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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

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Usar a Sainte-Chapelle para elogiar a vigarice

O pessoal quando vai a Paris não falha a Torre Eiffel, espreita a Notre Dâme e o Beaubourg, não dispensa o passeiozinho de bateau mouche, tira uma fotografia junto ao Arco do Triunfo, desce os Champs Elysées a assobiar a canção homónima do Joe Dassin, vagabundeia pelo Marais, inveja as montras da rue de la Paix, opina sobre as pirâmides do Louvre – e até pode arriscar um raide à ala Denon para ver a Mona Lisa e a Virgem dos Rochedos, redouradas com novo banho de popularidade por Dan Brown.

Faz isto tudo e faz lindamente, sendo mesmo de aplaudir os estóicos que não se importam de pagar duas horas e meia na bicha e oito euros para admirarem no Museu de Orsay a mais rica colecção de pintura impressionista e expressionista do Mundo.

Fazem bem em devorar tudo isto, mais o Quartier Latin, o Sacré Coeur, a Concórdia... Mas fazem mal em não reservarem uma hora para se deixarem encantar pela irresistível beleza dos vitrais da Sainte-Chapelle.

Se nós deixarmos, a luz transparente e colorida coada para o interior da capela, o seu céu estrelado, transportam-nos para sensações irreais, próximas das obtidas numa coffee shop de Amesterdão.

Apesar de não ser masoquista, custou-me que a meio da manhã de domingo, em Agosto, numa Paris habitada por mais turistas do que indígenas, tenha entrado na Sainte Chapelle dois minutos após lá ter chegado. Praticamente não havia bicha.

A Sainte Chapelle foi mandada fazer por Luís IX para servir de relicário à suposta coroa de espinhos de Jesus, comprada ao imperador de Constantinopla pela exorbitância de 135 mil libras - mais do triplo das 40 mil libras que custou a construção da capela.

Como é bom de ver, o rei beato foi enganado. A coroa era falsa. Mas se não fora a vigarice do Beduíno II, não existiria a Sainte- Chapelle.

Balzac dizia que por de trás de cada fortuna há um crime. Eu acrescento que por de trás de cada maravilha pode existir uma vigarice.

Não consegui apurar se há vigarice por detrás do Quai de Branly, o mais branché dos museus parisienses. Desconfio dos métodos usados pelos franceses para reunir a fabulosa colecção de 300 mil estátuas, roupas, máscaras, jóias, instrumentos musicais, etc, da Oceania, Ásia, África e Américas. Mas se não fosse a pilhagem, esta memória poderia ter desaparecido.

A propósito, e como contributo para a minha campanha contra a frase-fado “Isto só cá em Portugal!”, aproveito este elogio velado da vigarice para vos  informar que a Sainte-Chapelle demorou seis anos a ser construída, no século XIII, e que a edificação do Quai de Branly demorou quase o dobro (onze anos) e importou em 250 milhões de euros.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

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