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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

João Dionísio

 

João Dionísio, 43 anos, é o o chief operating officer da Strat, agência de publicidade que tem em carteira marcas tão sonantes como a Super Bock, CTT, Galp e Jerónimo Martins.  Licenciado em Psicologia e especializado em Terapia Familiar, tem 1m78, um peso na casa dos três dígitos e apresenta um tão longo quanto inesperado curriculum em modalidades tão diversas como a ginástica desportiva, basquetebol, karaté, andebol, pesca e tiro. Determinação, vigor e rigor são alguns dos ensinamentos que lhe ficaram tatuados no carácter durante os 13 anos em que foi guarda redes da equipa de andebol do Olivais e Moscavide

 

 

O pior eram as boladas na cara. Mas não foi difícil perder-lhes o medo. “Isso treina-se”, explica João Dionísio, que durante os 13 anos em que defendeu a baliza da equipa de andebol do Olivais e Moscavide foi conhecido por Constantino – o seu nome do meio.

No final do treino, viravam a baliza ao contrário. Para proteger a cara, ele punha-se atrás das redes e os colegas iam disparando a bola com toda a bolina, fazendo pontaria à sua fronha. O objectivo era ele habituar-se e deixar de piscar os olhos – pela simples razão de que com os olhos fechados não conseguia impedir a bola de o atingir.

“É um clássico. Quando um guarda redes está a defender tudo, começam a tentar acertar-lhe na cara, para ver se lhe criam medo”, explica João, 43 anos, licenciado em Psicologia Social, professor na Escola de Gestão do Porto e, desde o início do ano, o chief operating officer  que está a reposicionar e reinventar a Strat, uma agência de publicidade portuguesa que  trabalha para marcas como a Super Bock, CTT, Hyundai, Robbialac, Nívea, Galp, Jerónimo Martins e Hotéis Tivoli.

Com 1m78 e um peso na casa dos três dígitos, apresenta um tão longo quanto inesperado curriculum em modalidades tão diversas como a ginástica desportiva, basquetebol, karaté, andebol, pesca e tiro.

A responsabilidade pela sua iniciação precoce no desporto foi o pai, um marceneiro natural de Abrantes que emigrou para Lisboa para trabalhar nos TLP mas que nunca deixou de polir móveis, pelo que ele cresceu no meio de um cheiro a vernizes, bioxene e cera de abelhas.

A mãe, doméstica, teve-o em casa, no Poço dos Negros, mas não demorou muito até mudarem para Moscavide, onde, aos cinco anos, o inscreveram na classe de ginástica do Atlético Clube local, porque o Joãozinho, apesar de grande para idade, era de compleição frágil e atreito a anemias.

Divertiu-se à ganância durante os cinco anos que passou a fazer arrojados mortais encarpados e ousadas cambalhotas na cama elástica. “A ginástica foi uma poderosa componente da minha formação. Aprendi a respeitar a autoridade e a lidar com as minhas imperfeições e incapacidades. Ao ser obrigado a enfrentar exercícios perigosos, ganhei auto-confiança e noção do risco. E ajudou a disciplinar-me desde cedo, pois tinha de organizar a minha vida de maneira a apresentar-me no ginásio, todas as 2ª, 3ª e 5ª feira, às seis horas, com o equipamento completo”.  

Enquanto na escola aprendia a desembrulhar-se no mundo dos números, e num atelier de pintura adestrava a mão e o olhar, no ginásio iniciava-se na noção do espectáculo e da performance. “As pessoas não falam muito disso, mas o desporto trabalha muito o ego. Começamos a gostar de ser o melhor do bairro e a ter muita gente a assistir às nossas exibições. Aprende-se a gostar de ter o pavilhão cheio no dia do Sarau”.

Aos cinco anos felizes na ginástica sucederem-se dois anos tristes no basquetebol. Ele andava na Gaspar Correia e o casting até fazia sentido, pois ele era maior que a média dos miúdos que andavam no ciclo. O problema é que era descoordenado, como todos os rapazes que aos 11/12 anos são grandes para a idade.

Após dois anos frustrantes, em que não chegou a tratar o cesto por tu, aproveitou o fantástico ecletismo do Atlético Clube de Moscavide para fazer uma incursão de três anos pelo karaté, que muito apreciou e onde chegou a cinto azul. “As artes marciais são o supra-sumo do desporto. Uma coisa muito filosófica que trabalha a nossa agilidade física e mental - e ensina a superar-nos e a controlar a intensidade da força. Gostei muito”.

João estava já no secundário, que fez com uma perna às costas na ES Vasco da Gama (“Sempre tive facilidade na escola. O rigor que trouxe do desporto ajudou muito. E estava com atenção nas aulas), quando o andebol surgiu na sua vida.

Ele não se lembra muito bem de como tudo começou. Mas a verdade é que, a páginas tantas, um grupo de amigos, que o incluía, decidiu fazer uma equipa de andebol e o Olivais e Moscavide, que não tinha essa modalidade, recebeu-os de braços abertos. Por causa do físico e da experiência (no ciclo tinha defendido a baliza da selecção da escola), o João, nome de guerra Constantino, foi para a baliza.

Sportinguista, por herança do pai, logo havia de calhar estrear-se em competições oficiais contra o clube do seu coração, que infligiu aos tenros juvenis do Olivais e Moscavide uma pesada derrota: 36-9. Estava dado o tom para a primeira época, em que perderam os jogos todos.

Na segunda temporada, as coisas começaram a endireitar-se e a primeira vitória, por 32-20, face à União Desportiva de Oeiras, ficará para todo o sempre gravada na memória de João Dionísio, tanto mais que nesse dia marcou um golo de baliza a baliza.

Os 13 anos que passou no andebol, como guarda-redes do Olivais e Moscavide, não foram sublinhados por medalhas, troféus ou retumbantes vitórias. “A nossa glória era jogar contra o Benfica, o Sporting e o Belenenses, e conseguir discutir o resultado e levantar-lhes dificuldades”, explica João que perdeu a titularidade da baliza após um par de épocas como sénior, quando o paradigma do andebol começou a mudar no nosso país.

“O andebol era uma modalidade muito democrática, em que todos tinham lugar. Os gordos iam para a baliza, os pequenos para pontas e havia pivots gordinhos, como o Hernâni, que jogava com uma enorme elegância e aparecia sempre no sítio certo. Isso mudou. Hoje no andebol são todos gigantes. Não há lugar para nem para os pequenos nem para os gordos.  Com menos de 1m80 não jogam. O Maradona e o Messi não tinham lugar no andebol”. 

Apesar de ter perdido a titularidade, jogou até ao final do curso, raramente faltando ao treino diário, entre as 20h30 e as 22h30, no pavilhão da ES Fernando Pessoa, apesar de além de estudar ter tido quase sempre trabalhos em part time.

Tinha 15 anos quando ganhou o primeiro dinheiro, fazendo, sob a supervisão do chefe Silva, o inventário completo das armas existentes na esquadra da PSP de Moscavide. Recebeu 4.500 escudos por 15 dias de trabalho. Nada mau. “Sempre fiz desporto e sempre trabalhei”, esclarece.

Nas férias grandes, foi monitor na Colónia Balnear do Século, em S. Pedro do Estoril, ocupando-se de miúdos carenciados. “Uns nunca tinham visto o mar. Outros não sabiam comer, ou seja sentar-se regularmente à mesa para tomar uma refeição. E muitos não estavam habituados a tomar banho. Aprendi a ser pai, a não dar pêssegos à noite às crianças porque senão elas ficam mal dispostas”, conta João, que tem dois filhos rapazes, o Tiago, de 13 anos (que desde os seis anos toca violino) e o mais novo com quatro.       

A mulher e mãe dos seus filhos, educadora do Ensino Especial, conheceu-a na Cruz Vermelha, onde João trabalhou durante três anos, dando cursos de adaptação a ambulância (em corporações de bombeiros e grandes empresas, como a Galp e a Caixa) enquanto frequentava a faculdade.

