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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

O TGV, a falta de tomates e o ministro

Na sua peregrinação por 200 empresas, em busca de apoios para o próximo Fantasporto, o meu amigo Mário Dorminsky não arranjou novos patrocinadores, apesar de não ter ouvido um único “não”. “Vamos a ver” foi a resposta 200 vezes repetida.

“Vamos a ver” é um novo sinónimo do velho e brutal (mas esclarecedor) “não”, uma versão da mentira “amanhã telefono-te” dita pelos amantes de uma só noite quando se separaram à luz do dia seguinte.

O “não” parece estar em vias de extinção nesta sociedade contaminada pelo vírus guterrista do querer agradar a toda a gente, em que se prefere adoçar a negativa com uma falsa esperança a desenganar as pessoas com a crua verdade.

O “vamos a ver” é um refúgio dos cobardes sem coragem para dizer “não” e que mantêm, em vão, acesa uma esperança que só se extingue após a 5ª chamada não atendida, o 6º mail não respondido, ou a 7ª SMS ignorada. Uma cobardia cara em desperdício de tempo e frustração de expectativas de quem ainda desconhece que o “vamos a ver” quer dizer “não” traduzido para português vernáculo.

Odeio a cultura do rodeio, das palavras a abater acompanhadas de hipócritas palmadinhas nas costas, que entranhou na nossa sociedade, substituindo o saudável “pão pão queijo queijo” por um linguarejar apaneleirado, em que ao básico “gosto”/“não gosto” foi acrescentado o assexuado “não desgosto”.

Lamentavelmente, o Governo, que devia ser um exemplo de coragem e frontalidade, também adoptou a linguagem circular e descafeinada para camuflar a sua falta de coragem.

Sábado, fiquei com uma pulga atrás da orelha quando o ministro das Finanças, questionado pelo Expresso sobre a ausência de adjudicações para as linhas de TGV Lisboa-Porto e Porto-Vigo, respondeu fazendo recurso a uma barragem de 122 palavras, compondo frases redondas como “o TGV tem de ser adaptado à realidade orçamental”,  “o calendário mantém-se, mas temos de fazer opções”, “não é dizer que está necessariamente comprometido”. 

Segunda feira, percebi tudo ao ler a manchete do Jornal de Negócios: “Estudo das Finanças reconhece que o TGV subirá o endividamento /Linhas do Porto e Vigo são as que mais contribuem/O novo aeroporto de Lisboa terá efeitos económicos positivos na economia”. O Governo pôs em marcha uma campanha de preparação da opinião pública para deixar ficar no tinteiro o TGV para o Porto e Vigo – uma campanha iniciada com a resposta “vamos a ver” de Teixeira dos Santos, mais um homem do Norte a quem os ares de Lisboa lhe fizeram encolher os ditos. Às tantas, está à espera que seja uma vez mais o ministro espanhol a dar-nos a má notícia e oficializar o adiamento…

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

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