Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Não gosto de trabalhar

O mundo divide-se entre empregados e desempregados, sendo que esta última categoria está a ganhar quota de mercado de uma forma assustadora.

Apesar de tipos bem mais espertos do que eu já terem ganho o Nobel com teses e análises sobre o mercado de trabalho, a verdade é que ele continua muito longe de ser perfeito.

Todos conhecemos desempregados genuinamente empenhados em arranjar trabalho, bem como gente muito bem empregada, cujo emprego é muito mal empregue pois não gosta ou não precisa de trabalhar.

Desde que em 1979 comecei descontar para a Segurança Social como revisor no JN, já fui despedido por quatro vezes, mas consegui sempre evitar o recurso ao subsidio do desemprego – não porque seja um workaholic stakhanovista mas tão só porque precisava de ganhar caroço para pagar a  renda de casa, sustentar a família (os filhos custam um dinheirão!) e ainda ficar com algum para livros, filmes, copos e discos.

Se eu pudesse não trabalhava. O problema é que preciso. Eu até gosto de escrever. Mas há uma enorme distância entre o prazer da escrita e ser obrigado a alimentar páginas em branco. Tal como há um abismo entre o prazer que profissionais e amadores retiram do sexo por profissionais e amadores.

Não quer isto dizer que me considere uma puta da escrita. Nada no mundo é a preto e branco. Há uma infinidade de tonalidades de cinzento. Que atire a primeira pedra quem nunca deu uma queca, apesar de não lhe estar a apetecer muito, só para fazer a vontade à/ao parceiro/a.

Num mundo ideal, os empregados que não gostam ou não precisam de trabalhar dariam a vaga aos desempregados que querem trabalhar. O problema é que o mundo está muito longe de ser perfeito. Num mundo perfeito o Taguspark não pagaria 350 mil euros ao Figo por quatro horas de filmagens, mais do que a maioria dos portugueses ganha ao cabo de uma vida de trabalho.

Num mundo perfeito, os donos dos cafés não pagariam uma taxa de IRC superior à da banca, nem o bastonário dos advogados viria a público acusar juízes e procuradores do Ministério Público de pré-combinarem sentenças, transformando os julgamentos em medíocres peças de teatro.

Como o mundo está muito longe de ser perfeito e o desemprego entre os licenciados duplicou na última década (de 83 mil, em 2000, para 190 mil, em 2010) não posso deixar de simpatizar com o grupo 100 000 mil na Avenida da Liberdade contra a Classe Política Corrupta, apesar de me entupirem a caixa de correio e de serem um albergue espanhol que acolhe desde gente que quer transformar num novo D. Sebastião um tipo que criava galinhas em S. Bento, até quem ache que o Michael Jackson foi assassinado pelos Illuminati, passando pelos responsabilizam a Maçonaria pelos males que afligem o mundo.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

35 comentários

Comentar post

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2012
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2011
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2010
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2009
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2008
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2007
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub