Histórias tristes de polícias e ladrões
O meu falecido rádio não valia um chavo. Era uma espécie de eutanásia de auto-rádio. Só sintonizava uma estação (a M80) e mesmo assim cheia de ruídos de fundo. De certeza foi fabricado muito antes do meu Mini Clubman, que saiu da linha de montagem no já longínquo mas feliz ano de 1974.
Foi-me oferecido pelo meu mecânico, a título de brinde por ir lá regularmente mudar o óleo e afinar os travões. Um dia, o António Santos fez-me uma surpresa: «Olhe, senhor Jorge, como não tinha rádio, eu instalei-lhe um. E lhe não levo nada pelo trabalho…».
Estou a marimbar-me para o rádio. A única chatice é que o palerma que o roubou assassinou uma das mais frases mais bonitas que tinha guardado para a minha autobiografia: «Ao longo de toda a vida nunca tive problemas com ladrões - só com polícias».
Apesar deste episódio, ao minhas simpatias vão para os dois jovens de 20 anos que foram apanhados em Lordelo com 60 tampas de saneamento furtadas - e não para os GNR que os detiveram; e para a dupla que roubou 70 pães numa padaria em Marvila – e não para os agentes da PSP que os prenderam depois de terem atingido um deles a tiro.
O meu espírito Robin dos Bosques não me impede, no entanto, de sentir alguma pena dos polícias de Oliveira do Douro que pagam para dormir nas camaratas da esquadra e depois tomam banho frio. E fico chateado ao saber que a PSP de Faro não patrulha as escolas por falta de dinheiro para pagar os seguros dos automóveis, e que a Brigada de Investigação Criminal da PSP de Braga investiga a pé porque tem os quatro carros avariados e não há orçamento para os mandar consertar.
Faz-me impressão que os 120 agentes do Corpo de Intervenção da PSP façam um levantamento de rancho e que as 120 potentes Yahamas encomendadas para a Cimeira da Nato estejam encostadas a um canto, porque ainda não foram pagas.
Faz-me espécie que a direcção nacional da PSP recomende às esquadras que só liguem a televisão à hora do noticiário (para pouparem na electricidade) e gaste 200 euros/dia a manter os quatro blindados que o ministro mandou devolver por não chegarem a tempo da cimeira.
E já não me consigo divertir ao ver o comando da PSP a accionar judicialmente os oficiais da GNR que disseram não valia a pena comprar blindados novos, porque eles tinham disponíveis equipamentos idênticos, testados no Afeganistão.
É por essas e por outras que vou subscrever a petição pública por uma polícia única. Não vivemos tempos para desperdícios. Unir PSP,GNR, SEF e Polícia Marítima numa única polícia nacional evita a duplicação de meios e induz poupanças em dinheiro e disparates.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias