo assim duas portas ao mesmo tempo: a de S. Bento a Durão Barroso e a do Largo do Rato a José Sócrates.

Após uma década de paz socrática (o equivalente socialista à década de pacificação interna de que o PSD beneficiou no consulado de Cavaco), volta a ouvir-se, no interior do PS, o ruído de botas, prenúncio de guerra.

Para comemorar o primeiro aniversário da liderança (?) de Seguro, António Costa resolveu fazer uma prova de vida através de uma entrevista à Lusa, em que arranjou uma formulação mais palavrosa que o "estado de choque"de Guterres (mas muitíssimo mais divertida) para comunicar que vai ser líder do PS - só não se sabe é quando.

"Se me perguntar se eu posso ser guarda-redes do Benfica, digo-lhe claramente não posso ser guarda- -redes. Ser secretário-geral é diferente. Acho que tenho algumas qualidades que poderia mobilizar a favor dessa função", confessou Costa.

Ele acha que tem "algumas qualidades" para ser secretário-gera l e eu acho a frase deliciosa, a começar pela imagem (se bem que desde que vimos Roberto na baliza do Benfica já nada nos pode espantar neste particular) e acabar no uso do condicional - "algumas qualidades que poderia mobilizar a favor dessa função".

Nesta semana ficamos a saber de ciência certa uma coisa de que já desconfiávamos. O camarada Seguro é mais um temporário. Está a aquecer o lugar para Costa ocupar quando entender chegada a hora de pôr a cabeça de fora. E como está a prazo, Tozé pode estar, como o outro, a lixar-se para as eleições.

A única interrogação que fica no ar é a de saber se António Costa será o ponta de lança que o PS necessita para marcar os golos que o levem de volta ao poder.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias

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