O Foz Velha e a Lisboa pequena
(Uma das salas do Foz Velha)
Estive recentemente no Foz Velha no jantar do quinto aniversário - aqui vão os parabéns atrasados para o chefe Marco Gomes e a sua Carla. Já se sabe que se come divinalmente naquela casa e em dia de aniversário é... de cair para o lado com tantos sabores.
Acontece que na minha mesa ficaram, claro, outros ilustres comensais, como a Estela Machado, da RTP, que há-de ser a minha professora de golfe quando eu me dedicar a esse desporto.
Não divagando demasiado do que aqui me traz, prossigo. Na mesma simpática mesa estava também um simpático casal lisboeta, o dr. Cabanelas e a mulher, a viver no Porto há salvo erro 23 anos. Mas, dizia o dr. Cabanelas, "a minha mulher não gosta disto, nunca se adaptou". Seria do frio, seria da chuva, que vento não era certamente e atrevi-me a perguntar à simpática senhora. A resposta foi implacável:
"Aqui as pessoas é só casa-trabalho-casa!".
Pois claro, estamos na cidade do trabalho, assim reconhecida até por alguém da melhor sociedade lisboeta.
Mas há mais. Conta o dr. Cabanelas:
"Vim há 20 e tal anos por três meses para estagiar no prestigiado instituto do prof. Guimarães dos Santos e fui ficando. Mas no dia em que cheguei, era véspera de feriado e fiquei logo admirado porque estava toda a gente a trabalhar. E disse logo: além de médico também sou engenheiro. Engenheiro de pontes!". Não percebi à primeira, mas percebi logo à segunda: "Nunca trabalho nas pontes!".
E por isso, o nosso caro e simpático médico ficou por cá - sempre conseguiu fazer pontes...
E por aqui se vê como é difícil para alguns lisboetas adaptarem-se ao clima cá de cima. É que por cá trabalha-se!
Mas isto pega-se, asseguro-vos. O próprio dr. Cabanelas me explicou que a filha, que veio para cá pequenita e hoje é naturalmente grande e trabalhadora, já não tem esses problemas e adora o Porto.
A lição, óbvia: não é de nascença, mas é preciso catequizá-los de pequeninos. Aí ficam tão bons como nós.
Manuel Queiroz