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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

La culture est très importante pour le développment économique et social de l’humanité

Et voilá! As artes e a cultura predominam nesta quarta e penúltima prestação da minha declaração de amor em 100 pontos ao Porto, que é imortalizada com um título na língua de Voltaire, Descartes e Laetitia Casta, com o subido objectivo de conferir à lista um suplemento de elevação e «panache».

Para além da arte pública, da arte privada e dos museus, é a hora para falar da clorofila e das vistas. Os cafés, casas de chá, restaurantes e restantes pernículos serão abordados no último acto deste inventário que já vai longo.

 

ARTE PÚBLICA

 

61 Anémona

 

Instalada no espaço aéreo da praça Conde S. Salvador, a porta de entrada em Matosinhos pela beira mar é talvez a mais vistosa obra de arte pública no Porto – e a minha preferida. A autora, a norte-americana Janet  Echelman, baptizou-a «She Moves» mas o pessoal rebaptizou-a «anémona» - e fez bem. A enorme rede, de um vermelho acobreado, simboliza a rede de pesca e é, portanto, uma homenagem aos pescadores . As três torres em que a rede assenta evocam as chaminés das fábricas conserveiras de Matosinhos, que nos tempos áureos da indústria foram 50, das quais apenas duas (Pinhais e Ramirez) sobreviveram.

 

 

62. Menina Nua

 

Poucos portuenses sabem o verdadeiro nome desta estátua: «Juventude». É uma fonte decorativa em mármore e pedra lioz. A água brota de quatro bocas em forma de carrancas, uma em cada face do pedestal. Sentada neste, uma figura académica de mulher representando uma alegoria de juventude (o que explica a designação popular). O escultor é Henrique Moreira, nascido em Avintes em 1890 e falecido em 1979; este discipulo de Teixeira Lopes que aprendeu com um santeiro, cursou Belas Artes e ficou conhecido como «o escultor do Porto».

 

 

63. Treze a rir uns dos outros

 

Surpreendente conjunto escultórico do espanhol Juan Muñoz (foram a sua última obra pois morreu, prematuramente, logo a seguir), instalado no Jardim da Cordoaria. Compreende quatro bancadas por onde se distribuem 13 figuras de feições chinesas que compõem grupos de conversadores sorridentes, em posições inesperadas – um deles cai para trás, não se sabe se empurrado ou se desequilibrado pelo riso.

 

 

64. Colher de Jardineiro de Oldenburg

 

Toda a cidade que se preze tem uma escultura gigante da autoria da dupla constituída pelo sueco Claes Oldenburg e o holandês Coosje van Bruggen. Filadélfia tem a Mola de Roupa. Chicago tem a Coluna Bastão. Barcelona tem a Carteira de Fósforos. Tóquio tem a Serra. Colónia tem o Cone de Gelado Caído. Eindhoven tem os Pinos Voadores. O Porto tem a Colher de Jardineiro, uma escultura de dimensões generosas (7,3m x 1,3m x 1,4m), feita de aço inoxidável, alumínio, plástico reforçado com fibra, pintada com esmalte acrílico, que está enterrada no Jardim de Serralves e é visível a quem passa pela avenida Marechal Gomes da Costa.

 

 

65. Painel Ribeira Negra

 

Na base da encosta de Guindais, junto ao início do tabuleiro inferior da ponte D. Luiz, o mestre Júlio Resende desenhou uma intensa dramatização da vida na zona da Ribeira. Produzido em 1985 o painel  (40 metros de comprimento por 4,8 m de altura) evoca a densa atmosfera do local.

 

 

66. Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular

 

A primeira pedra deste monumento  - instalado no meio do jardim central da  Rotunda da Boavista - foi lançada pelo rei D. Manuel II, em 1909. A sua construção não foi rápida. Apenas foi concluído e inaugurado 42 anos depois (em 1951), pelo Presidente da Republica Craveiro Lopes. O leão (inglês) a despedaçar a águia (francesa) permite segundas leituras - futebolísticas. Em 1987, era eu chefe de Redacção de «O Comércio do Porto», usei a fotografia dessa escultura para ilustrar a peça referente aos célebres sete a um que o Sporting enfiou ao Benfica.  

 

 

ARTE PRIVADA

 

 

67. Auto-retrato de Aurélia de Souza

 

Nunca me hei-de cansar de ver da intensidade do olhar, da perturbadora frieza das feições, do ar grave e sério com que a pintora se retrata, fazendo o seu próprio caminho e afastando-se da estética naturalista do «mainstream» da pintura portuguesa da segunda metade do século XIX, onde pontificavam Columbano, Silva Porto e Malhoa. Este auto-retrato está exposto no Museu Nacional Soares dos Reis.

 

 

68. O Desterrado

 

A obra maior do escultor portuense, feita na sua juventude (tinha 24 anos), tem uma história quase tão dramática quanto a do seu autor, que se suicidou com dois tiros na cabeça, aos 42 anos, na sequência de uma profunda depressão. O Desterrado começou a ser esculpido em mármore de Carrara, em Roma (onde Soares dos Reis viveu como bolseiro após ter fugido de Paris por causa da Guerra Franco-Prussiana), e acabou de ser concluída no Porto. O sucesso internacional da obra levou os invejosos a questionarem à boca pequena a sua autoria, calúnia que acabaria por ser completamente desmontada. O Desterrado e,  logo a seguir,  a Flor Agreste, são as minhas duas obras preferidas de Soares dos Reis. Ambas estão expostas no museu que transporta o seu nome.

 

 

69. Fons Vitae

 

O melhor quadro em exposição no Porto é muito provavelmente o Fons Vitae, uma pintura a óleo sobre madeira de carvalho de dimensão generosa (2m67m x 2m10), que pode ser visto na sede da Misericórdia do Porto. Pintado por volta de 1520,  por um anónimo flamengo, retrata um tema raro: uma fonte coroada por um calvário e alimentada pelo sangue de Cristo - «fonte de misericórdia, fonte de vida, fonte da piedade», reza a legenda. No plano superior, Cristo crucificado é ladeado pela mãe e por S. João Evangelista. No nível inferior, terreno, dispõem-se à volta da fonte 32 figuras – no primeiro plano estão o rei D. Manuel, a rainha e os seus oito filhos. O vermelho do sangue de Cristo, impressionante no encher da fonte, prolonga-se nas vestes de S. João Evangelista, do Rei, da Rainha e dos seis infantes. 

 

 

MUSEUS

 

 

70. Museu Nacional Soares dos Reis

 

O antigo Palácio Carrancas é desde 1940 um museu que tem em exposição permanente a sua colecção, com três núcleos particularmente ricos: escultura de Soares dos Reis, pintura portuguesa dos séculos XIX e primeira metade do século XX (com especial destaque para Henrique Pousão e Veira Portuense), e faiança proveniente das famosas fábricas do Porto e Gaia. Merece ainda referência as colecções de ourivesaria (peças religiosas e civis), de mobiliário, têxteis e vidro.

 

 

71. Museu de Arte Contemporânea (Serralves)

 

A mais valiosa peça da colecção deste museu está em permanente exposição. Trata-se do edifício riscado por Álvaro Siza, com as suas linhas simples e depurados («less is more») e as fabulosas janelas rasgadas. O Porto tem o mais bonito e mais admirado museu do país, que Mário Cláudio olha como «um iate colossal que demanda o Norte da sua navegação». É também o mais visitado.

 

 

72. Museu Romântico da Quinta da Macieirinha

 

Dê largas ao seu «voyeurismo» espreitando como viviam os ricos e poderosos do século XIX com uma visita a este museu, que usa a casa da Quinta da Macieirinha onde Carlos Alberto, rei do Piemonte e da Sardenha, viveu o exílio portuense que consumiu os últimos tempos da sua vida no exílio portuense.

 

 

PARQUES E JARDINS

 

 

73. Parque da Cidade

 

Nova Iorque tem o Central Park. Londres tem o Hyde Park. O Porto tem o Parque da Cidade. Nova Iorque e Londres só podem invejar-nos o facto de termos um parque com saída para o mar. O remate da frente marítima, concebido pelo arquitecto catalão Manuel Solà-Morales, foi genial. Se não era possível levar o parque até ao mar, levava-se o mar até ao parque. E assim se fez, sob o patrocínio da Porto 2001. Máquinas desaterraram e deixaram o mar ir até ao parque. Engenhoso, não foi? 

 

 

74. Jardim Botânico

 

Ocupa a propriedade da Casa Andersen, onde cresceu Ruben A. e morou Sophia. Quando frequentei a Faculdade de Letras que ficava ali a dois passos, fui muito feliz junto ao precioso e terno laguinho dos nenúfares do Jardim Botânico. O estado de conservação do jardim não é fabuloso, mas vale um passeio.

 

 

75. Jardim da Cordoaria

 

Por obra da Porto 2001, cresceu, transformando-se numa imensa placa verde, reservada a peões e eléctricos, delimitada pelo antigo mercado do Anjo (actualmente ocupado pelo degradado e abandonado ClérigoShopping), Palácio da Justiça, Cadeia da Relação e Faculdade de Ciências. Mas além de crescer mudou de carácter, tornando-se mais poroso (o que não agrada a todos os portuenses) e passou a estar como que riscado por uns inovadores degraus de granito panorâmicos, com 45 cm de altura e 90 cm de profundidade. O coreto mudou de lugar, e o lago sobreviveu à mudança – a árvore da forca não..

 

 

76. Parque de Serralves

 

«Os sonhos de Serralves, e outras virtudes inúmeras lhe assistem, extremam-se naquele bosque de furna com uma lagoa ao fundo, no qual a todo o momento se espera assistir ao comércio do longínquo pintor Gauguin com uma caterva de floridas raparigas, febris de langor polinésio». Este pedaço de prosa de Mário Cláudio é inspirado por um bocado dos 18 hectares de jardins do parque de Serralves, que se desenvolvem em socalcos e cuja organização foi encomendada pelo conde de Vizela ao arquitecto paisagista francês Jacques Gréber. Os jardins desenvolvem-se em socalcos diversificados desde o jardim Art Deco da esplanada da modernista casa cor-de-rosa (projectada por Marques da Silva) até uma quinta onde se cultivam milho, hortaliça e alfazema, passando pelo lago romântico, habitado por patos e cisnes, belos roseirais,  relva, sebes, arbustos, camélias, recantos para ler e namorar, milhares de árvores, de espécies vulgares (pinheiros) – ou nem por isso (castanheiros da Índia e cedros do Líbano).

 

 

VISTAS

 

 

77. Descida da rua de General Torres

 

Apesar da unanimidade nem sempre ser consensual, todos os portuense convergem num ponto: as mais deslumbrantes vistas do Porto obtêm-se a partir da margem esquerda. Tenho para mim que uma das mais deslumbrantes vistas é a que se obtém quando se desce de automóvel a rua de General Torres em direcção ao tabuleiro de baixo da ponte D. Luís. Aí chegados, andamos um pouco para a esquerda e chegamos ao cais de Gaia onde se obtém uma vista mais alargada do casario que trepa a encosta até à Sé e ao Paço Episcopal, o único edifício que rompa uma escala de presépio.

 

 

78. Esplanada do Arrábida Shopping.

 

Uma panorâmica única da cidade. Um sítio magnífico para passar a manhã. A esplanada do café do último piso do Arrábida Shopping é um sítio magnífico para passar a manhã e o posto de observação privilegiado para uma vista pouco comum – encosta de Massarelos (onde está a Faculdade de Arquitectura), Boavista, Jardins do Palácio. Uma panorâmica única.

 

 

79. Jardim do Morro da Serra do Pilar do Porto

 

É do pequeno muro do jardim do morro da Serra do Pilar que se obtém a vista do postal ilustrado por excelência: a clássica panorâmica do casario da  Ribeira, a erguer-se desde o rio até à Sé, no morro da Penaventosa (onde a cidade nasceu).

 

 

80. Outras alternativas

 

Se fizer a marginal de Gaia caminhando no sentido da foz do rio, passando pela vila piscatória da Afurada (onde nasceu Vítor Baía) e indo até ao Cabedelo vai sendo bafejado por fascinantes panorâmicas da zona mais ocidental do Porto – vale a pena leva máquina fotográfica.. Se não tem vertigens, arrisque atravessar a pé a Ponte da Arrábida, abra bem esses olhos e deixe-se deslumbrar. Do lado do Porto experimente edifícios altos, como os últimos andares do Hotel D. Henrique e da Cooperativa dos Pedreiros (onde está o restaurante Portucale) e do parque de estacionamento do Via Catarina. E se procura um ambiente mais intimista, faça o favor de ir até ao miradouro de Santa Catarina (à direita de quem sobe as Condominhas vindo do Largo do Calém).

 

Jorge Fiel

 

 

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