Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Um bilhar que descai para o buraco Lisboa

 

Em 1671, para casar a filha, Catarina de Bragança, com Carlos II, de Inglaterra, D. João IV, que, “apesar de restaurador, era burro como, em geral, os reis eram” (cito o meu amigo Luís Miguel, catedrático nesta matéria), incluiu no dote as cidades de Tanger e Bombaim. Mesmo acreditando que a Catarina fosse ainda mais pavorosa que a prima do Frankenstein e a maga Patalógica juntas, parece-me excessivo, até mesmo escandaloso, o dote que o papá rei providenciou.

Em 2010, para justificar o injustificável facto do PS estar a faltar mais uma vez à palavra dada aos eleitores em duas legislativas, o ministro das Finanças veio candidamente, com aquela lata que é marca de água dos políticos mentirosos (passe a tautologia), lavar dai as mãos explicando que o adiamento para as Calendas do TGV Lisboa-Porto-Vigo “é um gesto de aproximação do PSD”.

Ou seja, Teixeira dos Santos, que, apesar de ser de nortenho é trampolineiro como, em geral, os ministros são (digo eu), usa, majestático, no século XXI, os parolos do Norte como dote para obter o apoio (incerto e desnecessário) do PSD ao documento ficcional apelidado PEC, da mesma maneira que D. João IV usou Bombaim e Tanger para desencalhar a filha feiosa.

Ultrajado é pouco para expressar o que sinto face ao desprezo centralista com que é tratado o Norte, a mais pobre região do país, apesar de ser a segunda que mais contribuiu para a riqueza nacional. Em vez de tentar corrigir as assimetrias, o Governo de Lisboa só as agrava. As dotações do PIDACC (plano de investimentos da administração central) para o Porto levaram este ano um corte de quase 300 milhões de euros (caindo de 351 para 55 milhões), enquanto que para Lisboa subiram 27%, de 264 para 327 milhões.

Sou favorável ao princípio do utilizador-pagador (acho mesmo que o tipo que inventou as Scuts devia ser enforcado), mas não percebo porque é portuenses que viajam até à Póvoa do Varzim vão ter de pagar portagem e os algarvios, que usam a Via do Infante, e os lisboetas, que viajam até Sintra, estão dispensados dessa maçada.

Das grandes obras públicas referendadas nas legislativas 2009, sobreviveram três – o novo aeroporto de Lisboa, a terceira travessia sobre o Tejo em Lisboa e o TGV Lisboa-Madrid -, que não precisaram de ser sacrificadas no altar do entendimento com o PSD. Fica no tinteiro o TGV para o Porto e Vigo. Não é preciso por mais na carta para toda gente perceber que vivemos num país que é tal qual como um bilhar que descai sempre e escandalosamente para o mesmo buraco, chamado Lisboa.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

24 comentários

Comentar post

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2012
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2011
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2010
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2009
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2008
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2007
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub