José António Rousseau
O ano passado venderam-se em Portugal 2 170 462 computadores, três aparelhos de telex e duas máquinas de escrever. Quem sabe todos estes números, de ciência certa, não é o INE mas a sim a Associação Nacional de Registo dos Equipamentos Eléctricos e Electrónicos (ANREEE).
Esta associação, de acrónimo impronunciável (dificuldade que o pessoal da rádio contorna, de forma hábil, chamando-a ANR3Es: aeneérretrêsés), foi criada para fazer cumprir a directiva comunitária que torna obrigatória a recolha e tratamento de tudo (lâmpadas incluídas) que esteja ligado à corrente ou funcione a pilhas, o que engloba praticamente todos os objectos que nos facilitam a vida, como iPods, máquinas de lavar louça, aparelhagens sonoras, micro-ondas e fogões, máquinas fotográficas e por aí adiante.
O Big Brother que regista tudo quanto é ventoinha ou varinha mágica vendida no nosso país é José António Rousseau que. além do apelido, também tem o nariz e a testa de Jean Jacques, pelo que é provável que seja seu descendente - o inventor da teoria do Bom Selvagem tinha um irmão que veio para Portugal, fugido da Revolução Francesa, e se casou com uma moça de Viseu.
Rousseau foi advogado e uma espécie de jornalista (fundou e dirigiu a Distribuição Hoje) antes de passar três anos pela Sonae, onde, entre outras coisas, foi responsável pela abertura do Cascais Shopping.
Além de presidir à ANREEE, é também secretário geral da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição, o poderoso lóbi que agrupa 101 empresas, com vendas anuais de 14 mil milhões de euros (8,3% do PIB) e que representam 25 mil lojas e 87 500 trabalhadores.
O dia dele deve ter mais de 24 horas, pois além de gerir estas associações, está a escrever três romances a mesmo tempo, é um estudioso da obra de Pessoa (sobre quem escreve ensaios), dá aulas de Marketing da Distribuição no ISEG e IADE, publica regularmente obras técnicas e manteve o ar mais calmo do mundo durante as mais de duas horas que durou o nosso almoço no Luca.
Abriu com uma flute de espumante e após um rápida vista de olhos à lista escolheu os ravioli de camarão tigre, acompanhados por um Chardonnay da Quinta de Cidrô e sepultados por um Scropini (gelado de limão com vodka).
Rousseau está satisfeito com o estado das coisas no seu sector, onde, ao contrário do que acontece nas embalagens, há concorrência entre duas entidades certificadas para a recolha e tratamentos dos equipamentos.
“Atingimos antes do prazo a meta dos 4 kg per capita/ano de material recolhido”, revela. O sistema funciona de uma forma simples. Quando põe em nossa casa uma máquina de lavar roupa, a loja que a vendeu é obrigada a recolher a velha, e a enviá-la para reciclagem.
Escapam a esta malha os equipamentos mais pequenos, como torradeiras, que normalmente são atirados para o lixo comum – mas mesmo aí são separadas e recolhidas para serem decompostas.
O custo da operação é suportado pelos produtores, que o repercutem no preço de venda ao consumidor – uma quantia que pode oscilar entre os 50 cêntimos, no caso de um telemóvel, e os três euros, num frigorífico de grandes dimensões.
O programa de acção de Rousseau contempla aumentar a rede de recolha (já há pontos em todos os centros comerciais mas ele que os super e hiper também tenham) e trazer para dentro do sistema as mil pequenas empresas , valem cerca de 20% das quantidades vendidas no nosso país e ainda estão fora do sistema.
Ter uma base de dados, permite à ANREEE detectar as tendências de consumo, que estão em linha com o que sucede no resto da Europa – nos televisores por exemplo, vendem-se mais LCD do que plasmas.
“Esta crise não se está a fazer sentir nos electrodomésticos e electrónica de consumo. Há dois anos que se vem verificando um ligeiro mais continuado decréscimo nas vendas, porque o mercado está maduro e as famílias já estão equipadas. Em muitos lares há quatro a cinco televisões. Agora, a pessoas compram para retocar ou substituir o que se avaria”, concluiu Rousseau, que também escreve poesia e anda intrigado por em 2008 não ter sido declarada a venda de nenhuma slot machine.
Jorge Fiel
Esta matéria foi publicada hoje no Diário de Notícias
Menu
Luca
Rua Santa Marta 35, Lisboa
1 Couvert …1,40 euros
1 flute Prosecco … 6,50
1 Lombo de atum… 12,30
1 Ravioli de camarão … 15,90
1 Quinta Cidrô Chardonnay … 16,00
1 Scropini … 4,00
2 Cafés …1,80
Total … 57,90 euros