Teixeira dos Santos e 2 assaltos em Famalicão
Eu já simpatizava com ele. Ambos somos duplamente do Porto (clube e cidade). Mas Teixeira dos Santos subiu alguns pontos na minha consideração ao declarar: “Não sou um super-homem. Sou um simples cidadão que, quando tem de trabalhar mais, trabalha”.
Ao acumular a Economia com as Finanças, o ministro induziu ganhos de produtividade num sector (Função Pública) que bem anda precisado deles, como o prova o facto de termos 52 almirantes para 40 navios.
A baixa produtividade é a kryptonite que debilita a nossa economia. Portugal foi um dos três países da OCDE onde a produtividade registou a desaceleração mais significativa entre 2001 e 2006.
A riqueza por hora trabalhada em Portugal é das mais baixas da Europa, apesar de passarmos horas infindas no local de trabalho, desperdiçadas em reuniões improdutivas, incursões pessoais ao YouTube – e pausas para café, aproveitadas para alimentar a má língua interna, tão perniciosa para o ambiente como a traça num guarda-fatos.
Há a ideia que tudo muda quando vamos para fora. O exemplo clássico desta tese é o Luxemburgo, que é o país mais produtivo do Mundo e tem 20% de portugueses na sua população activa.
Acho que o problema não é de ares, pois, do lado de cá da fronteira, há, em todas as profissões (criminalidade incluída), gente muito competente, capaz e produtiva – e gente que não gosta de trabalhar e faz tudo em cima do joelho. Em Junho, em Famalicão, assistimos a dois casos exemplares destas diferentes atitudes perante o trabalho e a vida.
Na madrugada de 2 para 3, um bando de incompetentes assaltou a igreja de Stª Eulália, onde não havia um cêntimo sequer, pois, como todos os paroquianos sabem, há já dois anos que o padre substituiu as tradicionais caixas das esmolas por peditórios realizados durante a missa.
Seis dias depois, na freguesia de Ribeirão, um grupo de assaltantes limpou todo o dinheiro que havia no cofre de abertura retardada da agência do Banco Popular, após desactivarem o alarme, cortarem a electricidade e desligarem a videovigilância e os sensores de movimento. A operação demorou pelo menos três horas, mas ninguém deu por eles e não deixaram vestígios. Para tudo é preciso competência e profissionalismo.
“Temos de trabalhar mais horas e, sobretudo melhor, com mais produtividade”, avisou-nos Américo Amorim, que sabe do que fala porque apesar de só ter recebido o primeiro par de sapatos no final da primária, conseguiu reunir a maior fortuna de Portugal.
O ideal seria trabalharmos menos e produzirmos mais. Mas na nova ordem económica global em formação, não temos outro remédio senão trabalhar mais e produzir muito mais.
Jorge Fiel
Esta crónica foi publicada hoje no Diário de Notícias