Um país parecido com o Sporting
As contas do último exercício do Sporting deixaram-me muito preocupado com o futuro do país, porque o PEC confeccionado por Sócrates para trazer o défice orçamental de volta para baixo dos 3% copia o modelo do plano traçado pela direcção leonina para pôr em ordem as finanças do clube.
Para endireitar as contas do Sporting, a direcção sacrificou o investimento, atirando o clube para um grave recessão, com as receitas e os resultados desportivos em queda livre. Os resultados do PEC leonino são tão devastadores como as visões do Inferno de Hieronimus Bosch.
No curto espaço de um ano, o prejuízo subiu de 8,6 milhões para 14,8 milhões de euros, o passivo assumido do grupo Sporting já vai nos 310 milhões e as receitas despenharam-se para 22,7 milhões, reduzindo-se em dez milhões. E é mais provável o Clark Kent e Super Homem aparecerem juntos do que as coisas melhorarem. Na próxima época não há Champions e não se perspectiva nenhum jackpot no capítulo das transferências. Mesmo bem vendidos, Moutinho, Veloso e Izmailov renderão menos do que o Benfica vai encaixar com a venda do Di Maria. É a catástrofe iminente sem meios para a esconjurar.
Ao olhar para o Sporting confirmamos que Joseph Stiglitz, Nobel da Economia, estava carregado de razão quando nos avisou que Portugal precisa de investir, pondo todas as fichas no crescimento e não na austeridade, lembrando que desde a Grande Depressão se sabe que o caminho que está a ser seguido é desastroso.
Ao ver o director financeiro do Sporting, José Filipe Nobre Guedes de chapéu na mão, a mendigar ao BCP e BES que aceitem renegociar 55 milhões da dívida (transformando-os em obrigações convertíveis) para retirar o clube da falência técnica, Teixeira dos Santos está a ter um flashforward da figurinha que vai fazer dentro de poucos meses para conseguir refinanciar a divida portuguesa e evitar que a República entre em incumprimento.
Agora é tarde, Inês é morta, mas tenho muita pena que antes de cozinharem um PEC igual ao do Sporting, o benfiquista Sócrates não se tivesse aconselhado com Luís Filipe Vieira (que arriscou elevar o passivo em 38 milhões, mas ganhou o campeonato, valorizou extraordinariamente os seus activos e comprou a entrada na Liga dos Campeões) e que o portista Teixeira dos Santos não tivesse consultado Pinto da Costa, para aprender como é que ele conseguiu fechar o exercício de 2009 com 10,7 milhões de lucro e ganhar três em cada quatro campeonatos nunca deixando de investir – e mesmo assim tem o passivo mais baixo dos três grandes. Tenho muita pena que Portugal esteja cada vez mais parecido com o Sporting.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias