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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Os metros reflectem o carácter das cidades que servem e dos passageiros que os usam

 

 

 

O Metro do Porto é muito mais do que um sistema de transportes e uma empresa estruturante do espaço urbano. É também uma obra de arte, um enorme motivo para termos orgulho em sermos portuenses, e, ainda, uma prova viva e documental do centralismo que asfixia o nosso país.

 

Concebido por Eduardo Souto Moura, o metro é uma obra de arte premiada internacionalmente, onde estão espalhadas as impressões digitais os nomes mais luminosos da Escola de Arquitectura do Porto, como Siza Vieira, Alcino Soutinho e Adalberto Dias, entre outros.

 

Tenho para mim que, mais coisa menos coisa, os metros reflectem o carácter das cidades que servem e dos passageiros que os usam.

 

O metro de Lisboa, onde a sobriedade elegante da pastilha de Maria Keil foi substituída nas estações por decorações concessionadas a artistas de diversas escolas e obediências plásticas, reflecte, na sua incoerência plural, o «patchwork» de uma capital rica num pais pobre e que atraiu como um imã poderoso gentes de todo o país, bem como os enteados, enjeitados e ambiciosos de um Império falido.

 

O grandioso e luxuoso esplendor das estações do metro de Moscovo glorifica o regime estalinista que as mandou fazer. A ostentação patente em estações como Ploshchad Revolitiusii, Komsomolskaya-Kolttsevaya ou a Mayakovskaya só é possível na capital de um país que foi sempre governado autocraticamente por czares de várias cores.

 

O metro de Los Angeles, quase exclusivamente usado por hispânicos, documenta a impotência do governo de uma cidade feita em nome do automóvel e assente em falhas geológicas para oferecer uma alternativa de transporte aos ilegais e excluídos que não podem conduzir um carro.

 

Com as suas estações vestidas quase por igual, com linhas rigorosas e depuradas servidas pelo cinzento do granito, o Metro do Porto é a cara da rudeza da cidade e da simplicidade franca dos seus habitantes. Não engana ninguém.      

 

«Então viestes a Lisboa para poderes andar de metro?!» Perdi a conta às vezes que ouvi esta alegada brincadeira, dita assim ou por outras palavras, da boca de colegas meus quando me encontravam nas minhas deslocações diárias de metro entre Telheiras (onde vivia) e o Marquês (onde era a sede do jornal), no período em que estive em Lisboa a editar a Revista do Expresso.

 

Os lisboetas usam desbloqueadores de conversa pouco imaginativos quando encontram alguém do Porto. Por regra, desatam a tentar imitar de uma forma boçal a nossa pronúncia («Atão, como vai o Puaartu?»), convencidos que estão a ser tão engraçados como o Ricardo Araújo Pereira.

 

Felizmente que há cinco anos deixaram de poder fazer humor com o facto do Porto não ter metro.

 

O Metro do Porto é também um motivo de orgulho de uma metrópole que durante anos a fio sofreu o estigma de não possuir o mais eficaz e moderno dos meios de transporte urbano.

 

Cinco anos depois, num momento em que a sua rede une as duas principais estações de caminho de ferro (Campanhã e S. Bento), o aeroporto, o Dragão e o El Corte Inglês, não tenho dúvidas de que metro é mais um motivo para termos orgulho em sermos portuenses, a par de Serralves, o Parque da Cidade, do FC Porto, das Caves de Vinho do Porto, do Majestic, do Jornal de Notícias, da Anémona de Matosinhos, da livraria Lello, das tripas, do rio Douro e da Casa da Música e o Metro – só para citar uma dúzia de exemplos de uma lista interminável.

 

Jorge Fiel

 

PS. No dia exacto em que se comemora o quinto aniversário sobre o início da operação do metro no Porto, deixo aqui um pequeno extracto de um texto que tive o prazer de escrever para o livro que sublinha esta efeméride – cuja capa ilustra e encima este «post».

 

Neste dia não posso deixar de exprimir o meu regozijo por a empresa do Metro do Porto ter apresentado um novo desafio pelo qual todos nós estamos obrigados a lutar – a construção da nova linha circular subterrânea que sirva os bairros populosos.

 

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