Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Eu, parolo, confesso que fui ao «Música no Coração» e gostei

Sim. Confesso que sou um parolo que fui ao Rivoli ver o «Música no Coração» e fiquei muito satisfeito porque passei um bom bocado e dei o tempo por bem empregue.

Desde 4ª feira, integro a legião de portuenses bimbos que há uns meses esgotam a lotação do Rivoli para ver e ouvir os musicais de Filipe La Féria.

E o mais grave é o facto de, não contente com o facto de ter apreciado, ainda por cima me dou ao luxo de publicitar este meu gosto que as élites culturais da cidade não hesitarão um segundo em classificar como duvidoso – no mínimo.

A lata sempre foi um dos meus fortes.

Mais. Como me tenho em elevada consideração, afirmo que eu e as largas dezenas de milhares de pessoas que viram o «Jesus Cristo Superstar», «Principezinho» e «Música no Coração»  somos a prova dos nove da justeza da decisão de Rui Rio de retirar o Rivoli do circuito da programação cultural alternativa e marginal, reservada a minorias microscópicas.

Ao concessionar o Rivoli a La Féria (personagem que não conheço e que não me suscita a mínima empatia), o presidente da Câmara fez um  magnífico dois em um. Poupa dinheiro (nos termos do contrato de concessão a autarquia recebe 5% da receita liquida da bilheteira) e ajuda a preencher uma imensa lacuna que existia na oferta cultural e de entretenimento da cidade.

O mercado está a provar que Rio estava tão carregadinho de razão que até se arrisca a ficar com uma hérnia.

Nestes meses de Rivoli privatizado e travestido em pequena Broadway tripeira, fui lá mais vezes do que durante os 35 anos que medeiam entre o dia de hoje e o do célebre concerto dos Vinegar Joe que haveria de imortalizar a sala na canção de Tê e Veloso («Anel de Rubi»).

A revitalização da Baixa e o renascer da cidade exige que os equipamentos culturais estejam cheios de gente, que as pessoas saiam de casa, à noite e ao fim de semana, para irem ao teatro, ao cinema, ao concerto, à exposição – e que antes ou depois jantem fora e leiam o jornal numa esplanada.

Para que isso aconteça, tem de se exterminar o autismo. Não pode haver um divórcio total entre a oferta e a procura. 

A programação cultural tem de se adequar aos gostos dos públicos, da mesma maneira que o agente funerário quando recebeu m cadáver trata de arranjar um caixão adequado ao seu tamanho e cubicagem, não lhe passando sequer pela cabeça cortá-lo para caber dentro de uma urna pré-existente.

A ópera de Emanuel Nunes no São Carlos não invalida (antes pelo contrário) os fantásticos concertos «promenade» do Coliseu do Porto. A revista Atlântico não é contraditória com os diários gratuitos. A exposição de António Cruz, no Soares dos Reis, complementa a de Rauschenberg em Serralves. O «Equador» de Sousa Tavares convive com «Jerusalém» de Gonçalo Tavares.

Acresce que a indústria cultural não pode viver à sombra da bananeira dos subsidios. O seu financiamento tem de  ser plural.

Não vejo mal nos subsidios, mas o financiamento da indústria tem de assentar no tripé subsidios/mecenato/público – sem que o pé mais forte tem de ser este último, por uma questão de independência artística e sustentabilidade.

Rio brilhou a grande altura quando privatizou a gestão do Rivoli. E tem razão em aprofundar este caminho privatizando outros equipamentos como a Praça de Lisboa e o Mercado Ferreira Borges.  Penso que já toda a gente percebeu que os privados gerem melhor do que o Estado.

Jorge Fiel

www.lavandaria.blogs.sapo.pt 

38 comentários

Comentar post

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2012
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2011
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2010
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2009
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2008
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2007
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub