Beatriz Rubio e Manuel Alvarez
Beatriz, economista, 44 anos, e Manuel, jurista, 46 anos, são donos de um segredo valiosíssimo. Sabem como fazer felizes três mil colaboradores que apesar de não terem ordenado fixo estão tão satisfeitos que, com as suas respostas a inquéritos confidenciais, ajudaram a Re/Max a ser eleita como a melhor empresa para trabalhar em Portugal, interrompendo o longo reinado da Microsoft, que apaparica os empregados um enorme rol de regalias grátis, como fruta, iogurtes, massagens, serviço de concierge, ginásio, etc.
Beatriz e Manuel são um casal. Começaram a namorar em Saragoça, a terra natal dela, onde ele (natural de Badajoz), estudava porque o pai, bancário, aí tinha sido colocado pelo BBVA. Olhando para eles universitários, vê-se logo que são ambos da mesma madeira. Nas férias grandes, ela trabalhava no El Corte Ingles (“começou a vender cuecas de homem”, brinca Manel), onde se revelou um vendedora de primeira água e ganhava dinheiro para o resto do ano. Ele, desdobrava-se em ganchos diversos, desde fazer as férias de porteiros, até ser ajudante de armazém, passando pela recolha de lixo.
“Decidimos começar a vida com ordenados melhores”, diz Beatriz, explicando por que é que ambos fizeram o MBA antes de se mudarem para Madrid e atacarem o mercado de trabalho. Beatriz fez pontaria a L’Oreal, onde começou como gestora de tintas para o cabelo. A auto-confiança dela era tal que declarou-se disposta a trabalhar seis meses sem receber salário - não foi preciso (entrou a ganhar meio milhão de pesetas/ano). Manuel (que começara em Saragoça a ganhar 65 mil pesetas/mês para contar alfaces e outros perecíveis em armazéns da Eroski) foi trabalhar para o imobiliário dos supermercados Dia.
Estavam apenas na casa de partida, pois queriam experimentar viver no estrangeiro e ter o seu próprio negócio. Foi em Portugal que concretizaram os dois sonhos. “Vim para Lisboa pela primeira vez em 1987, na minha viagem de finalista. Lembro-me de ter passado por Cascais e pensado que não me importaria mesmo nada de viver aqui”, conta Beatriz, que agora mora com Manuel e os filhos (Marta, 14 anos, Patrícia, 12, e Manel, três) numa casa na Quinta da Marinha.
De entrada, picamos uns pimentos de Padron (nenhum deles especialmente picante), antes de Beatriz se decidir pela dourada, acompanhada por água. Manuel acompanhou o bacalhau com uma caña e encomendou uns deliciosos pastéis crocantes para a sobremesa. O almoço foi na Quinta da Beloura, onde está o quartel general da Re/Max que comanda o exército de três mil vendedores satisfeitos da vida, aquartelados em 220 agências, que o ano passado fizeram 26 mil transacções (das quais dez mil arrendamentos).
Foram os supermercados Dia que puseram Lisboa na rota do casal. Em 93 disse que sim quando o desafiaram a tripular a expansão da cadeia em Portugal. Cinco anos, depois abalançaram-se a investir num parque de campismo, em Alcochete, com 800 camas, para turistas que vinham ver a Expo 98. Como a coisa correu bem, puseram o nariz no ar para farejar oportunidades de negócio. Manuel gostou tanto da filosofia de repartição de comissões da Re/Max que quatro dias bastaram para meter a cave. Dois dias na convenção, em Toledo, da filial espanhola, decidiram-no a voar até Denver, onde comprou o direito a desenvolver em Portugal a rede Re/Max, em regime de franchise.
Com excepção de 2008 (onde as vendas caíram 7%) têm sido dez anos venturosa, com facturação sempre a subir na casa dos dois dígitos, curiosamente ajudados pela crise no imobiliário. “Como é mais difícil vender uma casa, as pessoas recorrem aos profissionais”, explica Manuel. As vendas directas ainda valem cerca de metade do mercado.
Beatriz resume na palavra “motivação” a explicação para a felicidade dos três mil vendedores sem salário fixo. Mas o dinheiro que levam para casa ao fim do mês também dá uma ajuda. Em 2009, a média do rendimento anual dos mediadores Re/Max rondou os 22 mil euros, mas o melhor vendedor ganhou 400 mil euros, e há cerca de duas dezenas que acumularam comissões superiores a 100 mil euros.
Jorge Fiel
Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias
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q.b. Restaurante
Quinta da Beloura, Sintra
Couvert … 3,75
1 litro água … 2,00
Pimentos padron … 7,50
Lombo de Dourada com legumes e batatinhas salteadas … 14,00
2 Bacalhau lascado com migas de broa à ribatejana … 32,00
2 imperiais … 6,00
2 pasteis q.b. … 11,00
3 cafés … 4,50
Total… 78,75