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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Sandra Tavares da Silva

Atrasou-se duas horas, mas foi-nos informando das razões, que eram duas, boas e inesperadas. A manhã dela arrastou-se até às três da tarde por causa de uma visita surpresa da Inspecção do Trabalho na sua quinta, em Vale de Mendiz,  e de uma chamada de urgência à Quinta de Roriz (onde ela ajuda a fazer os vinhos), que tinha acabado se ser comprada pelos Symington a João van Zeller.

A calma e a vista sinfónicas dos socalcos do Douro que se usufruem da esplanada do D.O.C., temperadas pela conversa com o chefe Rui Paula (que vai abrir o D.O.P. no Largo de S. Domingos, no Porto), ajudaram a que as duas horas passassem a voar.

A espera foi amplamente compensada pelo sorriso quente de Sandra e pela excelência dos seus vinhos e da comida – um menu escolhido pelo chefe.

Sandra, 37 anos, é uma enóloga muito bem sucedida. O Pintas, o primeiro filho que ela e o marido (Jorge Serôdio Borges, ex-enólogo na Niepoort) conceberam em 2001, foi aclamado no Financial Times, como “o melhor vinho do Douro” por Jancis Robinson.  E o Chocapalha Reserva 05, que ela faz na quinta dos pais, em Alenquer, foi eleito o melhor tinto pelo painel de provadores da Essência do Vinho.

Ela é um dos emergentes Douro Boys, incensados na imprensa internacional, mas não tem nada de rapaz. Filha de uma suíça e de um oficial da Marinha, Sandra mede 1m85, tem uns belíssimos olhos verdes e foi modelo profissional, tendo desfilado ao lado da Bruni, Schiffer, Christensen e Evangelista nas passarelas de Paris, Madrid ou Nova Iorque.

A roupa casual - camisa Esprit, jeans Massimo Dutti e botas Timberland – não disfarçava uma elegância que não foi abalada por ter andado, há coisa de três anos, com o Francisco na barriga.

“A moda, para mim, foi aproveitar o físico para viajar, conhecer pessoas, divertir-me e ganhar dinheiro. Nunca foi o meu objectivo de vida. Dei sempre prioridade aos estudos. Na moda, é fácil um pessoa deslumbrar-se com o dinheiro, as festas e a fama, mas é tudo efémero. Espreme-se e não sai nada. Pode ser dramático se uma pessoa se deixa ficar 100% dependente da moda”, declara.

No final do curso de Agronomia,  aplicou parte do dinheiro ganho na moda num mestrado em Enologia, feito em Piacenza. O pai passara à reserva e andava entusiasmado a plantar vinha numa quinta que comprara em Alenquer. E ela guardava gratas recordações de quando era miúda e ajudava o avô nas vindimas, em Alcochete.

Regressada a Portugal, há dez anos, logo tratou de fazer uma vindima no Douro, experiência que lhe foi proporcionada por Cristiano van Zeller na Quinta Vale D. Maria, onde ainda é enóloga.

Sandra não conhecia o Douro. Foi um caso de amor à primeira vista. Decidiu ficar apesar dos pais a advertirem que ia viver “para o fim do Mundo”.

“O Douro é uma região deslumbrante não só pela beleza da paisagem, mas também pelo seu enorme potencial. Há tanto por descobrir e fazer. Nós só estamos a começar. Ainda temos de provar que os nossos vinhos envelhecem tão bem como os de Bordéus e Borgonha”, explica Sandra que depois de se apaixonar pelo Douro se apaixonou por Jorge e logo trataram de fazer um vinho, baptizado a partir das pintas com que, por osso do ofício, coloriam as suas roupas de trabalho.

 “Ninguém consegue copiar os vinhos do Douro”, garante esta adepta de vinhos de várias castas. “O engraçado é fazer lotes. É mais arriscado, mas conseguem-se vinhos mais complexos”.

Sandra gosta e faz Porto, e acredita no seu futuro: “O Vinho do Porto vai ter melhores dias. Mas, para isso, é preciso investir em promoção. E o nosso papel como novos produtores é criar novos consumidores. No sul não há o hábito de beber Porto”.

“O Douro está a entrar na moda como destino turístico e isso vai ajudar o Porto. Mas é preciso que não estraguem tudo. Não precisamos de turismo de massas, de abrir auto-estradas e trazer camionetas, mas sim de turismo selectivo de pessoas que gostam de vinho”, atira Sandra à despedida (já eram quase seis da tarde), antes de saltar para o X3 onde faz mais de 200 km por dia, entre as três quintas onde trabalha no Douro.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

 

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D.O.C.

EN 222, cais da Folgosa, Armamar

1 carpaccio de polvo … 7 euros

1 carpaccio de lingua de vaca … 8

½ Tamboril em tempura de cogumelos, acompanhado de batatinhas de Montalegre 10

½ Cachaço de porco bísaro com migas de feijão, grelos e broa de centeio 10

1 Guru branco 07 *

1 Pintas Character *

Água Vitalis 4 euros

Granizado de frutos do bosque e limão com cassis *

2 cafés 4 euros

Total….. 43 euros

*Vinhos da Sandra oferecidos pela Sandra. Granizado foi uma gentileza do chefe Rui Paula

 

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