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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

José Augusto Silva

José Augusto Silva, 41 anos, é o director geral e maior accionista da Seara.com, que concebeu e mantém os sites de companhias como a Galp, Sonae, Unicer, Ikea, Rar, Serralves, Auto-Sueco, ou Fidelidade-Mundial.  Antigo médio do Sport Clube Rio Tinto, resume numa frase o que há de comum no dia a dia do desporto e do trabalho: “Em ambos os casos temos de estar muito concentrados para não falhar e fazer sempre o melhor que conseguimos e sabemos. Não podemos nunca desistir ou dar uma lance como perdido”, explica este engenheiro que joga golfe e futebol de praia em Matosinhos,  modalidade onde ganhou a alcunha de panzer    

 

Podia ter sido médico, se não lhe tivessem faltado dois valores na média. Podia ter sido futebolista se não tivesse sido operado a uma hérnia discal, quando era um promissor médio centro do Sport Rio Tinto. Podia ter sido só engenheiro se não tivesse tido a irrequietude de fazer um MBA. Esta é a história resumida de um filho de uma doméstica e de um polícia, que nasceu no Marco de Canaveses dois dias antes de Neil Armstrong alunar e dar o pequeno passo para um homem mas um grande salto para a humanidade.

A infância de Zé Augusto foi ainda mais movimentada do que tem sido a sua vida adulta. Como o pai, após ter feito a tropa em Angola, se candidatou com sucesso um lugar na PSP de Silva Porto, ele ainda bebé atravessou o Equador e deu os primeiros passos em África, onde viveu até que em 1975 o deflagrar da guerra civil obrigou a família Silva a regressar à pressa ao Puto. O ruído constante das ambulâncias e de rajadas de metralhadora é a recordação mais forte que ele guarda destes tempos conturbados.

Regressou em 1975, com seis anos, a tempo de deixar de ser analfabeto na escola primária da Carreira, mesmo ali juntinha ao campo do Sport Clube Rio Tinto. Uma tentação nova, já que em casa, ninguém ligava à bola, o que justifica, na sua opinião, o facto de se ter tornado benfiquista. “Como acontece sempre com os miúdos, inclinei-me para o clube que ganhava mais vezes”, explica Zé Augusto. O seu primeiro ídolo foi Nené, mas recorda também com saudade Mats Magnusson (“era um jogador fabuloso”).

O seu jeito para a bola começou a evidenciar-se nas grandes jogatanas que faziam na Preparatória Ramalho Ortigão, onde foi colega de Cabral (defesa esquerda que após ter feito a formação no FC Porto alinhou como sénior no Marítimo) e alinhava sempre do meio campo para a frente.

Como toda a gente elogiava o seu trato de bola, aos onze anos ambicionou ir às captações do Boavista, mas o pai não o deixou, cortando-lhe cerce ao vasas ao argumentar que, no futuro, ele não iria viver da bola mas sim do que aprendesse nos livros.

O sonho de ser futebolista permaneceu em banho maria, enquanto continuava os estudos, com bom aproveitamento, no ES Cerco do Porto (“Aquilo era dureza a sério”, recorda), e dava nas vistas nos torneios inter-escola.

Até que aos 16 anos, sem dizer nada aos pais, foi com mais dois amigos de infância prestar provas ao Sport Clube de Rio Tinto. A boa notícia foi que ficaram todos. A má é que, como era menor, para ser inscrito na AF do Porto precisava de uma assinatura de um dos pais. Zé Augusto acolheu-se debaixo das saias da mãe, que assumiu essa responsabilidade e o protegeu da ira paterna.

“Ainda arranjei uma discussão lá em casa”, lamenta. Fez apenas uma época como júnior, no Sport Rio Tinto, clube que guardava  uma promessa na sua equipa juvenil (Nelson) e tinha como grande rival o Atlético local, onde brilhava Pedro Barbosa.

Aos domingos de manhã acordava cedo, pois era dia de jogo. Treinava três vezes por semana, à noite, depois dos seniores. A equipa era boa e fizeram uma época razoável. “O nosso grande problema era a deficiente preparação física. No jogo, na Constituição, contra o FC Porto A, onde alinhavam o Baía, Secretário, Domingos, Jorge Couto e Cabral, aguentamos o zero a zero até à meia hora. Depois fomo-nos abaixo das pernas e perdemos 17-1”, recorda Zé Augusto, lembrando de seguida a derrota honrosa , por 5-2, sofrida em casa, contra o FC Porto B.

Uma hérnia discal, diagnosticada na pré-época, atirou-o para a mesa de operações da Ordem da Trindade e obrigou-o a abster-se, durante um ano, de toda a prática desportiva, o que equivaleu a pôr ponto final ao sonho de ser futebolista profissional.

Tinha 21 anos e lembrou-se das palavras proferidas dez anos antes pelo pai, quando o proibiu de ir aos treinos de captação do Boavista. Como era dos estudos e não da bola que iria viver, o melhor que ele tinha mesmo a fazer era agarrar-se aos livros e focar a sua atenção no curso de Engenharia.

Na hora de preencher a candidatura à Universidade, só escreveu dois cursos. Mas não ficou triste por ter falhado a entrada em Medicina. Gostou do curso de Electrotecnia e Telecomunicações, feito na Faculdade de Engenharia do Porto, na rua dos Bragas, enquanto assegurava o dinheiro de bolso, para os copos e sapatilhas, dando explicações de Matemática e Física, em Valongo. O primeiro computador comprou-o quando tinha 19 anos e passou do 2º para o 3º ano. Custou-lhe 365 contos e tinha um mega de RAM e 20 mega de disco.

O tema escolhido para o projecto de fim de curso - Fibra óptica nas redes de acesso de telecomunicações – abriu-lhe as portas do primeiro emprego como engenheiro, no departamento de planeamento e desenvolvimento de redes dos TLP, que viriam a dar origem à PT.

Os TLP proporcionaram-lhe não só uma boa entrada no mercado do trabalho, mas também o regresso ao futebol, na variante de salão, tornando-se rapidamente um dos esteios da equipa da empresa, entre 1993 e 1996.  

A Expo 98 proporcionou-lhe um primeiro salto na sua carreira. Em 1996 concorreu para um lugar de supervisor técnico da empresa autónoma que a PT estava a formar para fornecer serviços durante a exposição, e disse sim quando, a dado passo do concurso, lhe perguntaram se não queria ser comercial. “Foi a decisão mais acertada da minha vida”, garante Zé Augusto que ficou responsável por uma verdadeira salada russa de clientes: países árabes, nórdicos, Benelux, Rússia, Coreia do Sul, Unicer, Swatch e bares da Praça Sony. 

“Foi um período fabuloso. Nunca aprendi, trabalhei e me diverti tanto como durante esse ano e meio”, diz, recordando com saudades esses tempos em que andava sempre a fazer de McGyver, de alicate na mão e a dar cabo.

No final da Expo retornou ao Porto, para gestor comercial sénior da PT. Mas no dia a seguir a ter feito 30 anos, já o vemos na Sonae, o novo player privado que queria aproveitar a liberalização das telecomunicações fixas, onde passou dois anos “de grande pressão, mas muito gratificantes, onde ganhei resiliência”, antes de aceitar ser director comercial da Oni, onde se demorou cinco anos, durante os quais fez o MBA (na Católica)– e ficou com vontade de dar um novo salto e passar a dirigir uma empresa de forma global.

Esta oportunidade foi-lhe proporcionada em 2006, por um convite de Miguel Monteiro para assumir o comando da Seara.com. Apaixonou-se pela indústria web, ao ponto de, no início deste ano, se ter transformado em empresário ao liderar o Management Buy Out desta empresa que factura 1,7 milhões de euros e conta na sua carteira de clientes com a Galp, Sonae, Unicer, Ikea, Serralves, Fidelidade-Mundial, Rar e Auto-Sueco.

Zé Augusto não tem dúvidas em garantir que foi o futebol que lhe deu o arcaboiço necessário para aguentar a dureza e desafios de um percurso profissional sempre a subir, uma vida em que só se deita quando sente que o dever está cumprido: “ Quando é preciso fazer, faz-se. Se é preciso não dormir, não se dorme".

“Como jogador de futebol, tecnicamente era médio mais. As minhas principais qualidades eram ser persistente, nunca desistir ou dar um lance como perdido, e estar sempre a movimentar-me. Corria durante o jogo todo. Não gosto de estar parado”, esclarece o director geral da Seara.com, que há 15 anos joga soccer beach aos domingos de manhã na praia de Matosinhos,  onde ganhou o direito à alcunha de Panzer.

Nas empresas e no desporto, o objectivo é o mesmo: ganhar. E, como nota Zé Augusto, ganhar é o somatório de pequenas vitórias – recuperar uma bola, fintar o adversário, marcar um golo. “Num jogo de equipa, a receita para ganhar é simples: temos de olhar para as pessoas e identificar os pontos fortes de cada uma, para tirar partido deles em benefício de todo”. 

Está afastado dos areais desde que foi operado ao joelho, por causa de uma ruptura do ligamento cruzado anterior, sofrida num jogo de futebol de salão em que alinhava com a camisola verde da Seara.com. Mas garante que o regresso está para breve. “Fui operado precisamente para poder continuar a jogar futebol de praia”, garante este jogador coriáceo.

No blogue que funciona como caderneta de cromos (ou, se preferirem, de livro de curso) do torneio de soccer beach, as suas características são elogiadas nos seguintes termos: “Arrebata a maneira garbosa como se entrega aos despiques na zona central do terreno. Não dá uma bola por perdida, sabe usar o porte atlético, é concentrado e evita cometer infracções”.

Há oito anos, acrescentou ao futebol (variantes salão e praia) o golfe modalidade onde se viciou e tem um handicap de 16,2. “Não é menor porque tenho de trabalhar, pois o handicap é igual ao número de dias úteis que trabalhamos por mês”, diz, na galhofa, não escondendo o orgulho por ter ganho em 2007 ao Taça Skeffington, o mais antigo torneio da modalidade disputado ininterruptamente (joga-se desde 1981) a nível mundial.

“O apaixonante no golfe é que dependemos apenas de nós – e não dos adversários. Lutamos contra nós e contra o campo. O que está em causa é a nossa capacidade de concentração e repetição. No Oporto Golfe já fiz o par em todos os buracos mas nunca o consegui numa só volta. O desafio é esse. A memória e a repetição da excelência”, afirma José Augusto Silva, um empresário que resume numa frase o que há de comum no dia a dia do desporto e do trabalho: “Em ambos os casos temos de estar muito concentrados para não falhar e fazer sempre o melhor que conseguimos e sabemos”.  

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada em O Jogo

6 comentários

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    Amante da mãe do trolho 04.10.2010

    é o teu pai
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    Conservador 04.10.2010

    O teu filho, que escreveu as bacoradas acima, como sempre não dá uma para a caixa.

    Segundo ele os juízes não podem ser adeptos de nenhum clube. Os presidentes de clubes de futebol não podem ter amigos juízes.

    Por essa ordem de ideias o Ministro do Mai, Rui Pereira, sendo sócio do Benfica não podia receber a comitiva do Mafioso mor.

    O tipo deve ter alguma dificuldade com o português. Ouviu as escutas do Pinto da Costa a falar sobre, por exemplo, o Bruno Paixão, que uns anos antes roubou escandalosamente o Porto, e a elogiá-lo, porque até estava a arbitrar bem. Gostava que fosse ele a arbitrar um jogo da taça do Porto. Motivo: queria simplesmente um bom árbitro. Conclusão à Trolho: estava a escolher um árbitro para ser beneficiado.

    Outra conclusão trolhística: nos jogos da taça só o Benfica pode dar opinião sobre árbitros. Se for o Porto, está a comprá-los!
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    portuense 04.10.2010

    Céus! Como é que alguém como este Conservador, vem para aqui emitir opinião?!

    É tão óbvio, o que Trolho escreve sobre os juizes que ocuparam cargos nos orgãos dirigentes do futebol português: os agentes da PJ enviaram para o CSM o relatória sobre as irregularidades cometidas pelos senhores juizes, e não por eles serem adeptos do FCP.
    O ministro Rui Pereira, sócio do Benfica nunca ocupou, que se saiba, cargos na Liga ou na FPF; como tal nunca beneficiou o Benfica. Qual a lógica da incomparável comparação?

    Quanto a Pinto da Costa receber um telefonema de Pinto de Sousa, presidente do CA da Liga, (imaginem só...) a lhe perguntar qual o árbitro que PC queria: é o que as escutas provam.

    Pinto da Costa pediu a Pinto de Sousa o árbitro Bruno Paixão, porque é burro e já esqueceu o jogo de Campo Maior? Vou explicar como se explica a um miúdo de 10 anos: O Benfica tem razões de queixa, de todos os jogos arbitrados pelo trio Calheiros; pelo Martins dos Santos; pelos Costas; pelo Azevedo Duarte; pelo Francisco Silva; pelo Marques da Silva; pelo Teixeira Dória; pelo Guímaro; pelo Fortunato Azevedo, etc... Pinto da Costa e o FCP, tem razão de queixa de Bruno Paixão num jogo há muitos anos em Campo Maior; daí para cá nunca mais tiveram razões de queixa do mesmo árbitro, ao ponto de ser o seu preferido para arbitrar uma meia-final da Taça. Sintomático!

    Depois os outros é que tem dificuldades com o português.

    Rapazes do FCP, que não tenham bagagem para estas andanças, não venham para aqui emitir asneiradas. Pois acabam ridicularizados e humilhados, dando uma péssima imagem da cidade do Porto e das suas gentes, que é o que mais me incomoda; pois do clube, que é o que menos me importa: essa má imagem existe há muito e há muito ultrapassou fronteiras.
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    Conservador 06.10.2010

    Sr. Portuense

    É pelos vistos da minha cidade, infelizmente escolheu o clube errado, lê os jornais errados e não sabe filtrar o que vê ou ouve na televisão. Conheço muitas pessoas com o seu problema.

    Muita presunção da sua parte, não há dúvida. 10 anos poderá ter o sr, de idade mental. Ridicularizado e humilhado por aqui apenas um velho sem juízo que por aqui anda e agora também você se junta à festa. Um parvo nunca anda sózinho.

    Excelente a sua lista de árbitros que apanha uns 20 anos de futebol, ou talvez 50, uma vez que não me lembro do Teixeira Dória.

    Ex.mo presumido. De todos os árbitros que enumerou (10), também eu poderia ter razões de queixa como portista, já vi muitos jogos de futebol. De uma arbitragem como a do Bruno Paixão, nunca eu vi o Benfica sofrer. A sua contabilidade arbitral (literalmente...) deixa muito a desejar, e dá até vontade de rir. No fundo até lhe agradeço o seu comentário, não é todos os dias que aparece um cromo destes para me alegrar o dia!

    P.S: O seu nome é um enxovalho à minha querida cidade.

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    portuense 06.10.2010

    Acabou de confirmar uma das três hipóteses, que pode perfeitamente acumular com as outras duas: o seu principal problema situa-se efectivamente acima dos olhos.
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