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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Manter a RTP 1 pública é uma idiotice completa

Como sou uns meses mais velho que a RTP, cresci a salivar de entusiasmo, tal como o cão de Pavlov, sempre que ouvia o Jorge Alves dizer “Olá amiguinhos”, ao antecipar o imenso prazer de ver desenhos animados – os do Manda Chuva eram os meus preferidos.

As legendas de séries como o Mr Ed (o cavalo que falava) e de Bonanza foram tão importantes na lubrificação da minha capacidade de ler rapidamente como os volumes encadernados a couro do Mundo de Aventuras e Falcão que eu devorava durante as férias na Biblioteca Municipal, junto ao Jardim de S. Lázaro, que ficava umas escassas centenas de metros do 2º andar do nº 304 da avenida Rodrigues de Freitas, onde atravessei a infância e boa parte da adolescência.

Estou convencido que o ódio que tenho à tauromaquia se deve ao facto da “transmissão do exterior” que a RTP anunciava para a noite de 4ª feira se revelar uma tourada, na esmagadora maioria dos casos, e não um jogo de futebol (qualquer um servia). Treinei-me a aguentar firme as pequenas contrariedades da vida com a frequência com que aparecia no ecrã o cartão com a frase “Pedimos desculpa por esta interrupção, o programa segue dentro de momentos” – a mensagem que a RTP mostrava quando havia quebra de emissão.

Logo a seguir à véspera do Natal, imbatível pela conjugação entre a fartura da mesa e a abertura dos presentes, a grande noite do ano era a do Festival RTP da Canção, com o Henrique Mendes a receber pelo telefone, em alta voz, a pontuação atribuída pelo júri reunidos nas capitais de distrito.

Mas tudo isto não passa de um monte de recordações a preto e branco. O tempo não volta para trás, como pedia o António Mourão. O vento mudou, como cantava Eduardo Nascimento. A oferta, outrora limitada a um ou dois canais que emitiam a preto e branco e apenas parte do dia, amplificou-se de uma maneira brutal - recebemos por cabo em casa mais de uma centena de canais. A atenção humana é o único factor que se está a tornar escasso neste mundo de abundância.

Neste panorama audiovisual, manter a RTP 1 como canal público é uma idiotice completa (não é preciso ser serviço público para alinhar no Porto-Benfica dos túneis, qualquer privado teria todo o gosto em receber Pinto da Costa) que fica mais cara que alimentar um burro a pão de ló -  pois é este canal que absorve a fatia de leão dos 143 milhões que a RTP nos custa por ano, ou seja mais do dobro dos subsídios atribuídos à Carris e STCP. Nestes tempos de vacas magras, em que é preciso cortar na despesa e arranjar dinheiro para reduzir o défice, não sei de que é que Sócrates está à espera para passar a patacos a RTP1.

Jorge Fiel

Esta crónica foi publicada hoje no Diário de Notícias

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