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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Vítor Costa

Lisboa não podia estar mais na moda. Nos European Travel Awards, foi eleita o melhor destino turístico europeu, em absoluto mas também de  “city breaks” e cruzeiros. Mas estas distinções não fizeram desaparecer as rugas da testa do alentejano que nos últimos 20 anos transformou a capital portuguesa numa das mais cintilantes estrelas do turismo europeu.

No segmento de cinco estrelas, onde Lisboa tem 20 hotéis (mais do que Madrid, Amesterdão ou Viena) a luz vermelha de alarme acendeu-se com a quebra de 30% nas receitas registada em 2009. A reconversão do Terminal 2 da Portela em base para low cost como a Easyjet e a Ryanair está no topo das medidas para atacar estes sintomas de crise.

“Em 2001, as pessoas ficaram com medo de viajar por causa do 11 de Setembro. Agora é diferente. Viajar tornou-se uma necessidade tão básica como ter um telemóvel no bolso ou água, electricidade e televisão por cabo em casa. As pessoas continuam a querer viajar, só que mais barato. O preço vai ser o factor decisivo para o turismo nos próximos anos”, afirma Vitor Costa, 55 anos, director geral da Associação de Turismo de Lisboa (ATL), que tem um orçamento de 28 milhões de euros e congrega, entre os seus 600 sócios, toda a gente com interesse no sector, desde entidades públicas a privados como hoteleiros, donos de restaurantes, equipamentos turísticos, agentes de viagens.

Na relação qualidade/preço, Lisboa é competitiva com as cidades suas concorrentes, que são Madrid, Barcelona, Milão, Praga, Viena, Berlim e Amesterdão - Roma está um pouco acima, Londres e Paris são de outra liga. Mas baseia a competitividade nos preços da hotelaria serem 27% mas baratos, que amortecem o custo mais elevado das passagens aéreas.

“A hotelaria não consegue esticar mais a corda. Não há margem para os preços desceram mais. O nó do problema é o aeroporto. Precisamos de viagens mais baratas. A prioridade de um aeroporto deve ser potenciar o negócio turístico e não defender os interesses de uma companhia aérea”, afirma Vítor Costa, que escolheu almoçarmos no Martinho da Arcada.

Estava um bonito dia de sol e havia clientela na esplanada, mas optamos por comer na sala assombrada pelo espírito do seu freguês mais famoso (Pessoa). Como o quartel general da ATL fica ali perto, no nº 15 da rua do Arsenal, Vítor almoça sempre pelas imediações. Normalmente nos restaurantes da rua dos Correeiros. Episodicamente no Martinho, onde não se demorou na lista, Encomendou  logo o bife, nem muito, nem mal passado, que acompanhou com água e sobremesou com um pêro descascado.

Enquanto mergulhávamos as batatas às rodelas no molho, recordou a primeira vez que viu a Lisboa, ainda moço de 14 anos, no ano seguinte às das grandes cheias de 67, que mataram 462 pessoas e desalojaram mais de mil. Apesar da ponte sobre o Tejo já ter sido inaugurada há dois anos, o pai, dono uma fabriqueta de mobiliário em Cercal do Alentejo (próximo de Vila Nova de Mil Fontes) optou por não se aventurar no trânsito na capital. Deixou o carro na outra banda e atravessaram o rio grande de cacilheiro.

Três anos depois, quando veio de vez para Lisboa, estudar leis, era bom rapaz, mas um pouco tímido. No primeiro dia, a senhora que lhe alugou um quarto nos Olivais explicou-lhe como chegar à faculdade: “Apanhas o 31. Quando vires um jardim muito grande com um edifício ao fundo, sais e entras na escola que fica do lado esquerdo”. Não se perdeu. Passou a manhã nas aulas e quando chegou à hora do almoço, em vez de perguntar o caminho para a cantina, optou por ir atrás de uns colegas que conhecia de vista. O único contratempo é que também os imitou na escolha do prato, que nunca tinha comido. “Durante muitos anos fiquei a detestar caril de frango”, confessa.

Depois de se licenciar em Direito, foi advogado até ser eleito vereador da Câmara de Lisboa, na lista da CDU, nas autárquicas em que Krus Abecassis perdeu a maioria absoluta. “Ele tratava toda a gente por tu, menos as pessoas de quem não gostava. A mim tratava-me por você. Ao Rego Mendes, outro vereador CDU, começou a tratar por tu, mas ele respondeu-lhe que só tuteava amigos. No jantar de despedida de Abecassis, depois da coligação liderada por Sampaio ter ganho a Câmara, quando chegou a hora dos discursos, brinquei com o facto dele adormecer nas reunião. No fim, veio ter comigo, deu-me dois beijos e disse-me: Tu és um filho da puta, mas o outro (Rego Mendes) ainda é pior”, recorda Vitor.

No final do almoço, enquanto passeávamos pelas arcadas de um Terreiro do Paço transformado em estaleiro (mas que vai estar pronto a tempo do papa dar lá missa em Maio), foi detalhando pormenores da reabilitação da frente ribeirinha e revelou o seu entusiasmo pelo impacto do TGV:

“Não vejo as razões par brincar com o ministro por ele ter dito que Lisboa pode tornar-se a praia de Madrid. A capital espanhola não tem mar, nem rio, nem golfe. É muito quente no Verão e muito fria no Inverno. Temos de explorar o facto de com o TGV ficar à mesma distância de Lisboa, Barcelona e Sevilha. O TGV vai alterar no sentido positivo a estrutura do destino Lisboa. Hoje, numa pequena estadia, o turista pode ir a Fátima ou a Sintra. Com a alta velocidade em meia hora está em Évora e em 45 minutos põe-se em Coimbra”.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

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Martinho da Arcada

Praça do Comércio 3, Lisboa

Couvert … 2 euros

Queijo … 5,00

2 bifes da vazia à portuguesa … 35,00

Água sem gás … 1,50

Pero … 3,50

2 cafés … 3,00

Total … 52,00

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