A propósito da iniciativa que decorreu nos últimos dois dias no Palácio da Bolsa, liderada pela Universidade do Porto (a maior do País, sabiam?) e com o objectivo de discutir o futuro do Norte, não posso deixar de notar o relativo pouco relevo que lhe foi dado genericamente pela comunicação social. Seria por falta de gente ilustre nas conferências ? Não pode ser, afinal estavam lá Artur Santos Silva, Rui Moreira, Carlos Lage , Rui Rio, o reitor da UP , muitas outras figuras do Porto e do Norte... Por falta de espaço ou excesso de agenda? Não faltaram temas bem menos interessantes a ocupar páginas e minutos de rádio e de televisão...
A verdade é que, aparentemente por falta de interesse, os registos foram bem menores do que eu pessoalmente esperava. Não for a confirmação da nova e bem vinda "costela regionalista de Rui Rio" e nada de muito excitante ou novo teria saído do conclave, pelo menos segundo a comunicação social. Vamos a ver se a divulgação das conclusões, a cargo de uma comissão que as apresentará daqui a uns meses, nos animam um pouco mais...
Mas o objectivo deste post ", que devia ter a data de ontem (é à terça-feira que eu tenho que cumprir o meu "serviço mínimo" em prol da causa regional, o que faço com todo o gosto), é o de chamar a atenção para o facto de hoje em dia apenas "O Primeiro de Janeiro" ter o seu proprietário no Norte do País. Mesmo o nortista "JN" é propriedade da Controlinveste , empresa sediada em Lisboa e ela mesmo muito pouco preocupada com tudo o que vá para lá da rendibilidade do seu negócio (e se calhar, bem...).
E, claro, o Porto Canal e algumas rádios...
Isto ajuda a explicar a pouca atenção dada à citada realização.. O que já não se entende muito bem é que entre os importantíssimos temas discutidos no Palácio da Bolsa não tenha estado precisamente o da informação/comunicação ele mesmo estratégico para a Região Norte.
"Há mais e melhor vida, para lá da Capital do Centralismo, cínica, egoísta e desintegradora! Agora, como as fronteiras caíram e as estradas são boas, Madrid, Barcelona e Paris são cidades bem mais simpáticas e evoluídas, é só escolher a estrada certa..."
Não consigo perceber o que é que a cidade de Lisboa e os seus habitantes fizeram às pessoas do Porto que as leve a este tipo de comentários e outros ainda piores. O que será?
Será que Lisboa e os seus habitantes têm culpa de aqui ser a capital? De aqui estar sediado o governo? De virem para cá pessoas do Norte, do Centro e do Sul? De as empresas mudarem as suas sedes para Lisboa?
O governo, tanto quanto sei, é composto por pessoas de todas as regiões de Portugal. A Assembleia da República tem deputados eleitos por todos os círculos eleitorais do país. As leis que estes senhores fazem são válidas para Lisboa, para o Porto e para o resto do país.
Quer maior demagogia do que continuarem a dizer que no Porto trabalham e que em Lisboa é só festa? Não costumam ver a televisão de manhã? O que é que os ocupantes daqueles milhares de carros que entram diariamente na cidade virão fazer aqui? Virão para a festa?
"E no Porto, tínhamos sedes de jornais e bancos com dimensão nacional e todo o tipo de comércio e indústria."
Será que foi publicada alguma lei que impeça os portuenses de os ter? Estou em crer que não! Veja-se o caso da Sonae, por exemplo. Ou será também é culpa da cidade de Lisboa e dos lisboetas?
No que diz respeito à Comunicação Social está cheio de razão. Continuam a publicar notícias, regra geral sem qualquer interesse, que se destinam unicamente a incrementar as audiências. O que é relevante e de interesse nacional se não é susceptível de uma boa "cacha" não é, pura e simplesmente, publicado.
Concordo consigo, mesmo sendo nascido nesta terra, surpreende-me a sua actual tacanhês e submissão ao poder central, não se fazendo respeitar e exigir o que a si pertence. O Porto e o norte, em geral, nunca foram lugares de rastejo... como o são no presente. A culpa só pode ser nossa. Nossa e de mais ninguém! Temos falta de liderança e, aqueles que se nos apresentam como tais, são, na verdade, hipócritas de ocasião, que se foram aproveitando da maré... A situação a norte está demasiado má para ser ignorada por todos os portugueses mas, muito em especial, pelos seus índigenas, os que mais têm a ver com a sua desgraçada situação. Não vale a pena alijar responsabilidades e apontar bodes-expiatórias para a nossa falta de dinâmica e criatividade. Os culpados são mais que conhecidos. Sempre lá estiveram... para proveito próprio, claro!