Alberto da Ponte
Anunciou, com semblante carregado e uma formulação misteriosa, que cometera algo de muito grave que iria ter terríveis consequências na vida e carreira de todos eles. Acto contínuo, perante o desespero e terror dos, colegas que convocara de urgência, Alberto puxou de um revólver e deu um tiro na cabeça. Pum!
Os factos relatados ocorreram a 3 de Março de 1987 numa sala de reuniões da multinacional Unilever e não passam de uma partida de Carnaval – a arma era um brinquedo, o disparo foi de fulminante.
O presidente da Central de Cervejas é danado para a brincadeira. No seu círculo de amigos, são lendárias as histórias de partidas que ele pregou tirando partido do talento em imitar vozes. O seu cunhado, que trabalha na Jerónimo Martins, é uma das vítimas da sua capacidade em falar tal e qual Alexandre Soares dos Santos.
A última partida que ele pregou não foi a brincar e consistiu em conquistar para a Sagres a liderança histórica da Super Bock no mercado cervejeiro nacional.
A lata de Alberto era conhecida desde o episódio da trasladação dos restos mortais de D. Miguel. Ele foi o primeiro a pôr o dedo no ar quando a professora primária perguntou à classe o que sabiam sobre o assunto. Contou que tinha estado lá e descreveu minuciosamente o cortejo, os cavalos engalanados, as fardas engomadas, os arranjos de flores, o bruá da multidão.
“Espero que quando se realizar, na próxima semana, a cerimónia seja tão bonita como a que o menino descreveu”, rematou a professora, mal ele se calou.
O seu talento profissional tinha sido demonstrado à saciedade durante os 30 anos de carreira na Unilever, onde o sucesso conseguido para produtos como o Vim, Pepsodent e Rexina, levaram a Scottish & Newcastle a desafiá-lo, para mudar de vida aos 51 anos, com a missão de ressuscitar a Central de Cervejas e uma Sagres com 33,9% de quota de mercado (a Super Bock tinha 45,1%).
“Tive uma sorte danada”, reconhece, após uma troca de impressões com Pedro (que ajuda o pai no comando do Solar dos Presuntos) sobre as eleições no Sporting (“Então como é? Estamos com o Bettencourt ou com o Dias Ferreira?”). Escolheu o prato do dia, cozido à portuguesa, “mas só com arroz, carnes secas e enchidos”, regado a imperiais Sagres, servidas em copos personalizados com a marca da cerveja e a fachada e nome do restaurante.
A sorte danada foi ter assumido a liderança da Central nas vésperas do Euro 2004 e a Sagres ser a patrocinadora da nossa selecção, permitindo-lhe tripular a onda de patriotismo que assolou o país.
Alberto percebeu a importância do futebol e mudou, dos palcos dos concertos rock para os relvados, o campo de batalha com a Unicer. Ao patrocínio da Selecção, acrescentou o da I Liga e tem-se dado bem com isso, pois, ao cabo de quatro anos, desalojou a Super Bock do primeiro lugar.
“O futebol é uma aposta tão boa que a concorrência nos resolveu atacar por aí. A Super Bock está a copiar a estratégia da Sagres. Mas estou convencido que isso é um erro. É perigoso mudar de personalidade. Ninguém iria compreender se eu agora começasse a usar piercings e rabo de cavalo. A Super Bock é uma cerveja bon chic bon genre. Nós apostamos no futebol porque a Sagres é uma marca popular”, explica.
A tensão entre as duas cervejeiras subiu com o abandono pelo BES nas costas das camisolas dos três grandes. A Sagres assegurou logo o Benfica, enquanto que a Super Bock ficou com o Porto.
Alberto julgava estar protegido na frente sportinguista por um contrato com validade até 2011, que lhe dava a exclusividade em Alvalade. Enganou-se. Mas ele não aceita que as camisolas do seu clube façam propaganda à Super Bock e acusa a direcção cessante de Soares Franco de ter rasgado um contrato válido. Ameaça por isso com uma acção judicial em que pedirá uma mega-indemnização, fundamentada na eventual perda de 1,5% de quota de mercado, o que pode implicar que a Sagres perca a liderança.
“Enquanto gestor não posso fazer outra coisa”, conclui Alberto, filho de um benfiquista mas sportinguista desde miúdo, por influência do tetra dos Cinco Violinos.
Jorge Fiel
Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias
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Restaurante Solar dos Presuntos
R. das Portas de Stº Antão 150, Lisboa
1 litro de Luso … 3,00 euros
4 Imperiais Sagres … 9,00
2 Cozido à portuguesa …32,00
3 pães … 1,80
1 Polvo à galega … 9,00
2 café s… 2,20
Total….. 57 euros