Raquel Sampaio
Para começar, deitam-se todos de costas no chão, de preferência em círculo, olhos fechados e mão dada com a pessoa do lado. Raquel pede-lhes para pensarem em coisas positivas enquanto ouvem, durante três minutos, uma voz agradável e profunda, a dizer, em português do Brasil, palavras como Amor, Sucesso e Criatividade.
A seguir é a massagem colectiva. À vez, cada um dos membros do grupo (idealmente constituído por 18 pessoas), vai para o meio e, com os olhos vendados, é massajado da cabeça aos pés pelos outros, ao som de Mr Jones (“Shalalalalala, uh huh…Yeah), dos Counting Crows. Cada massagem dura apenas um minuto. “As pessoas gostam. Querem mais, mas não pode ser”, explica a produtora artística da Academia das Emoções, empresa especializada em acções de motivação e team building, que tem ilusionistas, maestros e bailarinas no seu corpo de formadores porque o seu conceito base consiste em usar a arte para trabalhar e fortalecer o espírito de equipa.
“As pessoas têm medo do toque. Não compreendem a importância de um bom aperto de mão ou de um abraço forte na hora certa”, explica Raquel, 29 anos, natural de Guimarães, com um curso de Animação Artística feito na Escola Superior de Educação de Bragança, e que trabalha o poder de comunicação corporal dos outros com a credibilidade que lhe advém do seu próprio corpo, magro mas com a musculação bem definida, resultado de milhares de horas no ginásio e na dança - foi bailarina de diferentes géneros, do clássico à salsa, passando pelo hip hop e o funk (“Gosto de ritmos africanos”, confessa). “Sempre fui fanática por desporto”, reconhece a ex-atleta de competição do JUNI (Jovens Unidos num Ideal), que uma operação aos pés obrigou a abandonar o atletismo precisamente na altura em que foi convidada para correr pelo FC Porto.
Quebrado o gelo com a massagem, a sessão tipo de team building de Raquel prossegue com exercícios de improvisação que promovam o riso, em que o pessoal abandona definitivamente a pose de quadro superior de uma empresa de telecomunicações ou seguradora, e entrega-se a brincadeiras em que imita a reacção de animais como o elefante, crocodilo ou leão. O objectivo é a risota.
Fazer um andar esquisito (mancar, andar à Charlot…) e transformá-lo num passo de dança, ajuda a ultrapassar o medo do ridículo. E o número de dobrar o jornal estimula a criatividade e põe as pessoas a desempenhar papéis em que nunca se viram. A coisa passa-se assim. É colocada no chão uma folha de jornal. O grupo divide-se em pares, que, à vez, têm de aguentar três segundos com os pés em cima da folha - que se vai dobrando e ficando mais pequena até haver um vencedor. Há truques para se ir longe nesta competição, como pôr-se às cavalitas (ou ao colo…) do outro. E nada impede os mais espertos de arrastarem a folha do jornal para junto à parede…
“Ajudamos um grupo a chegar a equipa”, sintetiza Raquel, que a nosso pedido detalhou o programa de tipo de uma das suas sessões, o que a impediu de comer como deve ser, tanto mais que o exercício de dobrar o jornal anda pelo fim da primeira hora de uma sessão que dura quatro.
Escolheu almoçarmos no Prós & Contras, um restaurante que fica junto no edifício do teleférico para a Penha e cujo único inconveniente era a música brasileira ambiente estar aos berros - o que foi prontamente remediado. Mas pode ser que não seja assim todos os dias e se tratasse apenas de uma gentileza da casa com a convidada, que mais tarde confessou gostar de ouvir música alto. “A música puxa-me para cima”, diz, Raquel, que usa o apelido optimismo no seu email (raqueloptimismo@gmail.com) e refere Maria Gadu e Lauryn Hill, como duas das suas preferências musicais no momento.
“O que o nosso corpo diz é muito importante e deve ser trabalhado. O corpo fala tanto como a boca”, garante Raquel, que fez rádio em Bragança (“gostava de um dia trabalhar a voz”) e deixou no prato metade do folhado de caça e da sobremesa (apenas o sumo de laranja natural marchou todo), muito provavelmente por culpa minha, pois não se pode falar e comer ao mesmo tempo...
Jorge Fiel
Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias
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Prós & Contras
Lugar das Hortas, Edifício Teleférico-Costa, Guimarães
Pão … 1,00
Couvert … 4,00
Revuelto de setas e gambas … 5,00
Folhado de caça … 32,00
Sumo laranja .. 2,50
Copo de vinho verde…3,50
Folhado de maçã … 4,00
1 café … 0,90
Total… 52,90 euros
Curiosidades
Os princípios básicos do trabalho de Raquel assentam em três palavras iniciadas por um S (tal como o seu apelido): Sinfonia, Sincronia, Sinergia
Uma das coisas que Raquel trabalha é os tiques. “Toda a gente tem tiques, mais frequentes quando estão nervosas”, diz ela, que confessa corrigiu um que tinha e considerava horrível (passar a língua pelos dentes da frente com a boca fechada) e mantém outro que não a incomoda – puxar pelas unhas (que usa bem compridas e muito tratadas)
Adora música dos anos 80, ao ponto de dizer que gostaria de ter nascido em 1965 (e não em 1980) para ter sido contemporânea da onda disco