Medicina foi a sua primeira opção, mas ditada por razões única e exclusivamente racionais, pois garantia emprego bem pago e socialmente prestigiado no final do curso. Não entrou por umas décimas.

Psicologia foi a sua segunda e última opção. Quando acabou o curso em Psicologia Social, com uma especialização em Terapia Familiar, esperava-o trabalho com famílias disfuncionais e toxicodependentes. Não se sentiu capaz. “Aos 24 anos ninguém está preparado para fazer terapia familiar. Eu nem sequer família tinha. Tudo o que mete relacionamento humano tem de meter tempo para amadurecer. Foi mais fácil e sério seguir a paixão pela comunicação, estudar e aprender o consumo”.

Acabou o curso em Julho de 1991 e em Setembro foi estagiar para a Multivaria, empresa de estudos qualitativos de mercado, e ficou por lá. “Tenho andado a vida inteira a aplicar o que aprendi na faculdade: olhar em profundidade para as coisas e pessoas. As pessoas são a mais valia das empresas. Os negócios são pessoas. Qualquer processo de venda tem a ver com vender ideias a pessoas e quem tem as ideais são pessoas, As pessoas são o tema, claramente”.

Cinco anos depois já era partner da Multivária, onde se demorou 18 anos, até aceitar o desafio para liderar o reposicionamento da Strat, subordinado ao mote “Criatividade com Estratégia”.

No final do curso, casou-se e deixou de levar boladas na cara. Deixou de ter tempo e disponibilidade de espírito para treinar todos os dias. Acabou o Constantino. Trocou por isso a bola de andebol pela cana de pesca. Neste momento é atleta, disputando o campeonato da 1ª Divisão da Associação de Lisboa em representação do Clube Amadores de Pesca de Lisboa. E mais recentemente, por influência da mulher que é atiradora, anda entusiasmado com o Field Target, ao ponto de ser o presidente do Clube de Tiro de Campo.

Do desporto trouxe para a vida muitas lições. Faz questão de recordar uma delas, aprendida com Vitor Paiva, seccionista do andebol do Olivais e Moscavide, que ele homenageia apelidando-o “um formidável formador de caracteres”:

“Uma vez, teria eu uns 15 anos, cheguei a uma reunião sem nada nas mãos. O Vítor Paiva chamou-me de lado e ensinou-me: Nunca vás para uma reunião com as mãos a abanar; deves trazer sempre papel e caneta para demonstrar às outras pessoas que dás importância ao que elas vão dizer, ao ponto de tomar notas”.

Determinação, vigor e rigor são alguns dos ensinamentos que lhe ficaram tatuados no carácter dos 13 anos em que praticou andebol, uma modalidade em que há muito contacto físico.

“Por haver muito contacto físico permitido, ao contrário do que acontece, por exemplo, no futebol e no basquete, o andebol exige-nos um grande controlo, auto-disciplina, e termos uma noção muito exacta da nossa força. É como nas empresas, em que se somos grandes temos de ter a noção do nosso poder; e e se somos pequenos temos de ter a noção da grandeza da nossa pequenez”, concluiu João Dionísio, o homem que treinou para deixar de ter medo de levar boladas na cara.

 

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada em O Jogo

9 comentários

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    António Oliveira 06.07.2010

    Fui dar uma vista de olhos pelos "comentários" aos últimos posts, para ver se as mesmas aves raras por aqui continuam. Confirmei-o sem espanto. Parece que nem tiram férias.

    Destas aves raras, uma prima pela estupidez. De seu nome Trolho.

    Uns posts abaixo lança esta pérola "São providos de um crânio comparado a um "buraco negro": totalmente constituido por anti-matéria; absolutamente impenetrável à luz. Razão pela qual, naquelas cabeçorras nunca se faz luz"

    Sem querer esta alimária parece explicar o que terá acontecido ao seu inexistente cérebro de velho esclerosado.

    Um buraco negro tem uma massa tão densa que a própria luz é atraída tão fortemente e por essa mesma razão não é reflectida. É como se fosse sugada. Por essa razão se chama buraco negro.

    O mesmo acontece com toda a matéria que se aproxime do campo gravitacional de um buraco negro.

    Pois terá sido este o triste destino do cérebro que outrora terá existido na cabeça de Trolho? Terá passado perto tendo o seu cérebro sido sugado?

    Eu penso que é uma forte possibilidade.
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    Café Petúlia 06.07.2010

    A elevadíssima densidade de massa de um buraco negro, atraia a luz, suga-a e não a reflete, é como se a apagasse. Um buraco negro é a completa escuridão; razão pela qual com todo o apropósito o Trolho compara um crânio andrade com um buraco negro.

    Aqui no Porto, infelizmente há muitos bimbos assim. Com alguma coerência diga-se; são todos "aficionados" de um dos clubes da cidade que pelas suas práticas marginais, é a principal causa de não só Lisboa, como o resto do país não nos ver com bons olhos.

    O Trolho têm até um mérito: o facto de por os andrades a procurarem algum conhecimento.
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    António Oliveira 06.07.2010

    Caro Café Petúlia

    Se leu o que eu escrevi não precisava de repetir o mesmo. Se leu o que o Trolho escreveu perceberia a asneira pseudo-científica. O que eu escrevi não é nada de mais e não precisei de procurar, já o sabia.
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    portuense 07.07.2010

    E já agora, qual é a diferênça entre o que Trolho e António Oliveira escreveram; para António Oliveira dizer que daquilo que o Trolho escreveu é uma asneira pseudo-científica? Só se forem as palavras usadas não o sentido.

    Parece-me que António Oliveira têm notórias deficiências interpretativas.
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    António Oliveira 08.07.2010

    Caro Portuense

    O que o Trolho escreveu: "totalmente constituido por anti-matéria; absolutamente IMPENETRÁVEL à luz"

    O que eu escrevi: "Um buraco negro tem uma massa tão densa que a própria luz é ATRAÍDA tão fortemente e por essa mesma razão não é reflectida. É como se fosse sugada. Por essa razão se chama buraco negro."

    Meu caro. O que o Trolho escreveu, e que eu corrigi, é, como me parece bastante fácil de ver, totalmente oposto à minha explicação.

    Uma coisa é ser impenetrável, quer dizer que simplesmente não entra. Outra é ser atraída fortemente. Ou seja, entra, mas não sai.

    Alem disso, esta não é a única asneira científica escrita pela personagem.
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    portuense 08.07.2010

    Pois, isso qualquer pessoa percebe e eu, claro que também. Acho que a sua definição de um buraco negro está correcta. Mas, impenetrável; que significa que não entra...que não atravessa... que pode atrair toda a luz, que mesmo assim continua na maior escuridão: significa que, a comparação com o crânio de um andrade por parte do Trolho, é uma maldade que se mantém, logo conseguida. Era a isto que me referia quando perguntava qual a diferênça objectiva neste caso.
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    António Oliveira 08.07.2010

    Se se quiser ser irónico deve-se saber também do que se está a falar. Neste caso a definição de um buraco negro foi usada erradamente pelo Trolho.

    Quando não se sabe bem do que está a falar, às vezes o melhor será omitir certas coisas, de maneira a não dar a entender a ignorância.

    A conclusão que eu tiro é que o Sr. Trolho da mesma maneira que errou na definição que fez, porque a usou da maneira que lhe dava mais jeito, o faz repetidamente nos seus ataques primários ao FCPorto.

    Para ele qualquer meio é permitido para atacar o seu inimigo que não o deve deixar dormir descansado. Penso eu.
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    Cientista 09.07.2010

    Ó tó (no Alentejo é sinónimo de porco);

    buraco negro = anti-matéria = cérebro andrade!

    Ainda buraco negro relacionado com andrade = orifício anal muito utilizado pelos andrades nos seus devaneios sexuais.

    Porra, cala-te tó!!!
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