Pedro Magalhães
Como toda a gente que tem filhos pequenos, ele está habituado a acordar cedo por isso não estranhou que hoje, apesar de ser domingo, tenha saído da cama às sete da manhã, como de costume.
Votou à abertura das urnas, no Pedro Nunes, em Lisboa, antes de seguir para o Centro de Sondagens da Católica. Vai passar boa parte de manhã horas ao telefone com comandantes de posto da GNR, membros da Comissão Nacional de Eleições, presidentes de junta de freguesia e de mesas de voto.
Calmo e ponderado, Pedro está a resolver a bem todos os pequenos conflitos locais suscitados pela presença à saída das mesas de voto, das brigadas destacadas para 48 freguesias para recolherem em urnas a repetição do voto de 20 mil eleitores que fundamentarão as previsões que a RTP divulga às 20h00.
De manhã está mais ocupado a ser capacete azul, mas à tarde começa a apertar o tempo para tratar os dados recolhidos um pouco por todo o país pela centena de inquiridores da Católica, pois às 18h00 ele está de partida para a RTP.
Nesse dia longo, Pedro vai a sociedade portuguesa a funcionar. Os mais velhos são madrugadores e votam logo de manhãzinha, o que concede um avanço inicial à direita, reforçado com o pico de afluência às urnas no Norte, a seguir à missa. O Bloco de Esquerda só começa a subir a seguir ao almoço e vai em crescendo até ao fecho das urnas.
“É um dia ao mesmo tempo enervante e divertido”, sintetiza Pedro Magalhães, 39 anos, que há três anos dirige o Centro de Sondagens da Católica, onde foi parar em 1999, porque precisavam lá de alguém “que percebesse de política”.
Licenciado em Sociologia no ISCTE, deu aulas na Católica (Martim Avillez Figueiredo, o director do i, foi um dos seus alunos no curso de Comunicação Social) antes de se doutorar na Ohio State, de onde trouxe uma sólida formação em Estatística, área que as universidades do Midwest são particularmente fortes.
Desde o regresso dos EUA que trabalha como investigador do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa. Mas continua a ser professor. “Gosto de dar aulas. É muito bom para o pensamento e ajuda a ter a cabeça arrumada”, confessa este politólogo que define assim esta sua condição: “O nosso negócio é descrever o mundo político o melhor possível e procurar explicações plausíveis para que ele seja como é”.
Pedro apareceu com um ar descontraído, All Stars nos pés e pulôver sem mangas, no LACaffé do Campo Grande, que fica perto do ICS. Fala com clareza e credibilidade e tem aquele ar do bom rapaz com que todos os pais sonham para marido das suas filhas.
Pediu um Cola Zero para acompanhar as “lascas de bacalhau com brás de tomate e azeite de coentros” (os consultores de cartas recomendam que o descrição dos pratos na lista seja o mais pormenorizada possível…), que se revelaram ser bacalhau à Brás, apresentado em formato de pudim e encimado por saborosas lascas do dito.
O facto das sondagens terem sido o bombo de festa na noite e rescaldo das últimas eleições europeias (apenas a Marktest admitiu a vitória do PSD) não lhe encheu a testa de rugas.
“Uma abstenção elevada baralha tudo. É a grande inimiga das sondagens. Não é por acaso que as europeias correm quase sempre mal”, afirma, acrescentando o exemplo do primeiro referendo sobre o aborto, em que, por causa da altíssima taxa de abstenção, na própria noite de apuramento dos resultados ainda toda a gente dizia que o Sim ia ganhar.
“As sondagens não são previsões eleitorais. Medem intenções e não comportamentos. As pessoas podem estar sinceramente convencidas que vão votar quando estão a responder ao inquérito, mas depois chega o dia e afinal não vão”, explica.
O trabalho das empresas de sondagens tem os seus espinhos. Quase um terço da população não tem telefone fixo. E nos inquéritos presenciais é virtualmente impossível chegar à fala com as pessoas que vivem em condomínios fechados. Mas apesar destes apesares, Pedro Magalhães está convencido que esta noite as sondagens não vão ficar mal na fotografia.
Jorge Fiel
Esta matéria foi publicada hoje no Diário de Notícias
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LACaffé
Av. Campo Grande 3 B, 1º andar, Lisboa
2 couvert … 3,90 euros
2 lascas de bacalhau … 28,00
1/4 Água das Pedras … 1,70
1 Coca Cola Zero 0,33 l .. 1,75
1 salada de frutas … 5,00
2 cafés … 3,00
Total … 43,35 euros