Olha Para o Que Eu Digo, Não Olhes Para o Que Eu Faço ...
Julgo que a semana que agora acaba deu alguns sinais de esperança na melhoria da jovem, mas cansada, democracia portuguesa.
Tenho manifestado neste espaço preocupada indignação pelos muitos “Diáconos Remédios” que hoje assumem lugares de liderança e que pretendem impor assépticos, formatados e homogéneos modelos de comportamento aos seus concidadãos.
O direito á diferença, o direito de escolha e principalmente a liberdade de opinião, de expressão e de realização pessoal, parecem-me crescentemente ameaçados por este molho de novos ditames e preconceitos que, em nome de bens supremos e indiscutíveis, nos dispensam de comportamentos espontâneos e, por isso mesmo, normalmente perigosos para nós e para o colectivo em que nos inserimos.
E, por isso, temos que mudar de hábitos para que nos saibamos conciliar, por exemplo, com o alto valor do Ambiente, nas suas mais expressivas formulações, nomeadamente de preservação do lince da Malcata, de solidariedade perante os achaques do morcego orelhudo, ou mesmo de resgate à vida das gravuras “fozcoenses”, o expoente ultimo da nossa idílica felicidade colectiva.
Estes Mosqueteiros da felicidade e do bem-estar, têm ultimamente acelerado e aprofundado a sua cruzada, correndo à vassourada com os “charruas” da vida e acabando tenazmente com “charros, beatas e pataniscas”, tudo pecados mortais que nos distraem do caminho seguro da salvação que as estas nobres almas vão generosamente aplainando para nós.
Ora esta semana (Deus, de facto, existe e anda atento), tivemos o Senhor Presidente da ASAE a assumir erros e destemperos, a putativa “Presidenta” do PSD e ex-dama de ferro das Finanças a marimbar-se para o deficit e, pasme-se, o Senhor Primeiro-Ministro a fumar alarvemente uma cigarrada no sagrado espaço de um avião fretado à TAP.
Saber que o rapaz da ASAE se engana, que uma putativa Primeira-Ministra não vai usar dessa qualidade para nos apertar o cinto até à correia e, melhor do que tudo, que o nosso Primeiro-Ministro também, fuma, também erra, também peca e também comete (involuntariamente, claro) ilegalidades, é um sinal de infinita esperança de que a liberdade, pode “voltar a passar por aqui”.
António de Souza-Cardoso