Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Nuno Cardoso Santos

Vinte e três séculos depois de Epicuro nos ter avisado que “nada impede que exista uma infinidade de Mundos”, Nuno está a dar razão ao filósofo ateniense - descobriu 32 novos planetas, o que lhe valeu ser um dos três portugueses contemplados com a bolsa de um milhão de euros, atribuída pelo European Research Council (ERC) a 219 investigadores, de um total de 2503 candidatos. 

“Estamos a caminhar a passos largos para descobrir outros pequenos planetas azuis a orbitar outras estrelas parecidas com o Sol”, garante Nuno Cardoso dos Santos, 36 anos, que escolheu almoçarmos na Duvália, que, tal como a Petúlia, pertence a Ilídio Pinto (histórico dirigente do hóquei portista), e fica no Campo Alegre, perto do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP).

Ainda não era uma da tarde quando lhe serviram os filetes de pescada. Fechou a refeição com um pingo de descafeinado. Ele estava com pressa pois tinha uma reunião às 14h30. 

Nuno nasceu em Lourenço Marques, mas ainda bebé veio com os pais (ela professora primária, ele pequeno empresário) para Lamego. Viveu ainda em Mirandela e em S. João da Madeira até ir estudar para Lisboa. A Física foi apenas o caminho. O objectivo era a Astronomia.

Lembra-se da primeira vez em que, ao colo da avó, ficou fascinado com a Lua e as estrelas. Em Mirandela, durante um eclipse do Sol, já o vemos a fazer cálculos, com uma mão nos binóculos e a outra num cronómetro. Tinha 16 anos quando construiu o seu primeiro telescópio e se apaixonou pelos anéis de Saturno, cometas, enxames de estrelas, nebulosas e crateras da Lua. Estava escrito nas estrelas que ia ser astrónomo.

Michael Mayor, que em 1995 descobriu o primeiro exoplaneta (planeta fora do sistema solar), e a possibilidade de colaborar com o Observatório de Genebra, foram a poderosa força de gravidade que o atraiu à Suíça, onde demonstrou, no seu doutoramento, que as estrelas com mais elementos pesados (tudo o que não é hidrogénio e hélio) tem mais probabilidades de ser orbitadas por planetas.

Acabado de desembarcar em Genebra, recebeu guia de marcha para o Chile. “Senti-me um piloto de uma nave espacial à procura de novos planetas”, diz Nuno  (que na adolescência delirou com a saga Guerra das Estrelas) ao recordar a primeira experiência ao comando do telescópio suíço no Observatório de La Silla, no deserto de Atacama.

Ser bem sucedido na caça de novos planetas implica paciência, cálculos complicadíssimos e sonos trocados. “Trabalhar de noite é muito duro”, diz Nuno, que em La Silla (onde já esteve 20 vezes) se deita ao nascer do dia e começa a trabalhar quando o sol se põe.

Os períodos de observação duram em média duas semanas, durante os quais recolhe dados que depois trabalha no CAUP. A velocidade de uma estrela varia se tiver planetas à volta. É através destas alterações, que ele descobre novos planetas e reúne informação (diâmetro, período orbital, atmosfera) sobre eles. Apesar de não os ver, sabe que eles estão lá e conhece-os.

O trabalho de cartografar a Via Láctea ainda está numa fase incipiente. Os 400 exoplanetas descobertos são quase todos muito grandes, do tamanho de Júpiter, que tem 300 vezes mais massa que a Terra. “O objectivo é chegar a um catálogo de pequenos planetas rochosos, parecidos com a Terra, que orbitem as suas estrelas à distância certa, para que possa existir água no estado líquido, a suportar a vida tal como a conhecemos”, explica.

Nuno está convencido de que não estamos sozinhos e um dia vamos descobrir que há vida num planeta distante: Mas não vai ser amanhã. “Na Ciência, temos de planear a médio e longo prazo. Em Portugal, a investigação está no bom caminho, mas ainda nos falta capacidade para fixar cientistas, porque não lhes damos estabilidade. Vivemos de bolsas. Hoje funciona, mas amanhã pode deixar de haver financiamento e ou abandonamos o trabalho ou vamos embora. Temos de ser capazes de absorver os melhores”, concluiu Nuno, a quem a bolsa da ERC garante estabilidade até 2014, o ano em que o seu filho vai fazer cinco anos.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

Menu

Duvália

Rua do Campo Alegre 654, Porto

Couvert … 1,20 euros

½ Filetes de pescada … 9,00

½ Tripas à moda do Porto … 6,50

Água … 2,00

Café … 0,80

Pingo de descafeinado … 0,90

Total … 20,40

5 comentários

Comentar post

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2012
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2011
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2010
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2009
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2008
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2007
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub