E se chove? O que é vamos fazer se chover?
Nunca fui às Caraíbas, mas creio não mentir se vos disser que nos últimos dias o Zavial até parece as Caraíbas – sem ponta de vento e com a água do mar claramente acima dos 20º. Um paraíso!
O Zavial é a praia onde tenho o hábito de passar 15 dias de férias. Na minha contabilidade, os tradicionais contras da costa vicentina (água fria e vento) são superados por estar numa casa a 200 metros da praia, num percurso perfumado pelas figueiras - e todas as noites perceber o porquê da expressão Via Láctea.
Não haver urbanizações à vista do alpendre onde leio, converso, como e jogo king, tendo como banda sonora o coaxar dos sapos, o zurrar dos burros e o cri-cri dos grilos, ajuda a suportar que a Natureza também nos tenha dado moscas, melgas e mosquitos.
Esta doce vida foi perturbada pela notícia de que hoje pode chover. Um drama, porque tudo o que de bom o Algarve tem desaparece com a chuva, que até os golfistas afecta.
Há três anos, andei dez dias em reportagem a apurar qual dos dois lados do Guadiana era o melhor destino de férias. Na qualidade das praias, o Algarve derrota a Costa del Sol por KO, logo ao primeiro assalto. Mas no resto, os espanhóis ganham-nos aos pontos, a começar pelo preço e acabar na qualidade de serviço, passando por aquilo que acho essencial: o que fazer quando chove.
Na Costa del Sol, os pontos de interesses cultural e histórico multiplicam-se como cogumelos depois de chuva. Há Gibraltar, um pedaço de Inglaterra, enxertado no sul de Espanha, com o atractivo suplementar dos macacos que habitam no topo do Rochedo. Há Ronda, a uns 50 km do litoral, uma pequena jóia com a sua ponte Nueva, que une as duas partes da cidade separadas por uma fantástica garganta. Há Málaga e o seu Museu Picasso, com 200 obras do mais importante artista plástico do século XX.
Do lado de cá do Guadiana, a programação Allgarve, os Abba Gold em Vilamoura e os veleiros da Audi Cup ao largo de Portimão, sabem a pouco. No Algarve, quando chove ficamos todos a olhar uns para os outros sem saber o que fazer, senão ir entupir a 125 e desesperar a procurar estacionamento junto a um centro comercial.
Ora isso é mau porque o turismo é um sector vital da nossa economia, que vale 11% do PIB e 10% do emprego - e só o Algarve representa 1/3 destas receitas.
Por isso, das duas uma. Ou equipamos muito rapidamente o Algarve de uma oferta permanente de pontos de interesse histórico e cultural. Ou então teremos de garantir aos turistas a cobertura do risco de aguaceiros - como a Lufthansa que se comprometeu a pagar 20 euros/ dia em que chova nos destinos que vende com o atractivo de serem solarengos.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias