Vítor Soares
É na mitologia grega e na filosofia que o aquariano Vítor encontra as respostas às questões que assaltam uma cabeça habituada a pensar fora do quadrado e dotada de uma extraordinária capacidade para conceber e desenhar coisas tão fora do vulgar como sete novos formatos de colarinhos e oito de punhos de camisa.
Não é de agora que Vítor Soares, 46 anos, professor universitário de Psicologia de Bragança, pensa diferente. Na noite em que o escudo deu lugar ao euro, acordou a meio da noite com o desenho de uma carteira adequada às novas notas gravado na cabeça – que passou imediatamente ao papel e registou na manhã seguinte no notário do Porto.
A aproximação à camisa foi feita através de inovadores nós de gravata que ia moldando em espuma e começaram a pedir colarinhos especiais para assentarem bem. Estavam lançadas as bases para a Porthus Krauss, a marca de roupa de luxo para homem que Vítor está a lançar.
“Faço camisas únicas e de alta qualidade, confeccionadas com os melhores tecidos da Somelos. Toda a roupa e acessórios da Porthus Krauss são feitas em Portugal. O tecido dos fatos (65% algodão e 35% seda) são da Paulo Oliveira”, faz questão de notar esta antigo capitão da Força Aérea, que aos 33 anos passou à reserva por não suportava a perspectiva de ver toda a vida à sua frente programada a régua e esquadro – e com o tecto baixo (como não era piloto aviador não passaria de coronel).
Almoçamos no Canaletto, um dos principais restaurantes do pastiche da praça de S. Marcos (atravessada por canais onde circulam gôndolas) do The Venetian, de Las Vegas, onde Vítor estava a apresentar, no âmbito da Magic (a maior feira de vestuário do Mundo) as suas camisas com colarinhos e punhos diferentes do habitual – recebidos com entusiasmo pelos compradores, que apontavam o preço (130 dólares a unidade) como o único senão.
Conquistados pela originalidade do desenho, alguns compradores em vão o tentaram convencer a usar tecidos mais baratos, importados da Turquia. Vítor manteve-se intransigente a dois dos seus princípios básicos: usar os melhores tecidos disponíveis na confecção da sua roupa e produzi-la integralmente em Portugal.
Apesar de estarmos numa falsa Veneza, adaptamos o velho e batido aforismo (em Roma sê romano) e fomos italianos na hora de encomendar, optando por um risotto acompanhado por água lisa.
Vítor nasceu em Luanda, em 1964, onde o pai, militar de carreira na Força Aérea, cumpria uma comissão de serviço (e arredondava o fim do mês dando explicações de Matemática a enfermeiras), e passou parte da infância em Lourenço Marques, até que o fim das guerras coloniais levou a família Soares a instalar-se em Bragança - tinha ele nove anos.
Não se demorou muito por Trás-os-Montes. Aos 12 anos, encontrámo-lo em Lisboa, no Colégio Militar, onde se distinguiu na esgrima (medalha de ouro de mérito) e na ginástica. No final do secundário, concluído com a apreciável média de 17 valores, optou por trilhar o mesmo caminho que o pai e foi para a Força Aérea.
Na recruta foi o primeiro a tudo, menos a tiro. Aprendeu informática, no tempo dos cartões perfurados e das bandas magnéticas, antes de se decidir a adquirir uma formação suplementar, fazendo o curso de Psicologia na Lusófona. Despiu de vez quando atingiu a idade com que morreu Jesus Cristo e estava no Centro de Psicologia da Força Aérea.
Manteve-se na capital pois foi logo recrutado para Egor, de onde saiu um ano e meio volvido, sem ter conseguido cumprir a tarefa para a qual tinha sido contratado, que era abrir a sucursal em Maputo daquela empresa de Recursos Humanos.
Regressou a Trás-os-Montes e apostou na vida académica, começando a dar aulas. Ultimava o doutoramento sobre a relação entre os valores individuais e o burn out (concluiu que individualistas e pessoas com ambição desmedida são os mais atreitos a passarem-se), defendido em Salamanca, onde recebeu a classificação de excelente cum laude, quando lhe surgiram cabeça desenhos fora do vulgar de colarinhos e punhos – e acrescentou a condição de empresário à profissão de professor universitário.
Jorge Fiel
Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias
Curiosidades
Vítor candidatou-se ao mesmo tempo aos Pupilos do Exército e ao Colégio Militar. “Escolhi o Colégio Militar, porque pensei que devia ser melhor, uma vez que não tinha ficado em primeiro nas provas”, explica
Do doutoramento, feito na Universidade de Salamanca queixa-se apenas do preço elevado (154 contos) que pagou pelas cópias e encadernações da tese
A escolha da marca foi simples. Porthus representa Portugal. Krauss é uma piscadela de olho ao mercado alemão, onde espera ter grande sucesso. Além disso. Acha que o r a seguir ao k transmite muita força à palavra
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Canaletto Ristorante
The Venetian Resort Casino
3377 Las Vegas Blvd South, Las Vegas, Nevada
1 água lisa … 7,50 USD
2 risottos com secoe e funghi … 39,98
2 cafés expresso … 5,90
Tax …4,33
Total: 57,71 US dólares