Miguel Salema Garção
Nunca ligou à política e não faz a mínima ideia em quem vai votar no próximo domingo, mas não alinha nessa do papão espanhol e até olha com muita simpatia a criação de uma Liga Ibérica, sugerida por Rui Pedro Soares, administrador executivo da PT, que é responsável por 10% das receitas do futebol nacional.
“Se o nosso futebol quiser crescer, o caminho é por aí”, afirma Miguel Salema Garção, 41 anos, membro da Comissão Executiva do Sporting SAD. Como a geografia deu-nos apenas dois vizinhos, e um deles é o mar, acha inevitável que as empresas de todos os sectores encarem toda a Península como mercado doméstico.
“Dada a nossa pequena densidade demográfica, temos de apostar na iberização para potenciar o negócio. Numa Liga Ibérica, as receitas dos patrocinadores, assistências e direitos televisivos seriam incomparavelmente maiores”, explica.
Ao longo da sua carreira de gestor, feita entre os CTT e os seguros, Miguel trabalhou um ano em Madrid, numa corretora de seguros do grupo Aon (actual patrocinador do Manchester United) e guarda gratas recordações dessa experiência.
“Os espanhóis percebem melhor do que nós que a função de um profissional é criar valor para o accionista e assim aumentar a riqueza do país e melhorar o seu próprio nível de vida. E têm um sentido de patriotismo que faz-nos falta a nós, portugueses, que somos invejosos e não valorizamos devidamente gente como Durão Barroso, o Ronaldo, o Mourinho ou o Figo com grande sucesso internacional”, declara Miguel, um homem desempoeirado, que casou há 11 anos na Jamaica (um dois em um, já que passou lá a lua de mel) com um advogada que já lhe deu dois sportinguistas, o Manel, de nove anos e a Maria, de quatro.
Almoçamos no Casa 21, no piso da tribuna presidencial do Alvalade XXI, um restaurante concessionado à Casa do Marquês, empresa de catering de José Eduardo, decorado com quadros da autoria de Jordão – o que não deixa de ser comovente, porque, quando ambos eram futebolistas, o actual empresário da restauração partiu (sem querer) a perna ao actual pintor.
Os maus resultados do último exercício (prejuízos superiores a 13 milhões de euros) da SAD leonina não desanimam Miguel: “As pessoas pensam que a crise não chegou ao futebol, mas estão enganadas. As grandes empresas reduziram o investimento, diminuiu o número de espectadores e há menos transacções de direitos desportivos. Além disso, temos estado a segurar os talentos. Nas últimas três épocas, apenas vendemos o Nani”.
Miguel garante que o Sporting está “no trilho certo”, tem uma das melhores academias do Mundo, é o clube português com mais capacidade de gestão, tem um presidente “que combina experiência, profissionalismo e paixão”, e, excepção feita ao tempo dos Cinco Violinos, vive o período de maiores sucessos desportivos da sua história.
Este optimismo alarga-se à sua análise da competividade da indústria portuguesa de futebol: “Está provado por A + B que sabemos fazer talentos mundiais neste sector”, diz, acrescentando que, no entanto, “é preciso aprofundar a profissionalização a todos os escalões, não só os clubes, mas também liga, federação e associações”.
“Os jovens gestores devem poder encarar o futebol como um sector para fazerem a sua carreira, igual a qualquer outro, como a informática, finanças ou distribuição. Se os jogadores, treinadores e directores desportivos circulam por todo o Mundo, porque não acontecerá o mesmo com os gestores?”, pergunta.
Há, no entanto, um pingo de irracionalidade a turvar este raciocínio, já que Miguel declara, sob palavra de honra, que “seria absolutamente incapaz de trabalhar no Benfica”, afirmação susceptível de embaraçar Domingos Soares de Oliveira, o sportinguista que é responsável pelo pelouro financeiro na administração do Benfica.
“Nesta área só me vejo a trabalhar no Sporting. O profissionalismo é o mesmo, mas há a componente da paixão. É um prazer enorme trabalhar no meu clube de sempre”, concluiu Miguel, que, apesar de ser filho de um benfiquista, é o sócio 10 184 do Sporting e foi um dos fundadores da Juventude Leonina.
Jorge Fiel
Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias
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Casa 21
Estádio Alvalade XXI (ao lado porta 4)
2 couvert … 6,00 euros
2 choquinhos à algarvia… 25,00
2 buffet fruta e doce … 10,00
1 água Vitalis 1 l .. 2,00
1 Quinta do Castro tinto … 22,00
2 cafés … 2,00
Total … 67,00 euros