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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Vicente Themudo de Castro

Foto Carlos Manuel Marques

O pastel de nata deve falar connosco. Pegue num, resista à tentação de dar logo uma dentada, vire-o, aproxime-o da orelha e aperte-o delicadamente com os dedos. Se ele ronronar um ligeiro crrec crrec está tirada a prova dos nove. Temos pastel de nata!

Esta foi uma das revelações feitas ao almoço por Vicente Themudo de Castro, 37 anos, um dos dois confrades honorários do Pastel de Nata, que andou 14 anos perdido no mundo das finanças até que, há dois anos, deu o seu grito do Ipiranga e dedicou-se à gastronomia (é crítico profissional e autor amador), a sua grande paixão desde os seis anos, idade em que em vez de jogar ao pião preferiu iniciar-se no segredo dos fios de ovos com o cozinheiro francês da tia bisavó.

A Pastelaria Cristal foi uma escolha óbvia, já que o seu pastel de nata foi eleito o melhor do mundo, na prova realizada em Abril, no Pavilhão de Portugal, por um júri constituído pelo advogado José António Sousa (o outro confrade honorário), o enólogo Domingos Soares Franco e os chefs Vítor Sobral e David Pasternack (nomeado o melhor chef de Nova Iorque), que redigiram notas de prova levando em conta seis critérios: frescura, qualidade da massa, teor de açúcar, cozedura, aspecto e sabor.

Apesar de relativamente acanhado (quatro mesas, oito cadeiras), a Cristal é muito concorrida por clientela habitual do bairro que se despacha ao balcão. Durante a semana vende, em média, 150 natas por dia. Mas ao fim de semana marcham 500 por dia e há fila. “Já vi dois Ferraris estacionados à porta ao mesmo tempo”, conta Herculano Marques, 65 anos, que depois de correr mundo a gerir marisqueiras (das quais a mais célebre foi a Napolitano, na ilha de Luanda), optou por, há 14 anos, mudar para o ramo da pastelaria e deitar âncora na Lapa.

Como vinha de uma prova de Barcas Velhas, tinha um lanche na Penha Longa e um jantar em Beja, Vicente não acabou o croquete e o esplêndido rissol de leitão, empurrados com uma Sagres, antes de se concentrar no pastel de nata.

“Desde que não se peça Coca Cola…” foi a resposta quando lhe perguntamos qual a bebida adequada para acompanhar a nata. “Como não é um pastel muito doce, harmoniza muito bem com um vinho generoso seco, um Moscatel, Madeira ou Porto rubi”, explica Vicente, acrescentando que a combinação mais usual é o café/nata, o invariável almoço do professor Marcelo quando estava ali ao lado a tentar gerir o PSD.

“O pastel de Belém é um pastel de nata com marca registada”. Uma frase chegou para arrumar este assunto melindroso, antes de detalhar as diferenças: “O folhado é mais amanteigado, mais à francesa do que este”, refere, enquanto pega na nata da Cristal e a vira-a ao contrário. “Está a ver? Não cai nada. Já não arriscaria fazer isto com um pastel de Belém que tem um creme muito mais líquido”. Por estas razões, a nata de Belém tem um prazo mais validade muitíssimo mais curto (duas/três horas) do que a generalidade das outras, que aguentam até ao dia seguinte.

A rede social The Star Tracker, que reúne mais de 20 mil quadros portugueses espalhados pelo mundo, foi a barriga onde se deu a gestação da Confraria. Nas conversas na rede, Vicente constatou que não é fácil por os portugueses de acordo. O Ronaldo nunca rende na Selecção e o vinho do Porto não seduz os abstémios. Apenas o pastel de nata reunia o consenso e gerava a unanimidade.”É o melhor embaixador de Portugal”, concluiu.

Um dia ao fim da tarde, na Versalhes, Vicente e José António Sousa comentavam como a nata se tornara o mais vigoroso símbolo internacional da portugalidade, quando decidiram fundar a confraria – uma estrutura leve, sem trajes nem presidentes, apenas confrades (263), dos quais dois honorários, que são os porta vozes – que decidiu proclamar o dia da sua fundação (1 de Julho) como o Dia Mundial do Pastel de Nata. E para o ano, para comemorar o seu 2º segundo aniversário, vai expedir, em aviões da TAP, meio milhão de natas para serem gratuitamente distribuídos nas empresas em que trabalham portugueses, em destinos tão variados como Nova Iorque, Londres, Rio de Janeiro, Luanda, Paris, Joanesburgo, Bruxelas, São Paulo, Luxemburgo ou Maputo.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

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Pastelaria Cristal

R. Buenos Aires 25 A, Lisboa

2 rissóis de leitão… 2,60 euros

2 croquetes … 1,80

1 Sagres … 1,10

1 Super Bock… 1,10

1 Moscatel Favaios … 1,00

3 pastéis de nata … 2,70

2 cafés … 1,10

O senhor Marques não nos deixou pagar o almoço

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