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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

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O grito do povo

O Grito do Povo era a marca de uma organização pró-chinesa que no ocaso do marcelismo estava bem implantada no Norte e era dirigida por Pedro Baptista, a quem a democracia não reservaria grande papel - ao invés do que aconteceu com o seu rival de então, Pacheco Pereira, que liderava um pequeno e insignificante grupúsculo da mesma obediência ideológica.

Após o 25 de Abril, o Grito do Povo integrou a UDP, conglomerado maoista que publicava a Voz do Povo (onde debutaram José Manuel Fernandes, ex-director do Público, e Henrique Monteiro, futuro ex-director do Expresso) e viria a juntar os trapinhos no Bloco de Esquerda com os seus velhos inimigos trotskistas.

Apesar de nunca ter navegado politicamente nas turvas águas do maoismo, sempre achei feliz a marca Grito do Povo, pois o grito é a expressão da dor física que sentimos quando o sofrimento moral se torna insuportável.

Por falar em gritos, este Verão tive o privilégio de visitar no Louisiana, um fabuloso museu nos arredores de Copenhaga, uma exposição que cruzava declinações feitas por Warhol de obras de Munch, entre as quais do Grito, o quadro ícone da dor, angústia e desespero.

O choro é sinónimo de resignação conformada. O grito é a lancinante e dramática exteriorização da indignação. A greve geral de ontem deve ser entendida como o grito de revolta de milhões de portugueses, que, fartos dos partidos que nos têm desgovernado, disseram que deve ser o Governo a trabalhar para os cidadãos - e não os cidadãos a alimentarem o Governo.

A Igreja não precisa de gritar, pois tem megafones para o seu porta voz Manuel Morujão nos avisar que “chegamos a esta crise por uma desonesta distribuição da riqueza”. Belém também não precisa de gritar, pois têm à disposição microfones que permitem a Cavaco alertar-nos para o facto de “todos os dias nos depararmos com casos de riqueza imerecida que nos chocam”.

No dia seguir ao grito do povo anónimo, o importante não é contar quantas gargantas gritaram, mas perceber que, infelizmente, para sairmos do buraco em que nos meteram, não podemos continuar a consumir como alemães, ganhar como espanhóis, produzir como marroquinos – e a sermos governados por gente a quem não compraríamos uma carro em segunda mão.

A verdade de sangue é que vai haver menos rendimento para gastar e mais dividas para pagar, menos crédito fácil e barato, menos investimento público, mais desemprego (com menos subsídios) e menos pensões. Para aceitarmos de cabeça levantada estes sacrifícios temos de, em contrapartida, olhar para o Governo e ver gente competente e honesta, justa a distribuir os nossos recursos e que não favoreça enriquecimentos lícitos. Será isso pedir muito?

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

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