Centros Históricos - quem lhes acode?
Muito se tem dito e escrito sobre os Centros Históricos.
Porque estão desertos ou os resistentes são uma população envelhecida, logo vulnerável porque está isolada, o património encontra-se degradado, há insegurança e daí ser urgente a sua reabilitação e humanização.
Tudo isto é verdade e sobre tudo isto todos estamos de acordo.
No jornal Público, de Domingo, havia dois artigos muito interessantes sobre a matéria.
(não sei se o resto do país pôde ler porque um destes artigos, sobre Guimarães, vinho no Local Porto).
Dizia-se, numa notícia, sobre o Porto tudo o que já se sabe há muito tempo. Problemas e mais problemas, tentativas para os resolver, estratégias sobre estratégias, constituição de empresas, etc , etc .
O resultado também é o conhecido. Nada ou quase nada foi feito.
O Centro Histórico do Porto - esse que é Património da Humanidade declarado pela UNESCO - está a cair aos bocados, a "patine" da zona, que é uma marca da cidade e da região, está a perder-se duma forma que se não for "atacada" urgentemente vai passar a ser apenas uma memória fotográfica.
Por outro lado, na outra notícia, era publicada uma peça sobre a exemplar recuperação e regeneração do Centro Histórico de Guimarães, também ele Património da Humanidade.
Os edifícios estão recuperados, habitados e a zona já recuperou 5% da população. Há gente, movimento, bares, animação (por vezes barulhenta). Há vida. Há cidade.
Está mesmo na moda morar naquelas ruas e ruelas da Cidade Berço.
Então de que é que estamos à espera?
Será que a formula de Guimarães não pode funcionar de exemplo para o resto do país?
Para quê estar a inventar a roda se ela já está inventada?
A coisa ao que parece foi simples.
Criou-se um GTL - Gabinete Técnico Local - dirigido pela arquitecta Alexandra Gesta e contrataram o grande e saudosos arquitecto Fernando Távora - "pai" da famosa Escola de Arquitectura do Porto, ainda hoje a melhor do país que projectou arquitectos como Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto Moura, entre outros.
Depois definiram uma estratégia, estabeleceram-se regras, aproveitaram-se, e bem, os fundos comunitários e os resultados apareceram. Nunca se esqueceram das pessoas. Este aspecto é fundamental. Ainda agora a "fixação dos nativos através de programas de apoio é crucial. Este tipo de intervenções têm de ser feitos com o envolvimento da pessoas e não contra os naturais e residentes.
Pelo meio da intervenção - que continua - houve achados importantes, como muralhas "escondidas" nas paredes do casario, e muito trabalho, dedicação e uma grande consideração pelo património que é de todos nós.
Já agora deixo a sugestão.
Vão dar um passeio até Guimarães. Vale a pena. A cidade está viva. Tem gente. Há uma boa oferta cultural principalmente no Centro Vila Flor e no Museu Alberto Sampaio.
Guimarães teve uma estratégia que passou nomeadamente pelo incremento do Pólo da Universidade do Minho.
Uma estratégia ganhadora. Guimarães é hoje uma cidade média de referência.
Hoje mesmo Gaia anuncia que vai colocar câmaras no seu Centro Histórico - a Ribeira - para controlar a anarquia no estacionamento e controlar o acesso automóvel.
Os Centros Históricos das cidades são a sua alma, as suas origens, a memória colectiva. A referência.
(nota: é de louvar que um grupo de cidadãos esteja a promover um conjunto de festejos para comemorar a Declaração da UNESCO que considerou o Centro Histórico do Porto Património da Humanidade. É um excelente exercício de cidadania. Ainda bem que há gente com memória e que ama a sua cidade)