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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

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A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

João Espregueira Mendes

Amanhã é dia de operar. Na sua rotina, 2ª e 4ª estão reservadas para intervenções cirúrgicas, 15 por dia, no Hospital de Stª Maria (Porto), um programa que começa às 8h30 e acaba quando acabar, normalmente por volta das 22 horas.

Mas para amanhã, estão marcadas duas operações que nada têm de rotina, pois será a primeira vez que em Portugal se vão fazer transplantes de meniscos de cadáveres para seres vivos.

O cirurgião será João Espregueira Mendes, 49 anos (mas aparenta menos), internato feito com 20 valores, o mais jovem doutorado em Ortopedia e o terceiro de uma ínclita geração de ortopedistas com este nome, iniciada pelo avô e continuada pelo pai.

Aproveitou as férias escolares, para almoçarmos a uma 5ª, dia cativado para dar aulas nas universidades do Minho e Porto. Às 4ª, dá 65 consultas e joga ténis. As 6ª são multiusos.

Escolheu o Líder, nas Antas, próximo do Estádio do Dragão, onde está instalada a Clínica de Saúde Atlântica, de que é accionista. Pediu a açorda de marisco e fez uma refeição frugal (não repetiu, nem tocou nos fritos do couvert) acompanhada a água.

Além de portista, é um dos maiores especialistas mundiais em cirurgia do joelho, com duas invenções no curriculum - um procedimento cirúrgico e um aparelho -, o que só pode ter pesado na sua eleição para presidente da European Society of Knee Surgery, Sports Trauma and Arthroscopy.

O novo aparelho (Porto Knee Test Device) serve para medir o grau de lassidão das roturas de ligamentos durante o TAC. O procedimento cirúrgico (GUT) consiste em enxertar na articulação do joelho uma cartilagem retirada da cabeça do perónio. Ele já fez 52 intervenções deste tipo e está convencido que poderia resolver o caso de Mantorras.

Dantes, os problemas no menisco eram resolvidos com a sua remoção. Quando se descobriu que isso provocava artroses, num prazo de 20 anos, começaram a ensaiar-se técnicas alternativas, de reparação e transplante.

“As lesões nas cartilagens custam mais dinheiro aos sistemas de saúde do que os enfartes e cancros. As operações mais praticadas no mundo são as próteses de anca e de joelho”, afirma.

O brutal crescimento de problemas com os ligamentos é filho directo das pessoas viverem mais tempo e praticarem mais desporto, sem grandes cuidados prévios – compram um par de sapatilhas e desatam a correr.

Espregueira acha que “não cabe da cabeça de um tinhoso” não haver em Portugal um instituto público de Traumatologia Desportiva, onde os cidadãos possam fazer uma avaliação médico-desportiva antes de se meterem em cavalarias. “Um tipo chega aos 40 anos, vê a barriga a crescer, inscreve-se num health club, sem ter de apresentar atestado médico, e faz exercícios, sem saber se o coração aguenta”.

A sua visão critica alarga-se à inexistência de prevenção, que tão bons resultados tem dado noutros países, como os Estados Unidos, onde a moda das adolescentes jogarem futebol provocou uma onda de lesões graves, pois as mulheres têm seis vezes mais risco de fazerem rupturas de ligamentos.

A pedido das autoridades norte-americanas,  Espregueira ajudou a desenhar uma campanha de prevenção que em dois anos reduziu a metade (de 30 mil/ano para 15 mil) as intervenções cirúrgicas.

A campanha baseou-se na divulgação de um DVD que exemplifica exercícios simples de aquecimento (como saltar ao pé coxinho ou correr às arrecuas) a fazer duas vezes por semana e que preparam o cérebro para reagir um milésimo de segundo antes ao movimento da perna.

A mentalidade “a galinha da vizinha é mais bonita do que a minha” também é asperamente criticada. “Teimem em mandar atletas serem tratados lá fora, quando temos dos melhores especialistas mundiais nesta matéria. Tão bons que somos procurados por atletas estrangeiros”, concluiu Espregueira Mendes que amanhã vai transplantar meniscos de cadáver, oriundos de um banco internacional de órgãos, mas que, no nosso país, só pode treinar nos escassos mortos portugueses fornecidos pelo Instituto de Medicina Legal, porque a lei não permite a importação de cadáveres para ensino e prática de cirurgia.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Noticias

 

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