Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Lendo nas cinzas do Eyjafjallajorvll

As 600 mil garrafas de vinho que a TAP compra todos os anos a produtores portugueses são apenas uma das muitas boas razões para que o método a seguir na sua privatização não seja o de a entregar no regaço de quem der mais para abater ao monstruoso défice que o desespero do Governo triplicou em 2009. Da equação fazem ainda parte o meio milhão de euros de sumos comprados à Compal, os sete milhões de cafés adquiridos à Delta, os 220 mil euros que a Renova ganha ao abastecer os aviões de papel higiénico e guardanapos. Isto para já não falar dos 6,5 milhões de turistas/ano que nos trás e asseguram 23 milhões de dormidas.

A TAP já devia ter vendida há muito tempo e a única que explicação que arranjo para não ter sido é que a sua manutenção no sector público foi útil porque permitiu que governos de todas das cores a usassem para fazerem uns jeitos aos amigos. Estou a pensar, por exemplo, na dor de cabeça de que o GES se livrou quando a TAP lhe comprou a Portugália – a alternativa era fechar as portas, ou seja os Espíritos não só não metiam algum ao bolso como ainda por cima ficavam mal na fotografia.

O facto da TAP ser a maior exportadora nacional, com vendas ao exterior de 1,4 mil milhões de euros em 2009, aconselha a que se aproveite a operação de privatização para garantir que ela sobreviverá ao combate de morte que se trava nos céus da Europa. Para resistirem ao domínio da Lufthansa, a Air France casou com a KLM e a British Airways não teve outro remédio senão fundir-se com a Ibéria.

Da mesma maneira que se quisermos ganhar ao Roger Federer não o devemos desafiar para uma partida de ténis (talvez tenhamos sorte nos matrequilhos ou no xadrez, mas no court é certo e sabido que estamos feitos ao bife), a TAP para sobreviver tem aprofundar as suas posições no espaço vital que lhe permitiu fechar 2009 com um pequeno prejuízo (3,5 milhões de euros) e aspirar a escrever com tinta azul o resultado deste ano.

A nuvem de cinzas do Eyjafjallajorvll desenhou a área onde a TAP (que apenas viu 50% dos seus voos afectados) deve continuar a apostar para ter futuro e prosperar – as rotas africanas e atlânticas (em particular as do sul). A óbvia vocação da TAP é fazer de Lisboa uma placa giratória, entre a Europa, África e América Latina. Nas cinzas do vulcão islandês é possível ler que o Governo deve aproveitar a privatização da TAP para promover uma fusão estratégica com a angolana TAAG e a brasileira TAM, que crie um gigante aéreo que fale português e domine pelo ar as rotas que os nossos antepassadas outrora controlaram no mar.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

23 comentários

Comentar post

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2012
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2011
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2010
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2009
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2008
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2007
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub