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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

António Cunha

Cresceu no meio das flores que os pais cultivavam em Barcelos, sempre fascinado pelas cores, marketing e moda. Cantou as Janeiras para financiar as visitas de estudo, em que percorreu a Europa, enquanto fazia o curso de Engenharia Têxtil em Braga. Ainda deu aulas no Citex, antes de ser contratado pela Orfama para vender malhas fully fashion por esse mundo fora

 

Cresceu no meio das flores

a sonhar ser caixeiro viajante

 

Nome:  António Cunha

Idade: 41 anos  

O que faz: Sales manager da Orfama e coordenador de marca da Dom Colletto

Formação: Licenciatura em Engenharia Têxtil pela Lusíada de Braga, em 1994

Família:  casado com uma comercial do Santander (“ela vende dinheiro, eu vendo camisolas”), de quem tem dois filhos: a Maria Francisca, dois anos, e o António Maria, quatro meses

Casa:  Andar na zona da Constituição (Porto)

Carro:  Peugeot 5008 de sete lugares, ao volante da qual faz 150 km/dia (onde pesam sobretudo as deslocações Porto-Braga-Porto) sempre que está em Portugal - “Todos os três anos troco de carro”

Telemóvel: Blackberry

Portátil:  HP

Hóbis:  Aos fins de semana frequenta o Holmes, que fica mesmo em frente de sua casa. Sempre que tem tempo, gosta de entrar em provas de todo o terreno com o seu velho Range Rover   

Férias: Como passa uma boa parte do ano estrangeiro gosta de fazer as férias em Portugal e de variar sempre de lugar. Este ano, estiveram na Herdade dos Salgados (Albufeira). Em 2009 fizeram praia em Vilamoura     

Regra de ouro: “Sentir que estou a dar o meu melhor no trabalho, para andar de consciência tranquila e chegar à noite e não precisar de tomar Xanax para adormecer ”

 

O sabor da nossa comida é uma das coisas que mais sente falta quando anda pelo estrangeiro, de mala de amostras na mão, a vender as camisolas produzidas na fábrica de Braga da Orfama, que factura 12 milhões de euros/ano a vender malhas fully fashion (ou seja, em uma só peça, sem intervenção de tesoura, sem corte e cose) para uma diversificada carteira de clientes onde avultam marcas como Armani Jeans, Lacoste e Antonio Miró.

António dorme mais de cem noites por ano em hotéis norte-americanos, alemães, argentinos ou italianos, e acumula milhares de horas de voo e de milhas, que apenas consegue gastar em upgrades. Mas não se queixa desta vida de moderno caixeiro viajante. Pelo contrário. Era isto que ele queria. Está sentado na sua cadeira de sonho.

Nasceu em 1969, em Pousa (Barcelos), ou seja na região onde bate o coração da nossa indústria têxtil, mas foi parar aos negócios dos trapos por vontade própria e não por herança ou influência familiar. Os pais, empresários agrícolas,  produziam flores, de rosas a orquídeas, passando por cravos cuja procura cresceu exponencialmente após o 25 de Abril.

Cresceu no meio das flores, evidenciando precocemente talento para o marketing e uma atracção irresistível pelas cores. A mãe tratava das contas. O pai ocupava-se da parte técnica. Ele, logo desde o tenro início da adolescência, encarregava-se de dar palpites sobre como coordenar as flores e jogar com as cores para os arranjos terem um aspecto mais apelativo.

“Desde miúdo que sou fascinado pelas cores e percebi que num mundo globalizado para se ter sucesso é precioso diferenciar o nosso produto”, explica António, que ajudou a evoluir o negócio quando sugeriu ao pai que tingissem as flores na tonalidade mais procurada – os cravos vermelhos, por exemplo.

Após o liceu, feito no Sá de Miranda, em Braga, não teve dúvidas em  inscrever-se em Engenharia Têxtil onde deu nas vistas integrando um grupo activo que organizava simpósios, com peritos internacionais, e viagens de estudo, que realizavam todos os anos nas férias grandes – a primeira foi a Itália, onde visitaram o Centro Cottoniero em Milão.

O financiamento destas viagens tinha duas origens. As empresas e centros visitados arranjavam-lhes alojamento e comida. As despesas da deslocação, feita em duas carrinhas de nove lugares alugadas (“como nos revezávamos  no volante, andamos 24 horas por dia”), eram cobertas  com o encaixe conseguido em Janeiro, quando eles andavam a cantar as Janeiras em casas bracarenses escolhidas a dedo.

O primeiro dinheiro ganhou-o quando passou para o 4ª ano e foi convidado pelo Citex para dar aulas de quatro cadeiras (Introdução à Engenharia Têxtil, Modelagem, Matérias Primas e Controlo de Qualidade), o que fez durante dois anos.

Mal acabou o curso, desatou a enviar currículos para empresas de vestuário, oferecendo os seus serviços de engenheiro têxtil para trabalhar na área comercial. “O que eu queria era ter contacto com a moda e viajar”, explica.

Um dia, estava a passar na rua Quinta de Santa Maria, em Braga, e olhando  para a fábrica da Orfama, pensou para os seus botões: “Ora aqui está uma boa empresa para eu trabalhar” Deixou lá um currículo.  Foi chamado e, após quatro entrevistas, admitido como responsável pelos mercados americano, australiano, alemão e sul africano. Foi há 15 anos e muitos milhares de horas de voo e de noites passadas em hotéis que chegou à sua cadeira de sonho.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

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